Familiares de reféns do Hamas em Gaza tentam impedir envio de ajuda humanitária a faixa

O grupo, reunido na fronteira entre Israel, Gaza e Egito, exige que a entrega de suprimentos seja suspensa até a libertação dos sequestrados

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São Paulo | Reuters

Manifestantes israelenses tentaram impedir nesta quinta-feira (25) a entrada de suprimentos na Faixa de Gaza. O grupo, reunido na passagem de Kerem Shalom, na fronteira entre Israel, Gaza e Egito, tinha entre seus integrantes familiares de reféns do grupo terrorista Hamas, e exigia que a ajuda humanitária aos palestinos fosse interrompida até que os sequestrados fossem soltos.

Imagem mostra manifestantes caminhando com bandeiras nas cores azul e branca, remetendo à bandeira de Israel
Familiares de reféns caminham em direção à fronteira entre Israel, Gaza e Egito enquanto protestam contra a entrega de ajuda humanitária a Gaza, exigindo a libertação imediata dos sequestrados no ataque do dia 7 de outubro - Alexandre Meneghini/Reuters

Este é o segundo dia consecutivo em que eles tentam barrar o trânsito na via. Nesta quinta, parte do grupo foi a princípio impedida de seguir em frente por um bloqueio rodoviário, mas afinal conseguiu ultrapassá-lo, caminhando vários quilômetros em direção à fronteira.

Kerem Shalom é uma das duas passagens pelas quais os caminhões com insumos entram em Gaza —a maioria passa por outra fronteira, a de Rafah, com o Egito. A divisa com Israel foi aberta pelo governo de Binyamin Netanyahu em dezembro, após pressão dos Estados Unidos para acelerar o fluxo de ajuda humanitária para Gaza.

Ao jornal Times of Israel, Tsufit Libman, cunhada do refém Elyakim Libman, 23, que trabalhava como segurança no festival Supernova, invadido pelo Hamas em 7 de outubro, chamou a entrega de suprimentos à Gaza de uma "falha moral".

"Enquanto não sabemos onde estão nossas famílias e se estão vivas, eles estão recebendo ajuda humanitária", disse ela, acusando os palestinos de "encobrir crimes" e ajudar o Hamas.

"Não é aceitável que os soldados estejam se arriscando lutando em Gaza, e os terroristas contra os quais estão lutando estejam recebendo combustível e alimentos de nossa parte", disse Danny Elgarat, cujo irmão Itzik, 69, foi sequestrado em casa durante a ofensiva que deu início ao conflito, em entrevista a uma emissora israelense.

Elgarat participou de protestos em Kerem Shalom na quarta (24). Na ocasião, os veículos que transportavam insumos foram redirecionados para o Egito após o grupo de manifestantes impedir a passagem dos veículos por horas, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

No final, nove caminhões conseguiram atravessar a divisa pelo posto de controle no sul de Israel, enquanto outros 114 foram encaminhados para a fronteira com Rafah. Ao todo, calcula a ONU, 153 veículos com alimentos, medicamentos e outros entraram pelas duas passagens na quarta-feira.

Familiares dos israelenses sequestrados têm aumentado a pressão sobre o governo nas últimas semanas, bloqueando rodovias e organizando protestos em frente às casas de Netanyahu. Nesta segunda (22), um grupo de manifestantes chegou a invadir o Parlamento do país, o Knesset, em uma tentativa de pressionar os legisladores.

Enquanto isso, a fome segue assolando os palestinos em Gaza. Funcionários de organizações de ajuda humanitária relataram à agência de notícias Reuters um cenário em que os habitantes estão magros e visivelmente famintos, com os olhos afundados. A catástrofe é mais grave na região norte e no centro da faixa, onde os bombardeios têm sido mais intensos.

"A situação alimentar no norte é absolutamente horrível. Quase não há comida disponível e todos com quem conversamos imploram por comida", disse Sean Casey, coordenador da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Gaza.

Médicos em hospitais da faixa descrevem bebês nascidos doentes de mães desnutridas, incapazes de produzir leite materno, e feridos cujos organismos estão fracos demais para combater infecções. A Unicef projeta que, nas próximas semanas, mais de 10 mil crianças em Gaza estarão sob risco de desnutrição, quadro que pode prejudicar o crescimento físico e o desenvolvimento cerebral delas.

Em uma ala de hospital em Rafah, o médico pediatra Jabr al-Shaer apontou para um bebê cujo peso caiu para de 7,5 kg para 5,5 kg em um mês e meio. "Isso afeta sua imunidade. Ele tem com frequência inflamação no peito e gastroenterite", disse.

Palestinos entrevistados pela agência relataram que passam dias sem comer e, quando o fazem, têm apenas uma refeição por dia, uma vez que os alimentos disponíveis nos mercados são, na maioria das vezes, inacessíveis financeiramente.

Antes da guerra, o café da manhã da família de Mariam, da Cidade de Gaza, incluía ovos, leite, queijo, feijão, falafel, homus, tomate, pepino e pão. Agora, consiste em pedaços de pão sírio com tomilho em pó. Quando almoçam ou jantam, comem uma pequena porção de sardinhas ou atum enlatados.

Recentemente, ela encontrou ovos no mercado pela primeira vez em meses, e pagou mais de quatro vezes o que costumavam custar. "As crianças ficaram tão felizes que riram e pularam", disse.

Nesta quinta-feira (25), um ataque israelense à Cidade de Gaza matou 20 palestinos e feriu 150 que estavam na fila para receber ajuda alimentar, disse o Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas, que controla o território.

Em outubro, membros da facção radical palestina Hamas realizaram um ataque terrorista contra Israel, deixando mais de 1.200 mortos. Em resposta, as forças israelenses têm bombardeado toda a Faixa de Gaza. Seus ataques já mataram ao menos 25,9 mil —a maior parte, mulheres e crianças, segundo as autoridades do Hamas, que controla o território.

Com Reuters

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