Descrição de chapéu Rússia

Especialista em direitos humanos da ONU diz que Rússia é culpada por morte de Navalni

Para Mariana Katzarova, Kremlin tem de ser responsabilizado porque opositor morreu sob custódia do Estado

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Genebra | Reuters

Especialista da ONU para direitos humanos na Rússia, Mariana Katzarova afirmou segunda-feira (11) que a morte de Alexei Navalni é responsabilidade do Kremlin, uma vez que o opositor de Vladimir Putin ou foi morto na prisão ou em condições de detenção que equivalem à tortura.

"Portanto, o governo russo é responsável, de uma forma ou de outra, por sua morte", disse ela às margens de um um evento sobre prisioneiros políticos russos na sede da ONU em Genebra.

A mãe e a sogra de Alexei Navalni, Liudmila e Alla, respectivamente, diante de túmulo de Navalni um dia após seu funeral no cemitério de Borisovskoie, em Moscou - 2.mar.24/Reuters

A narrativa oficial sobre a morte de Navalni é de que ele veio a óbito por razões naturais, perdendo a consciência após "sentir-se mal durante uma caminhada", nas palavras do Kremlin. Ele estava preso em uma cadeia na remota região de Iamalo-Nenets, no Ártico, e cumpria mais de 30 anos de pena por condenações diversas.

Katzarova alertou que outros opositores presos na Rússia poderiam sofrer o mesmo destino que Navalni, e se disse "muito preocupada" por exemplo com a situação do ativista pelos direitos humanos Vladimir Kara-Murza, condenado a 25 anos de cárcere no ano passado —até então, ele era uma das poucas vozes críticas ao governo russo que ainda não tinha sido detido ou exilado.

"Não há nem um dia sequer em que eu não me pergunte: quem será o próximo Navalni?", afirmou ela. "E não há dúvidas de que haverá um próximo Navalni, dado o nível de repressão."

O Kremlin considerava Navalni e seus apoiadores contraventores usados pelo Ocidente para desestabilizar a Rússia. O governo nega as acusações feitas pela viúva a de Navalni, Iulia Navalnaia, de que foi o próprio Putin que mandou matá-lo.

Navalnaia disse na semana passada que a dimensão do apoio público a seu marido desde sua morte era prova de que sua causa continuava viva e pediu um protesto massivo contra Putin, que tenta se reeleger à Presidência, durante as eleições deste ano, marcadas para o próximo fim de semana.

Navalni estava preso desde 2021, quando voltou da Alemanha após tratar os efeitos de um envenenamento sofrido na Sibéria em 2020 durante uma campanha eleitoral local. Ele acusou Putin pela ação —que, por sua vez, desdenhou da acusação, dizendo que se o Estado quisesse matar Navalni, ele já estaria morto.

O episódio, narrado em um filme que venceu o Oscar de melhor documentário no ano passado, ajudou Navalni a cristalizar sua imagem de grande crítico do Kremlin no exterior. Não à toa, o opositor foi um dos nomes lembrados na seção "in memoriam" do prêmio cinematográfico neste domingo (17).

Trecho de documentário sobre o opositor russo Alexei Navalni, morto em fevereiro, é exibido na seção "in memoriam" da 96ª edição do Oscar no Dolby Theatre, em Hollywood, Califórnia, EUA - Patrick T. Fallon - 10.mar.24/AFP

Dentro da Rússia, após uma surpreendente boa votação (27% dos votos) na campanha para prefeito de Moscou em 2013 que lhe deu o segundo lugar, ele nunca teve a mesma projeção eleitoral, no entanto. Pesquisas eleitorais lhe davam usualmente menos de 5% de intenções de voto.

Em agosto passado, Navalni foi condenado a mais 19 anos de cárcere, o que o levou a ser transferido para uma unidade ainda mais brutal do sistema penal russo.

Ao longo de sua detenção, o ativista fez greves de fome e teve uma deterioração acentuada de suas condições de saúde, o que seus advogados creditavam aos períodos de isolamento em solitárias, má nutrição e tortura psicológica. Em uma mensagem recente, ele mesmo dizia que era acordado por músicas nacionalistas pró-Putin.

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