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Ataque aéreo em Gaza mata filho de jornalista que havia perdido quatro familiares

Hamza Wael Dahdouh era repórter da Al Jazeera como o pai, cuja esposa, filhos e neto morreram em outro bombardeio

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Boa Vista

Dois jornalistas palestinos morreram em um ataque aéreo na Faixa de Gaza cometido por Israel em Rafah, no sul do território, de acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, neste domingo (7).

Mustafa Thuria, um cinegrafista independente que trabalhava para a AFP desde 2019, e Hamza Wael Dahdouh, repórter do canal Al Jazeera, morreram enquanto viajavam em um veículo, disseram o ministério e equipes de resgate.

O pai de Hamza, Wael Dahdouh, editor-chefe do escritório da Al Jazeera na Faixa de Gaza, foi recentemente ferido em um bombardeio. Ele já havia perdido outros dois filhos, a esposa e um neto em outro ataque nas primeiras semanas da guerra.

O editor-chefe do escritório de Gaza da Al Jazeera, Wael Dahdouh, abraça a filha ao lado do corpo de seu filho Hamza Wael Dahdouh, também jornalista pela rede qatari, em Rafah, no sul do território palestino
O editor-chefe do escritório de Gaza da Al Jazeera, Wael Dahdouh, abraça a filha ao lado do corpo de seu filho Hamza Wael Dahdouh, também jornalista pela rede qatari, em Rafah, no sul do território palestino - AFP

Um vídeo postado em um canal do YouTube ligado à Al Jazeera mostra Dahdouh chorando ao lado do corpo de seu filho e segurando sua mão. Mais tarde, após o enterro, ele disse em declarações televisionadas que os jornalistas em Gaza continuariam a fazer seu trabalho.

"A Hamza e a todos os mártires, digo que permaneceremos fiéis. Este é o caminho que escolhemos conscientemente. Oferecemos muito, oferecemos muito sangue, pois este é o nosso destino. Continuaremos", disse o pai em Rafah, no sul do território. "Hamza não era parte de mim. Ele era tudo para mim."

A Al Jazeera, emissora do Qatar, condenou o que chamou de assassinato e acusou Israel de "violar os princípios da liberdade de imprensa".

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas até o dia 31 de dezembro, ao menos 77 jornalistas e trabalhadores da imprensa morreram, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York —70 palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses.

Antes do fim do ano, no início de dezembro, a base de dados do comitê mostrava que 60 jornalistas haviam morrido em meio ao conflito, o que, já naquele momento, fazia da guerra em curso a que mais mata profissionais de imprensa na região nos últimos 30 anos.

Como comparação, de 1992, ano em que o CPJ dá início ao seu levantamento em todo o mundo, até antes de eclodir o atual conflito, 25 jornalistas haviam sido mortos na região.

Palestinos observam destroços de carro em que estavam jornalistas atingido por ataque aéreo em Rafah
Palestinos observam destroços de carro em que estavam jornalistas atingido por ataque aéreo em Rafah - Ibraheem Abu Mustafa - 7.jan.2024/Reuters

O escritório de imprensa do governo de Gaza, controlado pelo Hamas, diz que as duas mortes deste fim de semana elevam sua contagem próprio de jornalistas mortos por Israel em Gaza para 109.

No início de novembro, a ONG Repórteres Sem Fronteiras formalizou queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI), baseado em Haia, pedindo que seu corpo técnico avalie como crimes de guerra a morte de ao menos oito jornalistas palestinos e um israelense desde o início do atual conflito.

A organização justifica que os ataques contra jornalistas palestinos correspondem ao que o direito internacional humanitário considera crimes de guerra porque, mesmo dirigidos a alvos militares legítimos, como afirma Tel Aviv, causaram danos excessivos e desproporcionais aos civis.

A situação no Oriente Médio segue inflamável na primeira semana do ano, em meio a reuniões da diplomacia ocidental com líderes locais na tentativa de reduzir a temperatura do conflito.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, estão em turnê pela região —Blinken se encontrou com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, neste sábado e com o rei Abdullah da Jordânia neste domingo, e tem reuniões previstas no Qatar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Egito, Israel e Cisjordânia.

A viagem do encarregado pela diplomacia de Washington é mais uma tentativa de aliviar as tensões na região, talvez no ponto mais alto após os primeiros dias do conflito entre Israel e Hamas depois que o grupo terrorista deixou cerca de 1.200 mortos em sua ofensiva em território israelense no dia 7 de outubro.

Um dos principais locais da fervura atual é na fronteira entre Israel e Líbano, onde Tel Aviv troca disparos e foguetes diários com o Hezbollah, grupo xiita libanês sustentado pelo Irã e integrante do "Eixo da Resistência", nome dado por Teerã à aliança anti-Israel que lidera e conta com a Síria e grupos como os rebeldes houthis no Iêmen.

Na terça-feira (2), Israel matou Saleh al-Arouri, o número dois da ala política do Hamas, em um ataque com drone no sul de Beirute, território controlado pelo Hezbollah. O grupo xiita jurou vingança, e o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, condenou a explosão e afirmou que Tel Aviv tentava arrastar o Líbano para a guerra contra os palestinos.

Neste domingo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, ameaçou o Hezbollah, caso o grupo libanês aumente a escala de suas ações na fronteira. "Eu sugiro que o Hezbollah aprenda o que o Hamas já aprendeu nos últimos meses: nenhum terrorista é imune. Estamos determinados a proteger nossos cidadãos e levar de volta para casa os que foram retirados de suas casas no norte [fronteira com o Líbano]", disse Bibi, como o premiê é conhecido. "Se pudermos, faremos isso por meios de diplomáticos; se não, agiremos por outros meios."

Com Reuters e AFP

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