Bombardeiros dos EUA testam defesa da Rússia no Ártico

Pela segunda vez na semana, aviões B-1B foram interceptados por caças MiG-31 no mar de Barents

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São Paulo

Pela segunda vez na mesma semana, dois bombardeiros estratégicos dos Estados Unidos decolaram da Noruega para testar as defesas da Rússia no Círculo Polar Ártico, uma das novas fronteiras de atrito entre as potências nucleares.

Assim como no domingo (24), nesta terça (26) um caça MiG-31 foi acionado na região de Murmansk e interceptou dois bombardeiros B-1B que operam a partir da base de Kallax, no norte da Noruega. Os aviões americanos deram meia-volta sobre o mar de Barents, sem chegar a violar o espaço aéreo russo.

Um bombardeiro B-1B Lancer durante uma exibição aérea na Índia em 2021
Um bombardeiro B-1B Lancer durante uma exibição aérea na Índia em 2021 - Samuel Rajkumar - 3.fev.2021/Reuters

A missão dos bombardeiros, nos dois dias, foi apoiada por três aviões-tanque e um de comunicações e espionagem. Ela ocorre após o fim do exercício Nordic Response 2024, da Otan [aliança militar liderada pelos EUA], quer reuniu 20 mil soldados na Noruega.

O norte europeu e o Ártico são pontos agudos na disputa geopolítica entre Washington e Moscou. A entrada da Finlândia e da Suécia na Otan, provocada pela invasão russa da Ucrânia em 2022, disparou uma militarização da região.

Interceptações são bastante frequentes nas áreas tensas do mundo, seja o mar do Sul da China ou o Negro. Potências fazem testes mútuos acerca de sua capacidade e velocidade de reação ante a ameaça a seu espaço aéreo. O risco, evidente, é o de esbarrões indevidos e acidentes.

Mas duas ocorrências em sequência mostram um padrão de teste, e também um sinal dos EUA de que não deixarão o flanco norte da Otan desguarnecido. Desde que a Finlândia entrou na Otan, dobrando a fronteira da aliança com a Rússia, Moscou tem divulgado ameaças periódicas ao país nórdico —o Ministério da Defesa disse que irá posicionar tropas em armamentos antes inexistentes na região.

Os B-1B são aviões desenhados na Guerra Fria para penetração supersônica e ataque nuclear contra alvos da antiga União Soviética. Após o fim do império comunista, em 1991, eles foram gradativamente movidos apenas para operações convencionais.

Hoje, os modelos para ataque nuclear dos EUA são os bombardeiros B-2 e B-52, além de caças F-16, neste caso para o lançamento de pequenas armas táticas, visando alvos militares menores. O mais moderno F-35 está sendo qualificado para a mesma missão.

O Círculo Polar Ártico é estratégico para a Rússia. O grosso de sua frota de submarinos estratégicos, que lançam mísseis com ogivas nucleares, fica baseado na região de Murmansk.

Os campos de gás da área de Iamal são a fonte do gás natural liquefeito que os russos passaram a vender em grande quantidade com os embargos a outras modalidades do produto na Europa. O degelo ártico, provocado pelas mudanças climáticas, tem favorecido a ampliação do uso de rotas mais curtas marítimas ligando o país à China, e há exploração mineral de todo tipo em curso na região.

De olho nisso, os EUA pousaram pela primeira vez os B-1B na Noruega, que evitava esse tipo de operação para não melindrar a Rússia, em 2021. De lá para cá, missões desses e outros aviões de ataque passaram a ser uma constante.

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