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Morre Juanita Castro, irmã de Fidel e Raúl que colaborou com a CIA

Cubana viveu exilada em Miami desde a década de 1960 e foi apresentada a agente americano por embaixatriz brasileira

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São Paulo

Juanita Castro, irmã mais nova dos ex-líderes cubanos Fidel e Raúl, aos quais se opôs por décadas, morreu nesta segunda-feira (4), aos 90 anos, em Miami, onde vivia desde a década de 1960. A informação é de uma jornalista próxima à família.

"Esta é uma notícia que nunca quis dar, mas que, como sua porta-voz nas últimas três décadas de sua vida, tenho de comunicar", escreveu a jornalista mexicana Maria Antonieta Collins, que ajudou a escrever as memórias da cubana. "Hoje Juanita Castro nos deixou, uma mulher excepcional, lutadora incansável pela causa de sua Cuba que tanto amava."

Juanita Castro, irmã do ex-líder cubano Fidel Castro em sua casa, em Miami - Scott McIntyre - 28.nov.2016/The New York Times

Juanita deixou a ilha caribenha em 1964, cinco anos depois do triunfo da Revolução Cubana, ao divergir dos rumos do levante e romper com seus irmãos, Fidel, que morreu em Havana em 2016, e Raúl, que deixou o comando do Partido Comunista de Cuba em 2021.

Após sair da ilha, ela se exilou em Miami, onde abriu uma farmácia. Juanita criticava publicamente a atuação de seus irmãos e colaborou até mesmo com a CIA (agência de inteligência americana) sob o pseudônimo "Donna", conforme ela mesma confessou em 2009 em suas memórias, intituladas "Fidel e Raúl, Meus Irmãos - A História Secreta".

No livro, Juanita diz que, no início, apoiou a revolução, mas depois se desiludiu com as atitudes tomadas pelo irmão no poder. "Tive remorsos por trair Fidel ao aceitar reunir-me com o inimigo? Não, por uma simples razão: eu não o traí. Ele me traiu. Ele traiu os milhares que sofremos e lutamos pela revolução que nos oferecia, a que era generosa e justa e traria paz e democracia para Cuba e que, como ele prometeu, seria tão cubana quanto as palmeiras", escreveu ela.

Juanita foi apresentada a um agente da CIA em 1961, logo após a invasão da Baía dos Porcos —tentativa frustrada de invadir o sul de Cuba por forças de exilados cubanos com o apoio dos EUA. A ponte entre ela e o americano foi Virgínia Leitão da Cunha, mulher do embaixador do Brasil em Cuba na época, Vasco Leitão da Cunha.

À época, Juanita havia alugado uma casa na qual hospedava pessoas interessadas em sair do país, providenciava seus passaportes e evitava que os pertences dos viajantes fossem confiscados. As duas combinaram um encontro no México com um representante da CIA, que se apresentou como Enrique —seu nome verdadeiro era Tony Sforza. Sob o pseudônimo de Frank Stevens, ele já tinha vivido infiltrado em Cuba, onde se passava por um jogador de cassinos.

Ela relata que a única condição imposta para ajudar era não se envolver em atividades violentas contra seus irmãos ou funcionários do regime. Como resposta, ouviu que suas missões envolviam só proteger e mover os agentes em segurança. Na época, a CIA tinha planos de matar Fidel.

A partir do encontro, Juanita começou a enviar informações para a agência por meio de um rádio de ondas curtas. Com o codinome de Donna, levava mensagens, documentos e repassava informações. No livro, a cubana relata que, no meio de uma missão, seu carro quebrou na estrada e ela foi ajudada pelo próprio Fidel, que passava pelo caminho em uma comitiva.

Entre as informações que a irmã de Fidel disse ter passado aos EUA está a da instalação de mísseis soviéticos na ilha —em 1962, a crise dos mísseis em Cuba explodiu e virou um dos momentos de maior tensão da Guerra Fria.

Virgínia e Juanita haviam se conhecido em 1958, quando a cubana se refugiou por três meses na Embaixada do Brasil em Havana, durante o regime do ditador Fulgencio Batista (1933-1959). Na época, ela colaborava com o posteriormente vitorioso Movimento Revolucionário 26 de Julho.

Seu duplo papel de irmã dos líderes de Cuba e membro do exílio na Flórida foi algo como o qual ela teve dificuldade de lidar, como ela contou no livro.

"Sem dúvida, sofri mais do que o resto do exílio porque em nenhum lugar do estreito da Flórida me dão trégua, e poucos são os que compreendem o paradoxo da minha vida", escreveu. "Para os de Cuba, sou uma desertora porque saí e denunciei o regime estabelecido. Para muitos em Miami, sou 'persona non grata' por ser a irmã de Fidel e Raúl."

De acordo com a emissora americana Univisión, Juanita Castro morreu de causas naturais em um hospital de Miami. "Sua irmã, Enma, e sua família estendida pedem privacidade neste momento tão doloroso. Não haverá entrevistas e, de acordo com sua vontade, seu funeral será privado", escreveu Collins em sua publicação no Instagram.

Com AFP

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