Impasse sobre migração coloca em xeque ajuda dos EUA à Ucrânia

Republicanos ameaçam não aprovar auxílio a Kiev a menos que democratas concordem com novas restrições na fronteira

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Zolan Kanno-Youngs Erica L. Green
The New York Times

O número crescente de pessoas cruzando para os Estados Unidos vindas do México tem sido uma vulnerabilidade política para o presidente Joe Biden nos últimos três anos, minando sua taxa de aprovação e o expondo a ataques políticos.

Agora, a crise ameaça desestabilizar o apoio dos EUA à Guerra da Ucrânia, colocando em risco o cerne da política externa de Biden.

Família de migrantes conversa com membros do Exército dos EUA depois de cruzar o Rio Grande em Eagle Pass, no Texas - Go Nakamura -18.jan.2024/Reuters

Após uma reunião com Biden na Casa Branca na quarta-feira (17), o presidente da Câmara, Mike Johnson, insistiu que a Casa, liderada pelos republicanos, não aprovaria a legislação para enviar ajuda a Kiev a menos que os democratas concordassem com novas restrições na fronteira entre os EUA e o México.

Mesmo que os dois lados cheguem a algum tipo de acordo, muitos republicanos, especialmente na Câmara, relutariam em dar uma vitória eleitoral a Biden em um assunto que lhes deu uma linha poderosa de crítica à Casa Branca. A questão também está no centro da candidatura do provável oponente de Biden nas eleições presidenciais de outubro, o ex-presidente Donald Trump.

O impasse mostra como o debate sobre imigração nos EUA não se limita mais à fronteira. A questão está transbordando para outras partes da agenda de Biden, assumindo uma influência desproporcional à medida que os republicanos a usam para bloquear as principais prioridades de política externa do presidente.

"Acredito que a grande maioria dos membros do Congresso apoia a ajuda à Ucrânia", disse Biden a repórteres na quinta (18). "A questão é se uma pequena minoria vai impedir isso, o que seria um desastre."

Biden caracterizou o auxílio à Ucrânia como uma questão de liderança americana no cenário global. Se os EUA deixarem de enviar mais ajuda, ele alertou no mês passado, outros aliados podem recuar de seus próprios compromissos. O presidente Vladimir Putin, da Rússia, segundo Biden, poderia recuperar o ímpeto na guerra.

Mas os republicanos da Câmara até agora não se mostraram sensíveis a isso. Johnson disse na semana passada que focava a "segurança nacional" no território americano.

Janet Napolitano, ex-governadora do Arizona e secretária de segurança interna na administração Obama, afirmou que não se lembrava de um momento nas últimas décadas em que grande parte da agenda de um governo dependesse da política de imigração.

A legislação que Biden está promovendo não inclui apenas ajuda à Ucrânia. Também tem dinheiro para Israel e Taiwan —e bilhões de dólares para reforçar a segurança ao longo da fronteira entre os EUA e México, mas não o suficiente para satisfazer as demandas republicanas.

"Eles viram isso como uma oportunidade e a aproveitaram", disse Napolitano, descrevendo a política de imigração atual como "grave". "Isso realmente significa que o presidente tem de ir o mais longe possível e trabalhar com aqueles do outro lado da mesa para aprovar um pacote."

Biden disse que está disposto a fazer concessões na questão da fronteira. Negociadores democratas, com a aprovação da Casa Branca, sinalizaram que considerariam propostas que dificultassem a obtenção de asilo nos EUA.

A Casa Branca parece menos disposta a restringir substancialmente a permissão humanitária, um programa que permitiu a entrada de milhares de afegãos, ucranianos e migrantes aos EUA.

Embora os membros do Congresso ainda estejam debatendo os detalhes dessa política, não está claro se um compromisso está em jogo. Em uma entrevista à Fox News na quarta (17), Johnson fez questão de dizer que havia conversado sobre as negociações com Trump, que o encorajou a se opor a qualquer compromisso.

Biden também está enfrentando resistência dos progressistas, que não querem ver restrições às políticas de asilo.

"Os republicanos estão mantendo a ajuda externa como refém para obter medidas extremas de imigração que não resolveriam o problema", disse a deputada Nanette Barragán, democrata da Califórnia. "Muitos de nós apoiamos a ajuda à Ucrânia, mas não às custas dessas políticas extremas de imigração em discussão."

Jim Kessler, vice-presidente executivo de política do Third Way, um centro de estudos de tendência centro-esquerda, disse que a vinculação da ajuda à Ucrânia a restrições na fronteira era "sem precedentes".

"É difícil imaginar um momento anterior na história de nossa nação em que algo tão importante do ponto de vista da segurança nacional, que normalmente uniria todos os americanos de ambos os partidos políticos, estivesse envolvido em jogos", disse Kessler.

Inicialmente, a Casa Branca retratou a decisão de vincular a imigração ao pedido de financiamento militar como um incentivo, ou pelo menos uma tentativa de compromisso, para conquistar os republicanos que vinham pedindo a Biden para ser mais rigoroso na fronteira.

William B. Taylor Jr., que atuou como embaixador na Ucrânia de 2006 a 2009, disse que haveria consequências graves tanto para a Kiev quanto para Washington se a estratégia falhar.

"Imagino que o cálculo tenha sido o de que há muito apoio para essas questões e, se as juntarmos todas, teremos uma estratégia vencedora", disse Taylor. Mas, se a Casa Branca não conseguir chegar a um acordo, acrescentou, isso minaria "um componente crucial da política externa dos EUA".

"A liderança dos EUA seria seriamente prejudicada se não pudermos fornecer assistência aos ucranianos para permitir que eles parem os russos agora", afirmou ele. "Isso tem enormes implicações."

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