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Combinação 30-30-30 ajudou a espalhar fogo no Chile, diz especialista

Temperatura acima de 30ºC, umidade menor que 30% e ventos de mais de 30 km/h facilitaram propagação em um bioma com plantações florestais

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Brasília

Altas temperaturas, ventos fortes, baixa umidade do ar e alta densidade populacional em um bioma com plantações florestais. Tudo isso contribuiu para que o fogo se espalhasse rapidamente pela região de Valparaíso, no centro do Chile.

Maior tragédia do país desde o terremoto que matou mais de 500 pessoas em 2010, os incêndios que atingiram especialmente Valparaíso e Viña del Mar começaram ao meio-dia de sexta-feira (2), em quatro pontos distintos. Até a tarde desta terça (6), haviam deixado mais de 130 mortos. O número de focos ativos era de 176, em uma área de 287 km2, o que representa 18% do município de São Paulo. Um terço do território em chamas está dentro da região (equivalente a estado) de Valparaíso.

Uma conjunção de fatores permitiu a rápida propagação das chamas, segundo Jaime Hernández, professor da Faculdade de Ciências Florestais na Universidade do Chile e coordenador do MapBiomas Chile.

Voluntários combatem fogo em Viña del Mar durante incêndios no último fim de semana, no Chile
Voluntários combatem fogo em Viña del Mar durante incêndios no último fim de semana, no Chile - 3.fev.2024/Xinhua

Um deles é a chamada combinação 30-30-30: menos de 30% de umidade relativa do ar, temperatura acima dos 30ºC e mais de 30 km/h de velocidade do vento. "Esses fatores estavam presentes no incêndio de Valparaíso. Além disso, são terrenos com muitas encostas que causam zonas de convecção dos ventos", afirma Hernández. "Mas a chave foi o surgimento de focos simultâneos de incêndio. Isso indica que foram intencionais e, especula-se, iniciados de forma coordenada."

De acordo com o especialista, a condição 30-30-30 não é tão comum, mas ocorre algumas vezes no verão. Quando essa combinação surge, todos os serviços públicos ficam em alerta máximo, afirma.

Hernández ressalta que os locais afetados ficam em áreas de expansão urbana mais recente, com alta densidade populacional. "Os serviços necessários, que o Estado deve fornecer, não foram desenvolvidos na mesma velocidade, ou seja, são áreas com déficit de infraestrutura para esse tipo de emergência."

Outro ponto levantado por ele é que a região tem grandes áreas de plantações florestais próximas aos centros urbanos, principalmente de pinheiros e, em menor proporção, de eucalipto. "Em geral, devido à grande quantidade de biomassa, as plantações florestais geram incêndios de maior magnitude e avançam mais rapidamente, mas isso depende das condições locais", diz Hernández.

Valparaíso e seu entorno ficam no bioma chamado de Matorral, originalmente formado por vegetação arbustiva e pequenas árvores. Com clima temperado mediterrâneo, geralmente tem invernos chuvosos e verões secos.

Por estar no entorno de Santiago, Valparaíso e Viña del Mar, áreas de ocupação urbana consolidada, o Matorral é um dos biomas menos conservados e mais vulneráveis a adversidades climáticas no Chile, país com grande diversidade de formações, de florestas subpolares no extremo sul aos desertos no norte.

Também existe a pressão da atividade agrícola. Parte do bioma é ocupada pela pecuária e pelo cultivo de uva para a produção de vinho — há, inclusive, rótulos de vinícolas que levam Matorral no nome.

Além das perdas humanas, o fogo teve impacto na fauna nativa, especialmente mamíferos e pequenos répteis. Um dos locais de preservação desses animais é a Reserva Nacional Lago Peñuelas, vizinha à rota 68, principal estrada que liga Santiago a Valparaíso. A unidade florestal, com 92 km2 (equivalente a quase 60 parques Ibirapuera), foi bastante afetada pelas chamas.

Incêndios florestais são relativamente comuns durante o verão na região, especialmente nas áreas de encostas, de desmate relativamente recente. A dimensão destas queimadas, porém, foi muito maior. Antes, o incêndio mais grave havia ocorrido em 2014, deixando 15 mortos e mais de 2.900 casas destruídas.

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