Descrição de chapéu Argentina América Latina

Milhares protestam contra 'megadecreto' de Milei para desregular economia

Pacote anunciado por presidente vai modificar ou revogar mais de 300 leis que regulam diversas atividades na Argentina

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires | AFP

Milhares de pessoas participaram de um protesto em Buenos Aires, capital da Argentina, nesta quarta-feira (27) contra o "megadecreto" anunciado pelo presidente do país, Javier Milei. Além de membros da oposição, estavam presentes entidades sindicais, entre elas a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) e a Confederação Geral do Trabalho da República Argentina (CGT).

Com gritos de "a pátria não se vende" e empunhando bandeiras argentinas, os manifestantes apoiaram uma petição encabeçada pelas centrais sindicais, que foi entregue à Justiça contra o "megadecreto" que vai modificar ou revogar mais de 300 leis no país e deve entrar em vigor nesta sexta-feira (29).

Multidão de pessoas, muitas vestidas de azul e branco, se aglomeram em frente a Palácio da Justiça na Argentina
Vista aérea do protesto contra o presidente Javier Milei em frente ao Palácio da Justiça, em Buenos Aires - Luis Robayo/AFP

"Não questionamos a legitimidade do presidente Milei, mas esperamos que ele respeite a divisão dos poderes. Os trabalhadores têm o direito de defender seus direitos diante de ações inconstitucionais", disse Gerardo Martínez, secretário-geral da União dos Trabalhadores da Construção da República Argentina, um dos líderes da manifestação que começou em frente ao Palácio da Justiça, em Buenos Aires.

O presidente argentino afirmou nesta terça que vai convocar um plebiscito, caso o Congresso rejeite o megadecreto. A iniciativa seria uma forma de confrontar opositores diante da resistência que Milei tem encarado, de sinais contrários vindo do Congresso aos protestos de rua e uma ação que questiona a legalidade da medida.

Segundo o jornal Clarín, a relação entre manifestantes e a polícia foi marcada por tensão, incluindo a detenção de pessoas que tentavam fechar faixas de trânsito nas ruas. O governo de Milei afirmou que seriam empregadas "todas as medidas" contra interrupção do fluxo nas ruas. Um protocolo de segurança anunciado anteriormente por Milei autoriza o uso de forças federais contra quem bloquear vias e impedir a livre circulação com protestos não autorizados pelo governo na Argentina.

Em uma mensagem na plataforma X, antigo Twitter, a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) dizia: "Abaixo as DNU [Decreto de Necessidade e Urgência]. Nenhum ajuste a mais. Nenhum direito a menos".

Milei anunciou, na noite de quarta-feira (20) e em rede nacional, a assinatura de um DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) que modificará ou revogará mais de 300 leis que regulam uma ampla variedade de atividades econômicas no país.

O primeiro artigo do documento declara emergência pública "em matéria econômica, financeira, fiscal, administrativa, previdenciária, tarifária, sanitária e social" por dois anos, até 31 de dezembro de 2025.

No documento, o presidente argentino argumentou que "existem numerosos precedentes na história argentina que respaldam a utilização deste tipo de decretos em casos de aguda emergência pública e de crises como a atual".

Manifestantes protestam em Buenos Aires contra decreto de Javier Milei
Manifestantes protestam em Buenos Aires contra decreto de Javier Milei - Agustin Marcarian/Reuters

Entre os pontos polêmicos está a alteração do regime trabalhista, tornando a demissão mais fácil, reduzindo a base remuneratória em caso de desligamento e alargando o período experimental dos trabalhadores de três para oito meses.

As privatizações também estão no centro dos holofotes com o decreto. Com ele, Milei transformou todas as empresas estatais em sociedades anônimas, o que permitiria a privatização, e mudou as regras do controle acionário da companhia Aerolíneas Argentinas, a qual já disse que quer "entregar aos funcionários".

Além disso, o presidente argentino revogou a lei de aluguéis, das gôndolas, de abastecimento e de promoção industrial (que beneficia várias províncias). Ele citou ainda modificações no sistema de saúde e no Código Civil e Comercial durante o anúncio do pacote.

No último sábado (23), a Justiça do Foro Contencioso e Administrativo da Argentina admitiu ação proposta pelo ex-diretor do Banco Nacional, Claudio Lozano, e por representantes do Observatório do Direito à Cidade que solicitaram que o "decretaço" de Milei seja declarado inconstitucional. As informações foram publicadas pelos diários argentinos Clarín e La Nación.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.