Descrição de chapéu China

Após eleger presidente anti-China, Taiwan perde país aliado para Pequim

Nauru, ilha do Pacífico, rompe relações diplomáticas em nome do princípio de 'uma só China'; Taipé aponta 'retaliação'

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Taipé

Dois dias depois de eleger um presidente que rejeita a reunificação com a China, Taiwan perdeu para o continente um dos poucos países com os quais ainda mantinha relações diplomáticas, a República de Nauru.

A pequena ilha do Pacífico já havia reconhecido Pequim em lugar de Taipé por três anos no início deste século. Voltou a fazê-lo nesta segunda-feira (15). Em nota, seu governo anunciou que, "no melhor interesse da República", adotaria o princípio de "uma só China", segundo o qual Taiwan é parte inalienável do território chinês.

O texto afirma ainda que a decisão "está em linha com a resolução 2.758 da ONU, que reconhece a República Popular da China como único governo legal que representa toda a China".

O vice-ministro taiwanês do Exterior, Tien Chung-kwang, durante entrevista coletiva em Taipé, em 15 de3 janeiro de 2024 - AFP

A maioria das nações, inclusive Brasil e Estados Unidos, optou pela mudança nas últimas décadas do século 20. Desde 2000, outros 20 pequenos países, Nauru incluída, cortaram as relações com Taiwan, cuja autonomia hoje só é reconhecida por 12 Estados, entre eles os latino-americanos Paraguai e Guatemala.

O governo de Taipé foi surpreendido. O chanceler taiwanês, Joseph Wu, estava na capital guatemalteca para a posse do novo presidente daquele país, Bernardo Arévalo, no momento do anúncio da troca.

O vice-chanceler, Tien Chung-kwang, afirmou que "Nauru sucumbiu aos incentivos" que teria recebido. "As autoridades de Pequim optaram por usar esse método para suprimir Taiwan, minando a estabilidade da comunidade internacional", disse ele a jornalistas. "Isso é não apenas uma retaliação contra os valores democráticos, mas um desafio à ordem internacional."

Em nota, a diplomacia taiwanesa acrescentou que Nauru "adotou narrativas falsas decorrentes de uma interpretação errônea da resolução 2.758" e expressou "grande decepção e pesar" diante da ruptura de laços.

Em Pequim, a porta-voz da diplomacia chinesa Mao Ning afirmou que a ilha no Pacífico fez sua decisão "como país soberano". Acrescentou que "não existe mais do que uma China no mundo, Taiwan é parte inalienável do território da China".

Também nesta segunda, em Taipé, o presidente eleito, Lai Ching-te, encontrou-se reservadamente com dois enviados do governo dos EUA: o ex-assessor de Segurança Nacional Stephen Hadley, republicano, e o ex-vice-secretário de Estado James Steinberg, democrata.

Pouco antes, os americanos tinham se reunido com a atual presidente, Tsai Ing-wen. Segundo nota da Presidência taiwanesa, a dupla felicitou Tsai pela eleição de seu sucessor e buscou "reafirmar que os EUA são sólidos e bipartidários no seu compromisso com Taiwan". Também disseram que as relações com o território são "informais, mas amigáveis" e que buscam "salvaguardar conjuntamente a paz e a estabilidade no estreito" que separa a ilha do continente.

No sábado, Lai foi eleito presidente com 40% dos votos, e Pequim reagiu questionando sua representatividade. Sua legenda, o Partido Democrático Progressista (PDP), perdeu a maioria das cadeiras no Legislativo da ilha.

O presidente eleito só tomará posse em maio, mas os parlamentares assumem seus mandatos em fevereiro. As negociações em torno do comando da nova legislatura concentraram as atenções do noticiário taiwanês nesta segunda.

O oposicionista Partido Nacional ou Kuomintang (KMT) ficou com 52 cadeiras e possivelmente mais duas, de independentes próximos da legenda, enquanto o PDP chegou a 51 e o Partido do Povo de Taiwan (PPT), a 8. Tanto o KMT como o PDP iniciaram conversas separadamente com o PPT para a escolha do novo comando do Legislativo.

As tratativas podem envolver ainda a formação do próprio gabinete de Lai, inclusive a definição do primeiro-ministro. No sistema institucional taiwanês, inspirado no francês, o presidente escolhe diretamente os ministros da Defesa e do Exterior e nomeia o primeiro-ministro, que monta o restante da equipe em composição com os parlamentares.

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