Descrição de chapéu Estados Unidos

Ex-senador do Haiti pega prisão perpétua nos EUA por morte de presidente

Assassinato de Jovenel Moïse em 2021 aprofundou crise humanitária que assola nação caribenha; caso ainda é nebuloso

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São Paulo

A Justiça dos Estados Unidos condenou à prisão perpétua o ex-senador do Haiti John Joël Joseph, 52, por envolvimento no assassinato do ex-presidente Jovenel Moïse, morto em sua casa em Porto Príncipe, em julho de 2021. A sentença foi proferida nesta terça-feira (19).

Artistas locais fazem murais em tributo a Jovenel Moïse, presidente assassinado no Haiti, em Porto Príncipe
Artistas locais fazem murais em tributo a Jovenel Moïse, presidente assassinado no Haiti, em Porto Príncipe - Valerie Baeriswyl - 22.jul.21/AFP

A morte do "homem banana", como era conhecido o líder por sua atuação na plantação da fruta, ampliou a crise humanitária no país caribenho, hoje mergulhado na asfixia econômica e política.

Como o Judiciário e a Polícia Nacional haitianos eram considerados incapazes de processar as investigações do caso, a Justiça de Miami absorveu parte do processo, já que alguns dos envolvidos no crime estavam baseados na Flórida durante seu planejamento.

Joël John compareceu a um tribunal federal durante a manhã desta terça-feira, dois meses após ter se declarado culpado por ajudar os mercenários colombianos que cometeram o crime a conseguirem carros e outros recursos, além de ter se reunido com os conspiradores.

Falando em francês, ele alegou desta vez que não queria matar Moïse, mas sim fazer com que ele fosse cobrado pela Justiça pelo que considerava uma má gestão no comando da nação. Ele pediu que o juiz do caso, Jose Martínez, tivesse "piedade" e pediu perdão ao povo haitiano pelo que chamou de "um crime odioso que jamais deveria ter ocorrido".

John é o terceiro condenado nos EUA pelo assassinato de Moïse, um episódio no qual também ficou ferida a primeira-dama, que recebeu atendimento médico na Flórida e sobreviveu. Antes dele, o empresário haitiano-chileno Rodolphe Jaar e um oficial reformado do Exército da Colômbia, Germpan Rivera, também receberam sentenças perpétuas.

Desde de que reivindicou jurisdição sobre o caso, a Justiça americana prendeu e apresentou denúncias contra 11 pessoas. O principal interesse americano em desvendar os mandantes intelectuais por trás do crime está em retomar ritos democráticos na política haitiana e retirar o país da crise que gera expressivo fluxo migratório que tem como destino principal os EUA por rotas, em sua maioria, perigosas.

Os detalhes do crime ainda são nebulosos, mas a Promotoria dos EUA afirma que dois diretores de uma empresa de segurança de Miami teriam planejado sequestrar Moïse e substituí-lo por Christian Sanon, um cidadão haitiano-americano na Presidência. Ao final, o objetivo do venezuelano Antonio Intriago e do colombiano Ancángel Pretel Ortiz seria o de conseguir firmar contratos lucrativos com um futuro governo liderado por Sanon. Ao não conseguirem sequestrá-lo, os mandantes teriam decidido, então, assassinar o presidente.

Paralelamente às investigações que correm nos EUA, o Haiti deteve até aqui 17 pessoas pelo assassinato, ainda que nenhuma delas tenha sido acusada formalmente. Com prisões superlotadas, o país que divide a ilha de Hispaniola com a República Dominicana tem um conhecido histórico de manter pessoas detidas sob custódia por anos.

Desde a morte de Moïse, há uma espécie de vácuo na liderança do país. Quem assumiu o poder foi Ariel Henry, hoje premiê. Seu nome havia sido indicado pelo presidente para o posto, mas Moïse foi morto antes de ele ser empossado no cargo. Entre a população, Henry goza de baixa popularidade, e há forte pressão —nacional e internacional— para que sejam realizadas eleições, o que não ocorre desde 2016.

Autoridades do país, chanceladas por observadores da ONU, porém, argumentam que, antes de levar a população às urnas, é preciso estancar a galopante crise de segurança, com 80% do território de Porto Príncipe dominado por gangues armadas urbanas.

Para isso, a esperança era contar com o apoio de uma missão externa aprovada em outubro pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e liderada pelo Quênia para dar suporte à Polícia Nacional Haitiana.

A Justiça do país africano, no entanto, tem bloqueado o envio de seus policiais, e deverá retomar o caso apenas no final de janeiro, o que atrasou consideravelmente a atuação da missão.

Enquanto isso, a crise humanitária se arrasta. Recente relatório do escritório local da ONU informou que a atuação das gangues, outrora concentrada no espaço urbano, agora também se espraia para as áreas rurais do Haiti, ameaçando ainda mais a população civil, que também sofre com o desemprego e a fome.

Na última semana, os Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das únicas organizações internacionais que ainda atuam in loco no país, informou que teve de fechar por tempo indeterminado mais um de seus Centros de Emergência, este em Turgeau, um bairro da capital Porto Príncipe, após um grupo de homens armados parar uma ambulância do espaço, levar um paciente à força e matá-lo.

Com AFP

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