Descrição de chapéu The New York Times

Entenda como os rebeldes houthis do Iêmen viraram uma dor de cabeça para os EUA

Ao bombardear grupo aliado do Irã para proteger embarcações no mar Vermelho, Pentágono arrisca uma guerra prolongada

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Helene Cooper Eric Schmidt
The New York Times

Por anos, os rebeldes iemenitas conhecidos como houthis, apoiados pelo Irã, têm causado problemas aos parceiros dos Estados Unidos no Oriente Médio, a ponto de os estrategistas de guerra do Pentágono começarem a copiar algumas de suas táticas.

Observando que os houthis conseguiram transformar em armas sistemas de radar comerciais que são comumente encontrados em lojas de barcos, um comandante sênior dos EUA desafiou seus fuzileiros navais a descobrir algo semelhante. Em setembro de 2022, os fuzileiros navais no mar Báltico estavam adaptando sistemas de radar móveis inspirados nos houthis.

Homens em caçamba de caminhonete com armas
Iemenitas ligados aos rebeldes houthis em Bani Hushaish, no Iêmen - Khaled Abdullah - 22.jan.2024/Reuters

Assim, quando os houthis começaram a atacar navios no mar Vermelho, os altos funcionários do Pentágono já sabiam que seria difícil controlá-los.

À medida que a administração de Joe Biden se aproxima de sua terceira semana de ataques aéreos contra alvos houthis no Iêmen, seu Departamento de Defesa busca encontrar uma solução quase impossível: enfraquecer a capacidade dos houthis de atingir navios comerciais e da Marinha sem arrastar os EUA para uma guerra prolongada.

É uma tarefa difícil, ainda mais porque os houthis aperfeiçoaram as táticas de guerra irregular, dizem militares americanos. O grupo não possui muitos depósitos de armas grandes para que os caças americanos bombardeiem —seus combatentes estão constantemente em movimento, lançando mísseis de caminhonetes em praias remotas antes de fugirem.

A primeira série de ataques aéreos liderados pelos EUA, há cerca de duas semanas, atingiu quase 30 locais no Iêmen, destruindo cerca de 90% dos alvos atingidos, disseram autoridades do Pentágono. Mas, mesmo com essa alta taxa de sucesso, os houthis mantiveram cerca de 75% de sua capacidade de lançar mísseis e drones contra navios que transitam pelo mar Vermelho, reconheceram esses mesmos oficiais.

Desde então, o Pentágono realizou mais sete rodadas de ofensivas. E os houthis continuaram seus ataques a navios que adentram o mar Vermelho.

"Há um nível de sofisticação aqui que não se pode ignorar", diz o general Joseph Votel, que comandou o Comando Central Militar dos EUA de 2016 a 2019, época em que a Arábia Saudita estava tentando derrotar os houthis no Iêmen.

Até agora, a estratégia do Pentágono tem sido colocar drones armados Reaper e outras plataformas de vigilância nos céus iemenitas para que aviões de guerra e navios americanos possam atingir alvos móveis dos houthis conforme eles aparecerem.

Na noite de segunda-feira (22), EUA e Reino Unido atacaram nove locais no país, atingindo múltiplos alvos em cada local. Ao contrário da maioria dos bombardeios anteriores, estes, noturnos, foram planejados. Eles atingiram radares, bem como locais que abrigavam drones e mísseis e bunkers subterrâneos de armazenamento de armas.

Essa abordagem intermediária reflete a tentativa da administração de enfraquecer a capacidade dos houthis de ameaçar navios mercantes e militares, mas sem atingi-los tão duramente a ponto de matar um número grande demais de combatentes, o que teria potencial para desencadear ainda mais caos.

As autoridades dizem que continuarão tentando atingir alvos móveis enquanto especialistas procuram pelos fixos.

Após quase uma década de ataques aéreos sauditas, os houthis são habilidosos em esconder o que têm, pondo alguns de seus lançadores e armamentos em áreas urbanas e disparando mísseis de trás de veículos ou tratores antes de fugirem.

As armas que acabam sendo destruídas são rapidamente substituídas pelo Irã, e um fluxo interminável de embarcações da república islâmica transporta sempre mais equipamentos para o Iêmen.

Acredita-se que os houthis já possuíam locais subterrâneos de montagem e fabricação de armas antes do mesmo do início da guerra civil no Iêmen em 2014. A milícia apoderou-se do arsenal do Exército do país quando tomou Sanaa, a capital, há uma década. Desde então, acumulou um arsenal diversificado e cada vez mais letal de mísseis de cruzeiro e balísticos e de drones de ataque unidirecional, a maioria fornecida pelo Irã.

"É impressionante a diversidade de seu arsenal", diz Fabian Hinz, especialista em mísseis, drones e Oriente Médio vinculado ao IISS (Instituto Internacional para Estudos Estratégicos), em Londres.

Isso deixa os EUA e seus aliados com apenas três opções viáveis, dadas as metas estratégicas de Biden no Iêmen, segundo analistas militares. Eles poderiam tomar posse das armas que chegam por mar do Irã; encontrar os mísseis, o que requer uma ampla gama de informações de inteligência; ou atacar os locais de lançamento.

A terceira opção é a mais difícil. Acredita-se que os houthis escondam lançadores de mísseis móveis nos locais mais inusitados, desde dentro de bueiros até sob passagens de rodovias. Além disso, eles podem ser facilmente transportados.

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