Futura chanceler de Milei se reúne com ministro Mauro Vieira em Brasília

Itamaraty diz que Diana Mondino convidou Lula para cerimônia de posse e discutiu relação bilateral entre países

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Brasília

A futura chanceler do governo de Javier Milei na Argentina, Diana Mondino, reuniu-se neste domingo (26) em Brasília com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira.

Mondino entregou a Vieira uma carta de Milei à Lula (PT) em que o presidente eleito da Argentina convida o petista para a posse, e fala em "trabalho frutífero" e "construção de laços".

A foto mostra um homem e uma mulher de pé em um gabinete. Eles estão lado a lado, se cumprimentando
A futura chanceler de Javier Milei, Diana Mondino, ao lado do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira - Divulgação MRE

"Foi uma grande ocasião e um [grande] gesto dela de querer ser portadora pessoal dessa carta do presidente. Foi uma reunião produtiva em que discutimos vários temas, e ela já está de regresso", disse Vieira à imprensa após a agenda.

O encontro dos dois ocorre em meio à indefinição sobre a participação de Lula na cerimônia oficial de posse, prevista para 10 de dezembro, depois que Milei convidou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o evento.

"O que foi dito durante a campanha é uma coisa, o que acontece durante o governo é outra. Não sei qual será [a decisão], se o presidente poderá ir ou não [à posse], ele estará chegando de uma grande visita ao exterior", disse o chanceler em referência a uma série de viagens de Lula nos próximos dias.

"Com relação à presença de outros convidados, não somos nós que vamos dizer nada. Claro que eles podem convidar todos que quiserem. E eu vou transmitir ao presidente Lula o convite. Não há nenhum tipo de problema ou de constrangimento."

Mondino e Vieira também discutiram aspectos da relação bilateral e o atual estágio das negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Durante a campanha, Milei defendeu o fim do Mercosul e disse que o bloco prejudica os argentinos. Segundo o chanceler brasileiro, no entanto, sua futura homóloga argentina disse que quer "um Mercosul maior e melhor" e também se referiu de forma positiva ao acordo com Bruxelas.

Durante a campanha, o ultraliberal chegou a dizer que, se fosse eleito, não se reuniria com o presidente brasileiro, afirmando que Lula é corrupto e comunista. Sem apresentar provas, Milei também acusou o petista de tentar interferir no resultado das eleições na Argentina.

Apesar de não ter se posicionado publicamente contra Milei durante a corrida, nos bastidores o governo brasileiro torcia pelo peronista Sergio Massa, ministro e aliado do atual presidente, Alberto Fernández —parceiro de Lula que não buscou a reeleição no país vizinho.

Na quarta (22), Milei mudou o tom e disse que Lula "será bem-vindo" em sua posse, em Buenos Aires. "Ele é o presidente do Brasil", afirmou o argentino ao canal local Todo Notícia.

Segundo o Itamaraty, a reunião entre Mondino e Vieira neste domingo foi acompanhada pelos embaixadores do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, e da Argentina em Brasília, Daniel Scioli.

Foto mostra quatro pessoas, três homens e uma mulher, sentadas em gabinete
O embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli, Diana Mondino, Mauro Vieira e o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli - Divulgação MRE

A participação de Mondino no governo é uma das apostas do Itamaraty para que a relação entre os dois países seja pautada por pragmatismo em temas-chave. Tanto em declarações públicas como em reunião privada com o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Mondino ofereceu uma visão mais moderada que os discursos do presidente eleito durante a campanha.

Na terça (21), durante uma formatura de diplomatas, Lula afirmou que não tem de gostar do "presidente da China, da Argentina, da Venezuela" porque os países precisam ter políticas de Estado. Sem mencionar diretamente Milei ou o país vizinho, o petista afirmou ainda que há atualmente "algumas confusões na América do Sul" e que haverá "problemas políticos" na região no futuro.

Após o resultado das eleições na Argentina, Lula parabenizou o povo e as instituições pelo processo, e desejou êxito ao novo governo, mas também não citou Milei.

"A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica", escreveu Lula.

"Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", completou o presidente pelas redes.

O ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), chegou a dizer na segunda (20) que Milei deveria ligar para Lula pedindo desculpas pelas declarações anteriores —o que não ocorreu.

Bolsonaro afirmou à coluna Mônica Bergamo que manterá o planejamento de ir à posse mesmo que Lula esteja presente. "Se o Lula for lá [na posse], vai ser vaiado. Ele tem que se mancar", disse.

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