Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Somos alvo de uma guerra psicológica, dizem familiares de reféns do Hamas no Brasil

Comitiva de parentes visita São Paulo, diz esperar 'por um milagre' e critica atuação da Cruz Vermelha neste conflito

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São Paulo

É Hanukkah, o "festival das luzes" judaico. E, para muitos judeus, como os familiares daqueles que ainda são feitos reféns do Hamas em Gaza, a espera é por um milagre, disseram alguns desses parentes que nesta terça-feira (12) estiveram em São Paulo.

"Sofremos uma guerra psicológica", afirmou no Clube Hebraica Maurice Schneider, peruano-israelense radicado em Nova York que é tio-avô dos pequenos Bibas, os meninos de 4 anos e 10 meses sequestrados ao lado dos pais em um kibutz em 7 de outubro. "Há um lado que sofre e outro [o Hamas] que desfruta do nosso sofrimento."

Maurice Schneider, tio dos Bibas, segura imagens dos familiares sequestrados pelo Hamas durante entrevista coletiva no Clube Hebraica, na capital paulista
Maurice Schneider, tio dos Bibas, segura imagens dos familiares sequestrados pelo Hamas durante entrevista coletiva no Clube Hebraica, na capital paulista - Danilo Verpa/Folhapress

Maurice perdeu a irmã e o cunhado assassinados em 7 de outubro. A história de seus sobrinhos, o menino Ariel e o bebê Kfir, tem comovido Israel. O Hamas afirmou que as crianças morreram em um ataque a Gaza. Tel Aviv não confirma, e a família tampouco acredita.

"Os ruivinhos" ou "the reds", como têm sido chamados ao redor do mundo pela cor de seus cabelos, são homenageados nesse Hanukkah, o feriado de oito dias no qual uma vela é acesa em cada um. Em alguns lares judaicos, as velas são laranjas, em solidariedade.

Os pequenos Bibas, que também têm nacionalidade argentina, têm na família um pé no Brasil: um de seus tios, Jimmy Muller, é filho de um brasileiro. Ele chegou a gravar um vídeo em Tel Aviv, em português, pedindo ajuda do governo brasileiro para libertar os sobrinhos.

"Tenho filhos, sobrinhos e netos, mas digo sem a menor dúvida: Ariel é a criança mais fofa, mais doce que já conheci", diz o peruano Maurice, que não pôde conhecer o bebê Kfir, à reportagem.

"Hoje posso dizer, infelizmente, que venho de uma família de quatro gerações perseguidas. Minha mãe foi levada a um campo de concentração. Minha irmã, morta pelo Hamas por ser judia. Minha sobrinha, Shiri [mãe dos meninos] e meus sobrinhos, sequestrados."

A comitiva de parentes dos reféns chegou a São Paulo após passar também por Argentina, Uruguai e Brasília. Na capital, Mary Shohat e Hen Mahluf, irmã e uma das filhas do brasileiro Michel Nisenbaum, natural de Niterói, estiveram com o presidente Lula (PT). Desaparecido desde 7 de outubro, acredita-se que ele seja mais um dos reféns.

"Michel faz muita falta. Ele ajuda todo mundo, principalmente a mim, quando preciso de ajuda com nossa mãe de 87 anos. Ela está vivendo o verdadeiro terror. Voltou a ser uma menina de 3 anos. Quando saio de perto dela, começa a gritar: 'Já me levaram um filho, não posso deixar que levem minha menina também'", relatou Mary, que é brasileira e fez a aliá (retorno a Israel) na adolescência com Michel.

A filha, Hen, diz estar vivendo um "verdadeiro pesadelo". "É como se todo o nosso corpo doesse. Somos fortes, estamos sendo fortes, mas em uma hora essa força também acaba. Tragam eles de volta."

Michel teria sido sequestrado quando estava no sul de casa para buscar uma de suas netas, sobrinha de Hen, que estava na casa do pai, militar que mora no sul. O soldado, ao notar a invasão dos terroristas, escondeu a menina na parte de baixo de uma mesa, a cobriu com vestimentas militares e deu a ela uma arminha de água, de brinquedo, para distraí-la, descreveu Hen. A menina e o pai estão bem.

Questionada, Mary afirmou que Lula as recebeu "muito bem". "Ele disse que já havia falado com o emir do Qatar sobre os sequestrados e que faria o que pudesse para saber o que estava acontecendo lá."

A uma pergunta da Folha sobre como avaliavam a resposta da comunidade internacional à guerra, os familiares mostraram-se reticente em responder ou não.

Guefen Sigal pediu o microfone e brevemente falou por todos: "Exigimos que todo o mundo faça mais do que tem feito até agora. Há sequestrados de várias nacionalidades. Pedimos que façam o máximo possível."

Sigal teve quase toda a família sequestrada. A mãe, a prima e uma tia foram libertadas após 53 dias mantidas em Gaza durante os acordos de cessar-fogo. Seu padrasto de 70 anos segue refém, e a família teme por sua saúde, já que acredita que ele esteja sem acesso a seus remédios.

"Grande parte da minha vida, de quem eu sou, está em Gaza", diz ela. "Queremos que eles voltem antes do Natal. Estamos no Hanukkah, é uma época de milhares. Queremos o nosso milagre."

Os familiares também foram perguntados sobre como tem sido a comunicação com o governo de Binyamin Netanyahu, mas a organização do evento, capitaneada pelo Fórum de Famílias Sequestradas e Desaparecidas em parceria com a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a Fisesp (Federação Israelita de São Paulo) pediu que não respondessem alegando que o objetivo do evento "não era colocá-los em potenciais situações complicadas".

Houve críticas notadamente à atuação da Cruz Vermelha, que atua no conflito e foi a responsável por receber os reféns até aqui libertados do Hamas e encaminhá-los até Israel. Maurice, tio dos pequenos Bibas, disse que, para eles, a organização internacional "não tem feito nada". "A Cruz Vermelha, como organização neutra, tem obrigação de sentar com os dois lados do conflito. Mas tem falado com apenas um."

Ricardo Berkiensztat, presidente -executivo da Fisesp, fez coro. "O que pedimos é que a Cruz Vermelha faça o que fez em todas as guerras: tenha acesso aos reféns e veja se estão bens. Mas a Cruz Vermelha, os movimentos feministas e organizações internacionais esqueceram os judeus. Cobramos todas elas, e as respostas sempre foram sair pela tangente. Dois pesos e duas medidas, sempre."

"A ONU também está refratária em relação a essa guerra. O secretário-geral [António Guterres] tem dado declarações estapafúrdias", seguiu ele. Tel Aviv já pediu o afastamento do português do cargo.

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