Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Maior ataque aéreo da Rússia em mais de 1 ano na Ucrânia mata quase 40

Kiev fala em mais de 150 armamentos usados, entre mísseis e drones; várias cidades foram atingidas, de oeste a leste

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São Paulo

A Rússia desencadeou seu maior ataque aéreo na Ucrânia em mais de um ano nesta sexta-feira (29), matando 39 pessoas e ferindo quase 160. Os números, iniciamente anunciados pelo Ministério do Interior, foram atualizados neste sábado (30) pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, nas redes sociais.

De acordo com a Força Aérea local, foram identificados 158 armamentos utilizados, dos quais 114 teriam sido abatidos. Moscou, por sua vez, afirmou por meio de seu Ministério da Defesa que havia "alcançado todos os seus objetivos".

Professora em sala de aula destruída após ataque aéreo russo em Lviv, cidade próxima da fronteira com a Polônia no oeste da Ucrânia
Professora em sala de aula destruída após ataque aéreo russo em Lviv, cidade próxima da fronteira com a Polônia no oeste da Ucrânia - Yuriy Dyachyshyn - 29.dez.2023/AFP

Dados do Ministério da Defesa ucraniano compilados pelo pesquisador Fabian Hoffmann, do Departamento de Ciência Política da Universidade de Oslo (Noruega), indicam que em apenas duas ocasiões entre outubro de 2022 e setembro deste ano os registros ultrapassaram cem armamentos de longo alcance usados na ofensiva russa. O pesquisador reforçou na ocasião que as cifras poderiam ser ainda superiores àquelas documentados.

Kiev relata que o ataque russo começou de madrugada com 36 drones kamikaze Shahed-136, de fabricação iraniana, vindos do norte e do sudeste —27 deles teriam sido destruídos.

Em seguida, entre 3h e 6h da manhã no horário local (22h de quinta e 1h de sexta, no horário de Brasília), 18 bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-95 foram empregados para lançar ao menos 90 mísseis de cruzeiro das famílias Kh-101, Kh-55 e Kh-555, uma versão atualizada do anterior, subsônicos e de fabricação soviética. Desses, 87 teriam sido abatidos.

A região de Kharkiv (leste) foi atingida por ao menos 14 mísseis de cruzeiro lançados da Crimeia e das regiões russas de Kursk e Belgorod. Os militares ucranianos afirmam ainda que Moscou empregou cinco jatos MiG-31, que atingiram alvos com cinco mísseis hipersônicos Kinjal, e mais cinco mísseis usados por aeronaves Su-35.

Pelas contas de projéteis identificados e abatidos pelos militares ucranianos, 9 drones, além dos 14 mísseis de cruzeiro, os 5 hipersônicos Kinjal e os 5 utilizados pelos jatos Su-35 atingiram os alvos em terra.

Ao menos 159 ficaram feridas, e houve danos a uma maternidade na cidade de Dnipro e a prédios residenciais em Lviv (oeste), próxima à fronteira com a Polônia, assim como a construções no porto de Odessa (sul) e na cidade de Kharkiv (nordeste). As regiões de Donetsk e de Zaporíjia, ambas no leste —a última, lar da maior usina nuclear do mundo—, também foram atingidas.

Foram confirmadas sete mortes em Kiev, com pessoas presas sob os escombros de um depósito destruído por destroços, disse o prefeito Vitali Klitschko no aplicativo de mensagens Telegram —oito já foram resgatadas. O Ministério do Interior afirmou que 24 indivíduos ficaram feridos na capital.

Mariia, residente de Kiev, disse à agência Reuters que foi acordada em casa por um "som horrível" e se abrigou em seu banheiro. "Foi tão assustador. Um míssil voou e tudo estava zumbindo. Eu não sabia o que fazer, queria correr para o abrigo", disse ela. "Quando entrei no banheiro, o espelho voou da parede."

Enquanto isso, quatro pessoas morreram na cidade portuária de Odessa, no mar Negro, e mais de uma dezena ficaram feridas, incluindo duas crianças, quando mísseis atingiram prédios residenciais, disse o governador regional.

"Podemos dizer que este foi um ataque maciço", disse Yurii Ihnat, porta-voz da Força Aérea, na televisão.

A Ucrânia vem alertando há semanas que a Rússia pode estar acumulando mísseis para lançar uma grande campanha aérea visando o sistema de energia do país. No ano passado, milhões de pessoas ficaram no escuro quando ataques russos atingiram a rede elétrica.

O Ministério da Energia relatou cortes no fornecimento em quatro áreas após o ataque. Na região de Lviv foram confirmados impactos em uma instalação de infraestrutura crítica, disse o escritório do presidente, sem especificar qual.

Zelenski lamentou mortos e feridos pelo ataque e afirmou em seu perfil no Telegram que "certamente responderemos". Ainda na sexta-feira, ele publicou um vídeo de sua visita a tropas na frente de batalha em Avdiivk, cidade estratégica para que Moscou expanda seu domínio territorial em Donetsk, anexada ilegalmente por Vladimir Putin.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia afirmou que o ataque aéreo mostrou que não deve haver "nenhuma conversa sobre uma trégua" com o Kremlin em um momento em que há incerteza sobre o futuro do apoio financeiro e militar do Ocidente a Kiev.

"Hoje, milhões de ucranianos acordaram com o som alto de explosões. Eu gostaria que esses sons de explosões na Ucrânia pudessem ser ouvidos em todo o mundo", disse o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, instando aliados a continuarem a fornecer ajuda militar de longo prazo ao seu país.

Na quarta-feira (27), os Estados Unidos anunciaram a liberação de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) em ajuda militar para a Ucrânia. Trata-se do último pacote de apoio disponível sem necessidade da aprovação do Congresso americano, onde deputados e senadores republicanos lideram iniciativas para barrar novos auxílios caso o governo democrata não concorde com medidas domésticas para conter a migração na fronteira com o México.

Nesta sexta, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o ataque russo na Ucrânia é "um lembrete contundente para o mundo de que, após quase dois anos de guerra devastadora, o objetivo de Putin permanece inalterado".

Com AFP e Reuters

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