O governo de Israel disse, neste sábado (9), que o Hamas está dificultando um acordo sobre reféns para "incendiar a região" durante o Ramadã. A declaração ocorre um dia antes do prazo dado por Binyamin Netanyahu para invadir Rafah, neste domingo (10), quando começa o mês sagrado para os muçulmanos.
De acordo com o Israel, autoridades da Mossad e da CIA, agências de inteligência israelense e americana, respectivamente, se reuniram na sexta-feira (8) para tentar garantir a liberação dos reféns na Faixa de Gaza, em troca de um cessar-fogo.
O conflito começou há cinco meses com um ataque terrorista em território israelense que deixou 1.200 mortos, e a reação de Netanyahu levou a uma crise humanitária em Gaza, onde há mais de 30 mil vítimas, segundo autoridades do país.
"O chefe do Mossad, David Barnea, se reuniu ontem [sexta-feira, 8] com o chefe da CIA, Bill Burns, como parte dos incessantes esforços para avançar em outro acordo para a liberação de reféns", diz o gabinete de Netanyahu.
O texto diz ainda que Israel está em contato com os mediadores para um possível acordo, mas que o Hamas "não está interessado". O comunicado não detalhou onde Barnea e Burns se reuniram.
"Neste ponto, o Hamas está se enrijecendo em suas posições como alguém que não está interessado em um acordo e busca inflamar a região durante o Ramadã, às custas dos residentes palestinos da Faixa de Gaza", acrescentou o texto.
Em paralelo, o governo de Netanyahu atacou, neste sábado, uma das maiores torres residenciais em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza, disseram moradores à agência Reuters, aumentando a pressão sobre a última área do enclave que ainda não foi invadida.
O prédio de 12 andares foi danificado no ataque, e os moradores disseram que dezenas de famílias ficaram desabrigadas, embora não haja relatos de vítimas até o momento. Os militares de Israel disseram que o bloco residencial estava sendo usado pelo Hamas para planejar ataques contra israelenses.
Um dos 300 moradores da torre, localizada a cerca de 500 metros da fronteira com o Egito, disse à Reuters que Israel lhes deu um aviso de 30 minutos para fugirem do prédio à noite.
"As pessoas se assustaram, desceram as escadas correndo, algumas caíram, foi um caos. As pessoas deixaram para trás pertences e dinheiro", disse Mohammad Al-Nabrees, acrescentando que entre aqueles que tropeçaram nas escadas durante a saída em pânico estava a esposa grávida de um amigo.
O ataque deixou os moradores em alerta para uma potencial nova investida de Israel a Rafah, onde mais de metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão abrigados.
O primeiro-ministro de Israel afirmou na quinta-feira (7) que Tel Aviv manterá em curso a invasão da Faixa de Gaza, inclusive de Rafah. "Há pressão internacional, e ela está aumentando. Mas especialmente quando a pressão internacional aumenta é que devemos cerrar fileiras e nos unir contra as tentativas de parar a guerra", disse.
O Exército seguirá operando contra o Hamas em toda a Faixa de Gaza, afirmou Netanyahu, "incluindo Rafah, o último reduto do Hamas". "Quem nos disser para não agir em Rafah está nos dizendo para perder a guerra e isso não vai acontecer."
Superlotado por deslocados internos, Rafah é o maior centro urbano de Gaza que ainda não foi alvo de uma invasão terrestre do Exército de Israel, embora bombardeios atinjam a cidade desde o início do conflito. O local fica na fronteira com o Egito e tem sido a porta de entrada para ajuda humanitária que não é barrada em direção ao território palestino.
A delegação do Hamas que participa de negociações por uma trégua com Israel na Faixa de Gaza, ao deixar Cairo na última quinta-feira, disse em comunicado que continuará com os diálogos pelo cessar-fogo no território palestino até que um acordo seja alcançado.
Sami Abu Zuhri, alta autoridade do grupo terrorista, culpou Israel por "bloquear" as conversas e impedir o progresso das negociações que envolvem também a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas e mantidos em Gaza.
"A delegação do Hamas deixou o Cairo nesta manhã para consulta com a liderança do movimento. As negociações e esforços continuam para parar a agressão, devolver os deslocados internos e trazer ajuda humanitária para nosso povo", disse o grupo em comunicado.
Abu Zuhri afirmou à Reuters que Israel tem rejeitado durante os quatro dias de negociações no Cairo as demandas do Hamas para encerrar sua ofensiva no território palestino, retirar suas Forças Armadas de lá e garantir a liberdade de entrada para ajuda humanitária e retorno de pessoas deslocadas.
Negociadores do Hamas, do Qatar e do Egito —os dois últimos têm mediado o diálogo entre as partes envolvidas— tentaram nesta semana garantir um cessar-fogo de 40 dias a tempo do Ramadã. Israel não enviou delegação ao Cairo.
Superlotada por deslocados internos, a cidade de Rafah é o maior centro urbano de Gaza que ainda não foi alvo de uma invasão terrestre do Exército de Israel, embora bombardeios atinjam a cidade desde o início do conflito. O local fica na fronteira com o Egito e tem sido a porta de entrada para ajuda humanitária que não é barrada em direção ao território palestino.
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