De acordo com as projeções mais recentes da Organização das Nações Unidas, a população da Terra está perto de chegar a 8 bilhões de pessoas. A entidade prevê que o planeta deve chegar à marca até, aproximadamente, 15 de novembro deste ano.
O primeiro bilhão de terráqueos foi atingido há 200 anos, na década de 1820, perto do ano da Independência do Brasil —embora as estatísticas demográficas, à época, tenham sido consideradas especulativas.
A Europa, que se enxergava como centro do mundo, tinha um quinto dessa população. No Brasil, eram cerca de 4,5 milhões de habitantes, sendo 800 mil indígenas, 1 milhão de brancos, 1,2 milhão de africanos escravizados e seus descendentes e 1,5 milhão de grupos menores decorrentes da miscigenação entre os grupos anteriores. Os números estão no livro "1822", de Laurentino Gomes.
De acordo com os mapas da época, o Brasil não tinha adquirido o Acre, e mesmo as fronteiras com os vizinhos do norte ainda não haviam sido demarcadas de fato.
Daí é que veio o estalo para observar outras diferenças cartográficas entre 1822 e 2022. A título de curiosidade, toma-se como base os 32 países que disputarão a Copa do Mundo do Qatar.
Em 1822, Doha, capital do anfitrião, era uma pequena fortificação comercial, que ainda estava se reconstruindo depois de ter sido bombardeada pela Companhia Britânica das Índias Ocidentais por praticar pirataria na região do Golfo Pérsico.
A viagem começa então pela América do Sul: o Equador ainda não existia, pois fazia parte da Grã-Colômbia, país que englobava também a atual Venezuela e o Panamá. O Uruguai havia sido anexado ao Brasil, com o nome de Cisplatina. Sua independência só aconteceria em 1828.
Mesmo a Argentina, naquele momento, era formada pelas Províncias Unidas do Rio da Prata, que englobavam as regiões próximas a Buenos Aires. A Patagônia, no sul do país, por exemplo, só se tornaria de fato parte do território argentino depois de 1879.
Nas Américas Central e do Norte, a Costa Rica fazia parte da República Federal da América Central, junto a Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua, mas teoricamente ainda esteve ligada ao México entre janeiro de 1822 e junho de 1823, data da separação definitiva da região. A República Federal da América Central seria dissolvida em 1841.
Os Estados Unidos mal tinham atravessado o oeste do rio Mississippi e eram formados por 24 estados no ano da independência do Brasil. Já o Canadá aparecia como uma colônia britânica ao norte dos EUA. Aliás, muitos britânicos que preferiram permanecer fiéis ao rei Jorge 3º emigraram para terras canadenses depois da declaração de independência norte-americana, em 1776.
O Canadá não contava ainda com a província de Terra Nova e Labrador, colônia independente na costa atlântica ao norte, que vivia da pesca do bacalhau. Também não existiam ainda as províncias a oeste, como a Colúmbia Britânica, e mesmo a cidade de Vancouver só seria fundada em 1886.
Nesse intervalo de 200 anos, a Europa também passou por mudanças. Há curiosidades a serem destacadas. Apenas em 1871 a Alemanha se tornou um país unificado. Em 1822, ela era formada por 39 regiões independentes, conhecidas pelo nome de Confederação Germânica, das quais se destacavam a antiga Prússia e a Baviera.
A Polônia havia deixado de existir em 1795, quando seu território foi repartido entre Prússia, Rússia e Áustria —o país só reconquistaria a independência em 1918. A Sérvia havia se libertado pouco tempo antes do domínio do antigo Império Otomano. Tornou-se um reino em 1817, enquanto a Croácia moderna estava sob o domínio da Áustria.
Por essa época, a Bélgica também não existia, pois era mais uma província dos Países Baixos (Holanda), vindo a se rebelar contra o vizinho do norte e a se separar no ano de 1830.
A Suíça já existia como nação desde 1648, mas seu mais recente status foi o de ser considerado um país neutro ainda em 1815 pelo Congresso de Viena (que decidiu o rumo dos países da Europa depois da derrota de Napoleão Bonaparte).
Arábia Saudita e Tunísia faziam parte do Império Otomano, que se estendia desde a fronteira com o Marrocos, no norte da África, até a Pérsia, atual Irã. O Marrocos era um sultanato governado por Sulayman bin Mohammed, que fechou os portos do país aos europeus. Curiosamente, apenas navios americanos podiam aportar em seu litoral.
Ainda na África, os ingleses tinham acabado de se estabelecer em Gana, fundando a colônia da Costa do Ouro em 1821, embora os portugueses já tivessem construído o forte de Elmina, no século 15.
A costa de Senegal vinha sendo explorada pelos europeus da mesma forma desde o século 15 e sua cidade mais importante era Saint Louis (Ndar), já que a colônia do Senegal não existia e só seria fundada pelos franceses, de fato, depois de 1850. Camarões moderno não existia, e Douala, a segunda cidade mais importante do país, era uma vila de pescadores e entreposto na região do tráfico negreiro na África —cada vez mais visitada por franceses e ingleses.
Na Ásia, Coreia e Japão eram reinos independentes, isolados do mundo ocidental. A Coreia estava sob a esfera de influência do império Qing, da China. Já o Japão era administrado em forma de xogunato (domínio exercido por chefes militares), sob a dinastia Tokugawa, que durou até 1867, quando o país se abriu definitivamente para os estrangeiros.
Para terminar, a Austrália —sim, o país da Oceania vai disputar sua sexta Copa, a quinta consecutiva— foi mapeada em detalhes pelo capitão James Cook apenas em 1770, embora tivesse sido explorada pelos holandeses no começo do século 17.
Em 1788, a região de Nova Gales do Sul foi ocupada pelos britânicos, embora a sua primeira função fosse a de ser uma colônia penal —Cook batizou a região de "Nova Gales" e depois "Nova Gales do Sul" em homenagem ao País de Gales, uma das quatro nações do Reino Unido, que estará de volta a uma Copa depois de 64 anos.
Na época da Independência do Brasil, a baía de Sydney já era ocupada pelos colonos e famílias livres, mas os britânicos mal tinham atravessado as Montanhas Azuis, distantes apenas 60 km do litoral. Apenas a parte oriental da Austrália era conhecida e reclamada como domínio britânico. Mesmo a ilha da Tasmânia só se tornaria parte da colônia em 1825.
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