Embaixador da Argentina no Brasil deixará cargo para ser secretário de Milei

Peronista Daniel Scioli foi candidato à Presidência e fez interlocução entre Bolsonaro e Alberto Fernández

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Buenos Aires

O atual embaixador da Argentina no Brasil, o peronista Daniel Scioli, agora fará parte do governo do ultraliberal Javier Milei. O político será nomeado secretário de Turismo, Ambiente e Esportes, anunciou o ministro do Interior, Guillermo Francos, a quem ele estará subordinado.

Uma foto dos três sorrindo e fazendo sinal de joinha oficializou o anúncio nas redes sociais do ministro, de quem Scioli é amigo de longa data, confirmando os rumores que se espalharam nos últimos dias.

Embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli (esq.), é anunciado como novo secretário de Javier Milei pelo ministro do Interior, Guillermo Francos (dir.).
Embaixador Daniel Scioli (esq.) é anunciado como novo secretário de Javier Milei pelo ministro do Interior, Guillermo Francos (dir.) - Guillermo Francos no X

"Obrigado, Daniel, pelo grande trabalho realizado para o nosso país como embaixador no Brasil, reconhecido por todos os setores, e por deixar esse cargo para se juntar à nossa equipe, onde estamos seguros de que você fará uma enorme contribuição", escreveu Francos.

Até dezembro, Milei dava indícios de que Scioli permaneceria como embaixador. "A ideia é que continue, por enquanto, nessa tarefa", afirmou o presidente então recém-eleito em entrevista, o que foi interpretado como um aceno ao governo Lula e gerou críticas por parte do ex-presidente Alberto Fernández.

"Eu já disse que para qualquer um que tenha trabalhado com o nosso governo é objetivamente impossível trabalhar com Milei", disse o peronista. "Não me venham dizer que isso é representar a Argentina porque isso é falso; são duas Argentinas diferentes."

Scioli chegou a se postular como pré-candidato do peronismo à Presidência pela coalizão União pela Pátria, no ano passado, mas acabou saindo da disputa no último momento para apoiar a candidatura de Sergio Massa, então ministro da Economia de Fernández.

Ele também já havia tentado chegar ao cargo em 2015, quando perdeu no segundo turno para o ex-presidente Mauricio Macri. Antes disso, foi governador da província de Buenos Aires (que é separada da capital federal), por dois mandatos, e vice-presidente de Néstor Kirchner na década de 2000.

Não é a primeira vez que Scioli e Milei trabalham juntos. Quando o diplomata concorreu contra Macri, o economista chegou a assessorá-lo em seu plano econômico por um think thank de políticas públicas chamado Fundação Acordar.

Scioli agora deixa Brasília depois de três anos e meio, com uma breve interrupção em 2022 —quando voltou a Buenos Aires para chefiar o Ministério de Desenvolvimento Produtivo por pouco mais de um mês após um escândalo em uma licitação no governo peronista.

Como embaixador, o político é lembrado por ter conseguido fazer a interlocução entre os governos ideologicamente opostos de Fernández e Bolsonaro.

Internamente, diplomatas brasileiros e argentinos também creditam a ele e a Julio Bitelli, embaixador do Brasil na Argentina, os esforços para que a chanceler de Milei, Diana Mondino, visitasse o Brasil logo depois da vitória do ultraliberal nas urnas, em sua primeira viagem internacional.

Na ocasião, ela se reuniu com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e entregou uma carta convidando Lula à posse, que não compareceu. Scioli, segundo assessores que o acompanham, teria feito um trabalho de convencimento fundamental, e o fato de a viagem ter sido mantida em segredo foi considerado importante.

Agora, começarão as especulações sobre quem ocupará sua cadeira em Brasília.

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