Putin diz que vai abater caças do Ocidente na Ucrânia, mas descarta ataque à Otan

Em discurso a pilotos da Força Aérea, presidente russo diz não ter 'intenções agressivas' contra aliança liderada pelos EUA

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Moscou e Kiev | Reuters

A Rússia não tem planos de atacar nenhum país da Otan, mas se o Ocidente fornecer caças F-16 para a Ucrânia, eles serão abatidos. A declaração foi feita pelo presidente Vladimir Putin a pilotos da Força Aérea de seu país na noite desta quarta-feira (27).

"Não temos intenções agressivas em relação a esses Estados", disse ele, de acordo com uma transcrição do Kremlin divulgada nesta quinta (28). "A ideia de que atacaremos alguma outra nação é bobagem, conversa fiada", completou.

O presidente russo, Vladimir Putin, conversa com pilotos da Força Aérea na cidade de Torzhok - Sergei Karpukhin - 27.mar.2024/Sputnik via Reuters

Já em relação aos caças que o Ocidente prometeu enviar para a Ucrânia, Putin subiu o tom. "Se eles fornecerem F-16 —e estão falando sobre isso e aparentemente treinando pilotos— isso não mudará a situação no campo de batalha. Destruiremos as aeronaves assim como destruímos hoje tanques, veículos blindados e outros equipamentos."

Isso incluiria, segundo o líder, abatê-los também em aeródromos de países terceiros. "Veríamos os caças como alvos legítimos [...] não importa onde estejam localizados", afirmou. "As aeronaves F-16 também podem transportar armas nucleares, e teremos que levar isso em consideração ao organizar nossas operações de combate."

Avião de combate mais popular do mundo, o F-16 é considerado de fácil manejo e flexibilidade operacional, e por isso é objeto de desejo da Ucrânia para tentar reverter a vantagem aérea das forças invasoras da Rússia. Holanda e Dinamarca prometeram fornecer seus antigos F-16 A/B para Kiev, e o treinamento de pilotos está em curso.

As declarações de Putin sucedem os comentários feitos horas antes pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, de que as aeronaves devem chegar ao território invadido nos próximos meses.

"Inicialmente, estava planejado que os F-16 apareceriam no espaço aéreo da Ucrânia no meio do verão [entre julho e agosto, no hemisfério Norte]. Hoje, tudo está indo conforme o planejado. No entanto, esta é certamente uma questão muito complexa, por isso nunca se sabe como as coisas podem mudar", afirmou o chanceler ucraniano em visita a Varsóvia.

A invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, desencadeou a mais profunda tensão nas relações da Rússia com o Ocidente desde a Crise dos Mísseis Cubanos, em 1962. O Kremlin, que acusa os EUA de lutarem contra a Rússia ao apoiar os ucranianos com dinheiro, armas e inteligência, diz que os laços com Washington nunca estiveram piores.

Nesse cenário, a fala de Putin não deve arrefecer a tensão entre as nações. Nesta quinta, por exemplo, o chefe do Exército da Estônia afirmou que seu país precisa dobrar os gastos com defesa nos próximos dois anos se quiser estocar munições suficientes para derrotar a Rússia em uma eventual invasão.

"Se você pisar sobre a minha fronteira, a vitória decisiva deve vir muito rapidamente —não em meses e anos, mas em dias e semanas", disse o general Martin Herem em uma entrevista no Japão, onde se encontrou com outras autoridades militares. "Se realmente acreditamos que isso pode acontecer em três anos, precisamos tomar decisões hoje."

Para ele, a ameaça de uma resposta nuclear e a perspectiva de baixas significativas não são suficientes para deter Putin caso ele resolva atacar países vizinhos. No mês passado, o Serviço de Inteligência da Estônia afirmou que Moscou estava se preparando para um confronto militar com o Ocidente com duração de uma década e pretendia dobrar o número de forças que ficam ao longo da fronteira com os países Bálticos e a Finlândia.

Desde que a Rússia anexou a região ucraniana da Crimeia, em 2014, a Estônia aumentou seu orçamento de defesa para cerca de 3% do PIB (Produto Interno Bruto). Outros países da Otan também têm reforçado sua presença nos estados Bálticos —a Alemanha, por exemplo, planeja ter 4.800 soldados prontos para combate na região até 2027, sua primeira implantação estrangeira permanente desde a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto isso, o conflito segue no território ucraniano. Nesta quinta, o Exército do país invadido afirmou que suas forças abateram 26 de 28 drones de ataque lançados durante a noite pela Rússia. Os equipamentos, de fabricação iraniana, foram destruídos sobre partes do leste, sul e sudeste da Ucrânia, disse a força aérea.

O governador de Zaporíjia, no sul, disse no Telegram que duas mulheres ficaram feridas após destroços atingirem um bairro residencial na capital da região. Autoridades na região de Kharkiv, no leste, por sua vez, afirmam que um restaurante, uma loja e escritórios foram danificados por destroços de três drones.

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