Descrição de chapéu Obituário Hage Geingob (1941 - 2024)

Morre Hage Geingob, presidente da Namíbia, aos 82 anos

Dirigente faleceu em hospital na capital Windhoek, onde tratava um câncer

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Windhoek | AFP

O presidente da Namíbia, Hage Geingob, morreu neste domingo (4), aos 82 anos, segundo comunicado do gabinete da Presidência do país. O dirigente morreu em um hospital na capital, Windhoek, onde tratava um câncer.

"É com a maior tristeza e pesar que informo que nosso querido Hage G. Geingob, presidente da República da Namíbia, faleceu hoje", diz a nota assinada pelo presidente interino, Nangolo Mbumba, eleito vice-presidente na chapa de Geingob.

Hage Geingob durante encontro com a primeira-dama norte-americana Jill Biden, em fevereiro de 2023 - REUTERS/Siphiwe Sibeko

O texto pede calma e serenidade "enquanto o governo cuida de todas as providências, preparativos e outros protocolos estatais necessários".

Geingob foi primeiro-ministro por 12 anos, um recorde de longevidade no país, antes de se tornar, em 2014, o terceiro presidente da nação, além de o primeiro não pertencente à etnia ovambo.

Desde jovem, ele se dedicou ao ativismo pela independência da Namíbia, que pertencia à África do Sul. Sua atuação o levou a ter que se exilar, primeiro em Botsuana e, depois, nos Estados Unidos, em Nova York.

Em janeiro, o escritório presidencial anunciou que uma biópsia em um exame médico de rotina havia revelado a presença de células cancerígenas no organismo do chefe de Estado.

País no sul da África, a Namíbia foi um dos últimos Estados do continente a conquistar a independência, em 1990. Geingob foi um dos responsáveis por fincar as bases da então jovem nação, ajudando por exemplo a redigir sua Constituição.

Eleições presidenciais e legislativas estão previstas para o final deste ano.

Geingob foi eleito presidente em 2014 com 87% dos votos, em meio a uma onda de esperança de que ele lutaria contra a corrupção no governo e enfrentaria as graves dificuldades econômicas da Namíbia. Mas ele deixa um legado não totalmente positivo.

Embora Geingob tenha implementado um programa de benefícios sociais para idosos e tenha recebido elogios internacionais por seus esforços para o desenvolvimento de fontes de energia renovável, ele não conseguiu melhorar a situação da Namíbia, um país pobre com 2,5 milhões de habitantes.

Cerca de um terço da força de trabalho do país está desempregada e, de acordo com as Nações Unidas, 40% da população vive na pobreza. De 2008 a 2018, o número de namibianos vivendo em barracos dobrou para cerca de um milhão, de acordo com a Federação de Moradores de Barracos da Namíbia.

A decepção dos eleitores ficou evidente na tentativa de Geingob de se reeleger em 2019. Embora ele tenha vencido, sua porcentagem de votos despencou para 56%.

Um enorme escândalo de corrupção, conhecido como "fishrot" e ainda em andamento nos tribunais, ocorreu durante o governo de Geingob. Políticos e empresários proeminentes foram acusados de participar de um esquema de propina envolvendo cotas de pesca. "Ele acabou se tornando um político", disse Nduma Kamwanyah, professor de políticas públicas na Universidade da Namíbia.

Como primeiro-ministro, Geingob era conhecido como um tecnocrata eficiente que conseguia realizar as coisas, disse o Kamwanyah, e muitos namibianos esperavam que ele continuasse esse legado quando o elegeram.

Mas, como presidente, "ele não entregou muito em termos de governo", afirmou Kamwanyah.

Assim como outros movimentos de libertação no sul da África, o apoio popular à SWAPO tem diminuído à medida que uma população cada vez mais jovem se desencanta com a falta de progresso material do país, disseram analistas. Embora provavelmente mantenha o controle do país nacionalmente, a SWAPO perdeu poder em vários centros urbanos, incluindo Windhoek, e depende muito dos eleitores rurais para se manter à tona.

Embora, como presidente, não tenha conseguido melhorar significativamente as condições materiais dos namibianos, Geingob era um líder singular e carismático, disse Rui Tyitende, professor de ciência política na Universidade da Namíbia.

Ao contrário de seus dois antecessores, ele era descontraído e frequentemente se abria para as pessoas, disse Tyitende. Ele fazia reuniões comunitárias em todo o país para ouvir as preocupações do público e convidava políticos da oposição para se encontrarem com ele.

Ele dançava em comícios e ia a partidas de futebol. "Como indivíduo, acho que não há igual a Geingob em termos de seu caráter, de sua personalidade, de seus ideais - aquele entusiasmo de vida", disse Tyitende.

A morte de Geingob pode desencadear uma luta pelo poder dentro de seu partido, a Organização do Povo do Sudoeste Africano, ou SWAPO, antes das eleições nacionais programadas para novembro, disseram analistas.

Netumbo Nandi-Ndaitwah, vice-presidente da SWAPO, que governa a Namíbia desde sua independência em 1990, é a candidata presidencial mais provável, embora alguns dentro da organização a tenham desafiado.

A SWAPO é amplamente favorita para vencer as eleições, e a Sra. Nandi-Ndaitwah seria a primeira presidente mulher do país se eleita.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.