Descrição de chapéu América Latina

Candidato morto no Equador denunciou casos de corrupção como jornalista e deputado

Político já foi sindicalista petroleiro e foi opositor do ex-presidente Rafael Correa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

Fernando Villavicencio, 59, candidato à Presidência do Equador assassinado nesta quarta-feira (9), ficou conhecido por denunciar casos de corrupção enquanto era jornalista investigativo e deputado. O político, de viés progressista, foi um grande opositor do ex-presidente Rafael Correa, hoje autoexilado na Bélgica.

Um dos oito postulantes ao cargo, ele teve longa trajetória na vida pública e curta carreira política. Foi membro da Assembleia Nacional até três meses atrás, quando o presidente Guillermo Lasso decretou a chamada "morte cruzada", dissolvendo o Legislativo e convocando as eleições marcadas para o dia 20.

Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, discursa em ato de campanha em Quito antes de ser morto
Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, discursa em ato de campanha em Quito antes de ser morto - Karen Toro - 9.ago.23/Reuters

Villavicencio atuava como parlamentar desde 2021, período no qual foi muito ativo como presidente da comissão de fiscalização e controle político. Ele impulsionou investigações, principalmente em questões relacionadas ao petróleo, nos governos de Correa (2007-2017), Lenín Moreno (2017-2021) e de Lasso.

Apesar disso, o legislador foi acusado por correístas de obstruir a ação de impeachment contra o atual presidente e que levou o líder do país a tomar a drástica medida meses atrás. O deputado negava as insinuações de proximidade com o governo, afirmando que a oposição agia sem evidências.

Ele teve larga história na esquerda, mas mais recentemente se movimentou ao centro. Nos últimos anos, fez críticas tanto ao presidente Lula como ao ex-presidente Jair Bolsonaro, posicionando-se a favor da Lava Jato.

"Bolsonaro é produto da traição do PT, da maior corrupção da história. Por Deus.... E não compartilho nada com Bolsonaro", comentou numa publicação antes do pleito de 2018 no Brasil, segundo a BBC. Já após a eleição de Lula, em 2022, ele postou: "O retorno dos ladrões da Lava Jato".

Em entrevista ao jornal El Universo, Villavicencio estimou ter realizado cerca de 260 apurações contra líderes equatorianos. Como deputado, a maior delas foi no caso Petrochina, em que denunciou um suposto esquema de corrupção na venda de petróleo à China por valores abaixo dos de mercado no governo de Correa.

Sua trajetória também inclui a longa carreira como jornalista, durante a qual ele fundou o portal Periodismo de Investigación. O político ainda se identificava como jornalista investigativo nas redes sociais e divulgava o link do seu site, por meio do qual fez parte dessas denúncias.

Ele tinha conhecimento amplo do setor petrolífero porque começou seu ativismo político na década de 1990 como comunicador social e depois líder sindical da estatal Petroecuador, época em que também participou da fundação do movimento político indígena Pachakutik.

Era formado em comunicação social pela extinta Universidade Cooperativa da Colômbia do Equador. Antes, viveu uma adolescência pobre em Quito, onde trabalhou como garçom de dia enquanto estudava à noite, contou ao jornal El Universo. Nascido em Alausí, na província de Chimborazo, no centro-sul do país, foi para a capital aos 13 anos com a família, sendo o mais velho de seis irmãos.

Já durante o governo Correa, atuou como assessor de Cléver Jiménez, então deputado do Pachakutik. Juntos, apresentaram diversas denúncias. Em uma delas, acusaram o ex-presidente de ter ordenado uma incursão armada no Hospital da Polícia Nacional, durante a revolta policial de 30 de setembro de 2010.

Eles então foram processados pelo ex-líder e condenados a 18 meses de prisão em 2014, porque a acusação foi considerada maliciosa e temerária, segundo o jornal local Primicias. Villavicencio e Jiménez, porém, refugiaram-se num povo indígena na Amazônia até a pena prescrever e voltaram à vida pública.

Ele já havia tentado se candidatar a deputado nas eleições de 2017, pela aliança entre os grupos liberais Creo (Creando Oportunidades) e Suma (Partido Sociedad Unida Más Acción), mas sua candidatura foi contestada porque ele ainda estava registrado como afiliado ao Pachakutik.

Quatro anos depois, voltou a concorrer e conquistou assento pela aliança Honestidade, composta pelo extinto movimento Concertación (centro-direita) e pelo Partido Socialista Equatoriano (esquerda). Juntou-se à bancada pelo Acordo Nacional (BAN), que reuniu vários candidatos independentes. Neste ano, porém, mudou ao partido Movimiento Construye, considerado de centro-direita, para disputar a Presidência.

O político era casado com Verónica Saráuz, com quem tinha três filhos.

Em 2 de setembro de 2022, Villavicencio já havia sido alvo de um atentado. Segundo denúncia feita à época, sua casa foi alvejada por homens que estavam em carros. O então legislador não estava na residência naquele momento, e foi sua esposa quem escutou os disparos e chamou a polícia, que encontrou quatro cápsulas do lado de fora da casa.

À época, Villavicencio era presidente da Comissão de Fiscalização e Controle Político da Assembleia Nacional, que tem como função auditar o uso de recursos do Estado e a gestão pública.

"Esse atentado não é contra mim ou a minha família, é contra o país. Porque amanhã será qualquer colega jornalista ou político que levante sua voz. Querem semear o medo como norma de comportamento e fazer a sociedade ficar de joelhos", disse em entrevista após o atentado ocorrido em 2022.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.