Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel invade e cerca hospitais em 10º dia de apagão na Faixa de Gaza

Avanço de tropas corta acesso de equipes médicas, segundo Crescente Vermelho; Tel Aviv não comenta

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Gaza | Reuters

Forças do Exército de Israel invadiram um hospital e cercaram outro nesta segunda-feira (22), na porção oeste da cidade de Khan Yunis, cidade no sul da Faixa de Gaza e foco atual das ações militares de Tel Aviv. A ofensiva isolou feridos e impede o atendimento médico, segundo autoridades de saúde palestinas.

Os militares avançaram pela primeira vez no distrito de Al-Mawasi, perto da costa, e prenderam integrantes da equipe média do hospital Al-Khair, afirma o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf al-Qidra.

Israel não comentou a ação no hospital. O Exército disse em seguida que três de seus soldados foram mortos nesta segunda no sul de Gaza; no total, são 200 mortos do lado israelense do conflito no território palestino, segundo os militares.

Palestino ferido chega a hospital em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Palestino ferido chega a hospital em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Yasser Qudih - 12.jan.2024/Xinhua

Qidra diz que pelo menos 50 pessoas morreram durante a noite em Khan Yunis e que a invasão e o cerco às instalações médicas deixam dezenas de mortos e feridos fora do alcance de equipes de socorro.

"A ocupação israelense está impedindo que veículos de ambulância se movam para recuperar corpos de mártires e feridos no oeste de Khan Yunis", disse o porta-voz do órgão, controlado pelo Hamas.

O Crescente Vermelho palestino afirma que tanques cercaram também o hospital Al-Amal, usado como sede pela organização humanitária que é equivalente à Cruz Vermelha, e que a comunicação com a equipe médica do local foi cortada.

"Estamos profundamente preocupados com o que está acontecendo ao redor de nosso hospital", disse Tommaso Della Longa, porta-voz da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV). "As ambulâncias não podem entrar ou sair, e não temos como fornecer nenhum atendimento médico de emergência para as pessoas na área."

Israel afirma que integrantes do Hamas operam em torno de hospitais —o grupo terrorista palestino e médicos locais negam. "Um esforço especial liderado por uma equipe dedicada tem sido feito para garantir que os civis tenham acesso aos cuidados médicos", diz Elad Goren, do Cogat, órgão do Ministério da Defesa de Israel que supervisiona as atividades civis nos territórios palestinos.

Gaza está sem serviços de internet e telefonia há dez dias, o que dificulta o envio de ambulâncias para áreas atingidas e a comunicação para que a população saiba onde os combates estão ocorrendo.

Israel tem aprofundado a ofensiva desde semana passada para capturar Khan Yunis, que agora diz ser a sede principal dos terroristas do Hamas responsáveis pelos ataques de 7 de outubro que mataram 1.200 pessoas em território israelense, segundo estimativas.

A maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza agora está confinada em Rafah, ao sul de Khan Yunis e Deir al-Balah, ao norte, amontoada em prédios públicos e acampamentos com barracas feitas de lonas amarradas a estruturas de madeira.

Filas de carros e carroças puxadas por burros, carregadas de pertences, rumam para o sul enquanto a população tenta fugir dos bombardeios que continuam a atingir o território.

"Esta é a sétima vez que tenho que me deslocar", disse Mariam Abu-Haleeb, de Gaza, chorando em um carro cercada por seus pertences, à agência de notícias Reuters. Ahmad Abu-Shaweesh, um menino, descreve como foi estar abrigado na Universidade Al-Aqsa e descobrir que ela estava sendo atacada. "Mal conseguimos sair. Não esperávamos os tanques nos portões da universidade."

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, voltou a afirmar que Israel tem o direito de se defender, mas acrescentou que Washington espera respeito ao direito internacional e o máximo possível de proteção a "pessoas inocentes em hospitais, equipes médicas e pacientes".

No Nasser, o único grande hospital ainda acessível em Khan Yunis e o maior ainda em funcionamento em Gaza, vídeos mostram alas sobrecarregadas, com feridos sendo tratados no chão salpicado de sangue.

O médico emergencista Ahmed Abu Mustafa disse que não dormia há 30 horas e estava tratando de 10 a 11 pacientes em uma unidade de terapia intensiva com apenas quatro leitos. Do lado de fora, homens cavam sepulturas no terreno do próprio hospital porque não é seguro sair até o cemitério. Autoridades dizem que ao menos 40 pessoas foram enterradas no local.

Instalações, veículos e pessoal médico são protegidos por lei nas situações de conflito armado. Essa proteção está contida na primeira Convenção de Genebra —a primeira norma jurídica de valor universal adotada para regular guerras no mundo.

O texto protege os combatentes feridos e enfermos nos campos de batalha, além do pessoal encarregado de prestar socorro. O transporte e tratamento de integrantes do Hamas em hospitais e ambulâncias de Gaza não fere a legislação sobre o assunto, assim como não seria o caso para membros do Exército israelense.

Há, no entanto, uma exceção: se um dos lados da guerra fizer uso da proteção dada às instalações de saúde para cometer um "ato prejudicial ao inimigo", ela pode ser suspensa. Isso se caracterizaria, por exemplo, no uso de um hospital para lançamento de foguetes.

Em Bruxelas, o ministro das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina, Riyad al-Maliki, disse a repórteres que a situação em Gaza estava fora de controle e pediu à União Europeia que demandasse um cessar-fogo. "O sistema de saúde entrou em colapso. Não há como tratar palestinos feridos na Faixa de Gaza e eles não conseguem sair de lá para tratamento externo."

Israel diz que não vai parar suas ações até aniquilar o Hamas, objetivo visto por palestinos e especialistas ocidentais como dificilmente atingível, dada a estrutura difusa do grupo e raízes profundas no território que controla desde 2007.

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