Trump recorre à Suprema Corte para se manter elegível em primárias nos EUA

Ex-presidente tenta reverter decisões no Colorado e no Maine que retiram seu nome das cédulas de votação

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São Paulo

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump recorreu à Suprema Corte do país nesta terça-feira (3) para tentar reverter a decisão da instância máxima do Colorado que o impede de aparecer nas cédulas das primárias do Partido Republicano no estado.

Mais cedo, a defesa do empresário já havia recorrido de ordem semelhante no estado do Maine. A democrata Shenna Bellows, secretária de Estado local e responsável pela medida, foi acusada pelos advogados de Trump de ser parcial e de não fornecer o devido processo legal.

O pré-candidato do Partido Republicano, Donald Trump, em Nevada, nos EUA - Carlos Barria - 17.dez.2023/Reuters

Eles argumentaram ainda que ela "não tinha autoridade legal para considerar as questões constitucionais federais apresentadas" e "agiu de maneira arbitrária". A defesa do ex-presidente também exigiu que o tribunal anulasse a decisão, descrita como "produto de um processo infectado pela parcialidade".

Bellows foi escolhida para o posto pelo Legislativo local e é responsável por supervisionar o departamento eleitoral da unidade federativa. Ela tomou a medida em resposta a um pedido apresentado por um grupo de eleitores e sob o argumento de que Trump teria cometido insurreição ao estimular a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Os dois estados suspenderam as medidas em meio aos recursos. Segundo a decisão no Colorado, que também é alvo de apelação do Partido Republicano em âmbito estadual, o nome do presidente segue nas cédulas de votação até que a Suprema Corte do país tome uma decisão; no Maine, o recurso passa antes por um juiz estadual.

Para um porta-voz da campanha do republicano, as ações de ambos os estados são uma "interferência partidária nas eleições" e "um ataque hostil à democracia americana".

A decisão de Bellows no Maine invoca a 14ª Emenda da Constituição dos EUA, cuja seção 3 proíbe qualquer pessoa de ocupar um cargo público caso já tenha participado de uma "insurreição ou rebelião" depois de ter se comprometido a apoiar e defender a Carta Magna.

A emenda, ratificada em 1868, depois da Guerra Civil americana, tinha como objetivo impedir que partidários da Confederação escravista fossem eleitos para o Congresso ou ocupassem cargos federais.

Em sua decisão, Bellows afirma que o ataque ao Capitólio "ocorreu a pedido e com o conhecimento e o apoio do presidente cessante". "A Constituição dos EUA não tolera um ataque às fundações de nosso governo e [a lei do Maine] exige que eu atue em resposta", afirmou ela.

Após as acusações de fraude, sem provas, sobre as eleições de 2020, e a invasão do Capitólio, em que apoiadores de Trump tentaram impedir a confirmação da vitória de Joe Biden, muitos juristas e entidades passaram a argumentar que a 14ª Emenda se aplicaria ao ex-presidente.

A decisão da Suprema Corte do Colorado acatou argumento semelhante na ação do estado. Em uma longa decisão ordenando ao secretário de Estado do Colorado que excluísse Trump da votação primária republicana, os juízes da Suprema Corte local reverteram decisão anterior de uma juíza distrital de Denver.

Em novembro, uma magistrada da capital afirmara que a Seção 3 da 14ª Emenda não se aplicava à Presidência —a redação da emenda é vaga, e não menciona, explicitamente, o cargo mais alto do Executivo.

Se a Suprema Corte confirmar a decisão do tribunal máximo do Colorado, Trump poderá ser desqualificado de forma mais ampla do pleito, abrindo, assim, precedente para que outras cortes máximas estaduais sigam o mesmo caminho.

Desafios semelhantes à candidatura de Trump estão ocorrendo em todo o país, principalmente nos tribunais. Além do Colorado e do Maine, pelo menos 17 estados têm casos pendentes, incluindo Califórnia, New Hampshire, Oregon e Carolina do Norte.

Devido à necessidade de finalizar as cédulas rapidamente para os eleitores no exterior, as manobras legais estão se tornando cada vez mais urgentes. As primárias republicanas no Maine e no Colorado estão programadas para a Super Terça, em 5 de março, quando os eleitores de mais de dez estados, incluindo os da Califórnia e do Texas, comparecem às urnas.

Os advogados de Trump já haviam exigido que, no caso do Maine, Bellows se afastasse por causa de publicações em redes sociais em que ela se referia ao ataque ao Capitólio como uma "insurreição" —evidência, segundo eles, de que ela já havia tomado uma decisão sobre os eventos daquele dia antes de ouvir as partes.

Eles argumentam em seu recurso, assim como fizeram em suas petições, que a desqualificação de um candidato presidencial com base na 14ª Emenda é "uma questão política reservada ao Colégio Eleitoral e ao Congresso".

Desde a divulgação de sua decisão, Bellows e sua equipe têm enfrentado ameaças e assédio, escreveu ela em uma postagem nas redes sociais no último sábado (30), incluindo uma chamada para a polícia estadual que relatou uma emergência falsa em sua casa depois que seu endereço foi compartilhado online.

Em uma publicação no Facebook, Bellows chamou as ameaças de "inaceitáveis". "Deveríamos ser capazes de discordar sobre questões importantes sem ameaças e violência", escreveu.

Pesquisas de opinião mostram Trump com uma liderança sólida na disputa pela indicação republicana. As disputas para selecionar um candidato começam no dia 15 de janeiro, em Iowa.

Com Reuters, AFP e The New York Times

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