Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Palestina deslocada por guerra Israel-Hamas dá à luz quadrigêmeos em Gaza

Iman al-Masry, 29, não visita recém-nascido internado em hospital por razões de segurança

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Mai Yaghi
Deir al-Balah | AFP

Iman al-Masry, 29, está esgotada. Ao seu lado, sobre um colchão velho, estão três dos quadrigêmeos que ela pariu em plena guerra entre Hamas e Israel, depois de uma difícil viagem do norte para o centro da Faixa de Gaza.

A mãe e seus recém-nascidos —Yaser, Tia e Lynn— estão abrigados na sala de uma escola de Deir al-Balah com outras 50 famílias. Seu quarto filho, Mohammad, está em observação em um hospital de Nuseirat, 7 km ao norte.

Soldados israelenses vigiam área na Faixa de Gaza em meio a enfrentamentos entre seu Exército e a facção terrorista Hamas - Exército de Israel/via AFP

Assim como outros 1,9 milhão de deslocados de Gaza, segundo dados da ONU, Iman teve que fugir dos combates entre o Exército israelense e a facção terrorista islâmica Hamas, que controla o território. Ela precisou abandonar às pressas sua casa em Beit Hanun, no norte, no quinto dia da guerra iniciada em 7 de outubro.

"Trouxe apenas umas peças de verão para as crianças. Pensei que a guerra não duraria mais que uma semana, ou duas, e que voltaríamos para casa", diz.

Cansaço

Grávida de seis meses, percorreu com outros três filhos pequenos os 5 km que separam sua casa do campo de refugiados de Jabalia, onde encontrou um meio de transporte para seguir até Deir al-Balah.

"A distância me cansou e afetou a gravidez. Fui ao médico e ele me disse que eu apresentava sinais de que teria um parto prematuro", conta.

Quando ela tinha oito meses de gestação, os médicos decidiram fazer uma cesárea. Seus quadrigêmeos nasceram em 18 de dezembro, em meio a uma guerra que, de acordo com as autoridades, já deixou cerca de 1.140 mortos do lado israelense e mais de 21 mil do lado palestino, além de uma situação humanitária desesperadora.

No tumulto da guerra, Iman não teve tempo para se recuperar. Devido à falta de leitos, teve de sair do hospital e deixar seu filho Mohammad, que precisa de acompanhamento médico, lá dentro. "O estado de saúde do quarto bebê é instável. Pesa apenas um quilo, pode não sobreviver", explica a palestina. "Os outros três bebês nasceram saudáveis, louvado seja Deus."

Escassez de fraldas

Iman não visitou Mohammad desde o nascimento do bebê. Ela diz estar preocupada com ele, mas o caminho para visitá-lo é perigoso demais, explica. Para acompanhá-lo, conta com a ajuda de um amigo de seu marido que vive em Nuseirat.

As carências alimentares não permitem que a mãe amamente os filhos recém-nascidos. Os produtos de higiene também são escassos. "Utilizo fraldas com moderação. Em tempos normais, trocaria-as a cada duas horas, mas a situação é difícil, assim troco só de manhã e à tarde", diz Iman.

A festa prevista para celebrar o nascimento de seus bebês também foi suspensa pelo conflito. Tinha planejado borrifar água de rosas nas crianças, "seguindo nosso costume". Mas, desde que nasceram, há dez dias, "não conseguimos dar banho neles", lamenta a palestina.

Ante as dificuldades de sua família, seu marido, Ammar al-Masry, 33, afirma que não sabe bem o que fazer.

"Me sinto impotente", diz ele, instalado com seus seus filhos em uma sala de aula que cheira mal. "Temo pela vida de meus filhos e não sei como protegê-los."

Sua filha prematura, Tia, tem icterícia. "Necessita ser amamentada para amenizar a doença, e minha mulher precisa se alimentar com proteínas. Mas não posso dar [isso a elas]. Meus filhos precisam de leite e fraldas", enumera.

Ammar passa os dias tentando encontrar "qualquer coisa" para alimentar sua família e evita olhar nos olhos dos filhos para não "se sentir culpado".

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