Papa diz que barriga de aluguel é prática deplorável e pede sua proibição

Francisco ainda chamou teoria de gênero, que questiona binariedade de feminino e masculino, de 'colonização ideológica'

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São Paulo

Três semanas após permitir a bênção a casais homoafetivos, decisão celebrada por grupos de direitos humanos, o papa fez nesta segunda-feira (8) declarações que tendem a desagradá-los. Francisco criticou a prática da barriga de aluguel e a teoria de gênero.

Durante um discurso anual de 45 minutos conhecido como "estado do mundo", o argentino pediu que a técnica da gestação de substituição, mais conhecida como barriga de aluguel, seja proibida em todo o mundo, chamando-a de uma prática deplorável e de uma violação dos direitos das mulheres e das crianças.

O papa Francisco realiza discurso anual voltado a diplomatas credenciados no Vaticano
O papa Francisco realiza discurso anual voltado a diplomatas credenciados no Vaticano - Simone Risoluti/Divulgação Comunicação do Vaticano via Reuters

"É uma prática baseada na exploração de situações de necessidades materiais da mãe", afirmou ele. "Expresso a minha esperança por um esforço para proibir essa prática universalmente."

Francisco, 87, discursava a diplomatas no Vaticano. Suas declarações tendem a despertar críticas de parcelas da população como a comunidade LGBTQIA+, uma vez que a barriga de aluguel é com frequência usada por casais do mesmo sexo que desejam ter filhos.

Existem poucas estatísticas confiáveis sobre essa prática ao redor do mundo. Mas o interesse por ela segue constante à medida que mais mulheres que desejam ser mães deparam-se com problemas de fertilidade ao optar por adiar a gravidez.

Na Itália, que circunda o Vaticano, a prática da barriga de aluguel é ilegal. Mais recentemente, a coalizão governista da primeira-ministra Giorgia Meloni tem buscado também aprovar no Parlamento uma lei adicional que estenderia a proibição a casais que vão a países onde o procedimento é legal para realizá-lo.

No mesmo discurso desta segunda, o líder da Igreja Católica, que lidera uma comunidade de mais de 1,3 bilhão em todo o mundo, reafirmou ainda que o Vaticano condena a chamada teoria de gênero —que propõe que gênero é algo mais complexo e fluido do que as categorias binárias de "masculino" e "feminino", comumente associadas ao sexo de uma pessoa.

O papa descreveu a teoria como "extremamente perigosa, pois, em sua reivindicação de tornar todos iguais, anula as diferenças". Ele chamou a teoria de uma espécie de "colonização ideológica", que "provoca feridas e divisões entre os Estados, em vez de favorecer a construção da paz", segundo descrição de seu discurso feita pela agência de notícias italiana Ansa.

Em 2016, o papa já havia dito que a teoria de gênero é um "grande inimigo" do casamento tradicional e da família, uma "guerra global" que teria como meta, "não com armas, mas com ideias", propagar a "colonização ideológica".

Em 2019, por sua vez, o argentino afirmou que as escolas deveriam prover educação sexual aos estudantes, "mas sem colonização ideológica". "Se você começar a dar educação sexual repleta de colonização ideológica, você destrói a pessoa", afirmou ele.

Em dezembro, o papa fez um aceno importante à construção de uma igreja mais inclusiva, algo que defende desde que assumiu o posto, em 2013. Por meio de uma resolução do Dicastério para a Doutrina da Fé, disse que casais gays podem receber a bênção católica, desde que em cerimônias que nada se assemelhem à de um matrimônio. A decisão também deixa a decisão de conceder a bênção ou não concedê-la em aberto, de modo que padres podem se negar a fazê-lo.

Pouco antes, o Vaticano já havia aberto as portas do batismo para as pessoas trans. Respondendo a questões enviadas pelo bispo italiano José Negri, que lidera a diocese de Santo Amaro, em São Paulo, a instituição afirmou que pessoas transexuais, incluindo aquelas submetidas a tratamento com hormônios e as que passaram por procedimentos de redesignação sexual, podem ser batizadas.

A mesma resposta dizia que filhos de casais de pessoas do mesmo sexo, mesmo aqueles gerados por barriga solidária —justamente a prática agora criticada por Francisco—, também podem ser batizados, "desde que sejam educados na fé católica dali em diante".

Além disso, a resposta de três páginas a seis perguntas enviadas pelo bispo afirmava que pessoas trans podem ser padrinhos e madrinhas de um batizado, bem como testemunhas de um casamento.

Com Reuters

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