Putin tem maior vitória em quase um ano na Guerra da Ucrânia

Forças de Kiev abandonam Avdiivka, abrindo espaço para a conquista do leste do país

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São Paulo

As forças de Vladimir Putin tomaram neste sábado (17) a cidade de Avdiivka, no leste da Ucrânia, na maior vitória militar do Kremlin em quase um ano. O local é considerado chave para a conquista da região de Donetsk, que tem cerca de 55% de seu território já dominado pelos russos.

Na sexta (16), o Exército ucraniano começou a deixar a cidade para evitar um cerco total por tropas de Moscou, que intensificaram os ataques ao local desde o fim do ano passado. Segundo o general Oleksandr Tarnavskii, responsável pela operação do lado de Kiev, ainda assim alguns soldados seus foram capturados.

Vista de prédio destruído pelos combates em Avdiivka, cidade tomada pela Rússia
Vista de prédio destruído pelos combates em Avdiivka, cidade tomada pela Rússia - Serhii Nujnenko - 8.nov.2023/RFE/RL/Reuters

"Na etapa final da operação [de retirada], sob pressão das forças inimigas superiores, um certo número de militares ucranianos foi capturado", escreveu o general no Telegram. Segundo ele, suas forças foram reagrupadas em uma linha secundária de defesa a oeste da cidade.

Avdiivka é hoje mais uma ruína na Ucrânia, cerca de 15 km ao norte da capital homônima da província de Donetsk, 1 das 4 regiões que Putin anexou ilegalmente no ano retrasado apesar de não reter controle total sobre ela. Antes da guerra, tinha 32 mil habitantes.

Para analistas militares, a tomada da cidade abre o caminho para Putin tentar tomar a região de Donetsk, que, ao lado da vizinha Lugansk, compõe o território histórico do Donbass (bacia do rio Don, em russo).

A capital, Donetsk, já estava em mãos de separatistas pró-Rússia desde o início da guerra civil de 2014, que prenunciou a invasão que completará dois anos no dia 24. A Ucrânia transferiu a administração da região para Kramatorsk, que fica mais 80 km ao norte de Avdiivka.

É a principal vitória russa na guerra desde a tomada de Bakhmut, 70 km a nordeste da cidade capturada neste sábado, que ocorreu em maio do ano passado. Depois disso, o principal desenvolvimento militar em solo foi o fracasso da contraofensiva ucraniana, que havia começado em junho.

Após a tomada de Avdiivka, o Kremlin divulgou um comunicado em que afirma que Putin parabenizou os soldados envolvidos pelo que chamou de "vitória importante". De acordo com agências de notícias do país, o presidente ainda teria enviado um telegrama às tropas enaltecendo a "excelente atividade militar" que levou à conquista do território.

Para o governo de Volodimir Zelenski, são péssimas notícias. Ele trocou há duas semanas a chefia das Forças Armadas. Pressionado em campo, o novo comandante, Oleksandr Sirskii, tem apostado em ações mais espetaculares para manter o moral das tropas —ataques com mísseis contra cidades russas e o afundamento de um grande navio da Frota do Mar Negro.

Mas sua posição é precária, não menos pela falta de munição. Kiev disse que estava lutando com uma desvantagem de 5 contra 1 em termos de artilharia disponível em Avdiivka. Para piorar, o pacote de ajuda militar mais importante à vista para a Ucrânia, os R$ 300 bilhões prometidos por Joe Biden, está represado pela oposição republicana na Câmara dos Estados Unidos.

Neste sábado (17), Zelenski apelou aos líderes reunidos na Conferência de Segurança de Munique, o mais tradicional encontro do tipo da Europa. "Infelizmente, manter a Ucrânia com um déficit artificial de armas, particularmente artilharia e capacidades de longa distância, permite a Putin se adaptar à atual intensidade da guerra", afirmou.

Ele pediu essas armas e baterias de defesa antiaérea. A pressão sobre os países europeus também é grande: a Alemanha tem se recusado a fornecer mísseis de cruzeiro de longa distância Taurus, temendo que eles sejam usados contra território russo e, assim, expandir a guerra.

O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, evitou responder diretamente a questionamentos de repórteres sobre o Taurus. Em relação à munição, a União Europeia já disse que só conseguirá entregar um terço do prometido a Kiev até março.

Para Putin, se a tomada de Avdiivka de fato se tornar o início da conquista de Donetsk, ele terá uma peça de propaganda política ideal para apresentar ao eleitorado no pleito presidencial que vai de 15 a 17 de março.

É um momento delicado na Rússia, após a morte nesta sexta do líder opositor Alexei Navalni na cadeia, e tudo o que o presidente pode querer é um trunfo militar —a guerra segue com apoio de 75% da população, segundo pesquisas.

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