Quem foi Marwan Issa, vice-comandante da ala militar do Hamas morto em Gaza

Morte de liderança é uma das mais significativas desde início da guerra, mas não deve afetar estrutura do grupo terrorista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Adam Rasgon
Jerusalém | The New York Times

Marwan Issa, vice-comandante da ala militar do Hamas na Faixa de Gaza e suposto mentor do ataque de 7 de outubro ao sul de Israel, foi confirmado como morto na segunda-feira (18) por uma autoridade dos Estados Unidos após um ataque aéreo israelense há mais de uma semana.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, confirmou aos jornalistas o óbito do combatente. O contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças Armadas de Israel, disse em 11 de março que os aviões militares israelenses tinham como alvo Issa e outra autoridade do Hamas em um complexo subterrâneo no centro de Gaza.

Marwan Issa, que é vice-chefe da ala militar do Hamas que foi morto pelas forlas israelenses. Da esquerda para a direita: Ahmed Jabari, Marwan Issa e Saleh al-Arouri - Reproduçao

Com sua morte, Issa, que estava entre os homens mais procurados por Tel Aviv, tornou-se o líder mais graduado do Hamas a ser morto em Gaza desde o início da guerra. As autoridades israelenses caracterizaram o ataque como um avanço em sua campanha para eliminar a liderança da facção no território palestino.

Mas os especialistas advertiram que sua morte não teria um efeito devastador sobre a estrutura de liderança do Hamas. Israel já matou líderes políticos e militares do facção no passado, mas eles foram rapidamente substituídos.

Qual era o papel de Issa no Hamas?

Issa, que tinha 58 ou 59 anos no momento de sua morte, atuava desde 2012 como vice de Mohammed Deif, chefe da ala militar do grupo terrorista palestino Hamas. Issa assumiu o cargo após o assassinato de outro importante comandante, Ahmed al-Jabari.

Issa atuou tanto no conselho militar do Hamas quanto em seu escritório político em Gaza, supervisionado por Yehia Sinwar, a mais alta autoridade do grupo na região. Issa foi descrito por analistas palestinos e ex-oficiais de segurança israelenses como um importante estrategista que desempenhou um papel fundamental de ligação entre os líderes militares e políticos do Hamas.

Salah al-Din al-Awawdeh, um analista palestino próximo ao Hamas, descreveu a posição de Issa no grupo como "parte da linha de frente da liderança da ala militar". Já o major-general Tamir Hayman, ex-chefe da inteligência militar israelense, disse que Issa era simultaneamente o "ministro da defesa", o vice-comandante militar e a "mente estratégica" do Hamas.

O que sua morte significa para o grupo?

Os especialistas descreveram Issa como um importante sócio de Deif e Sinwar, embora tenham dito que sua morte não representa uma ameaça à sobrevivência do grupo.

"Sempre há um substituto", disse Awawdeh. "Não creio que o assassinato de qualquer membro da ala militar tenha efeito sobre suas atividades."

Michael Milshtein, ex-oficial da inteligência militar israelense e especialista em assuntos palestinos, disse que a morte de Issa foi um golpe significativo para a ala militar do grupo terrorista, chamada de Brigadas Qassam, embora tenha admitido que não foi "o fim do mundo" para o Hamas.

"Ele tinha muita experiência", disse Milshtein. "Sua morte é uma grande perda para o Hamas, mas não é uma perda que levará ao seu colapso e não o afetará por muito tempo. Em uma ou duas semanas, eles superarão isso".

Milshtein acrescentou que, embora a opinião de Issa fosse valorizada nos níveis mais altos do Hamas, o fato de ele não comandar diretamente os combatentes fez com que sua morte não deixasse um buraco aberto nas operações do Hamas.

Como ele foi descrito?

Issa era um membro menos conhecido da alta cúpula do Hamas, mantendo um perfil discreto e raramente aparecendo em público.

Gerhard Conrad, ex-oficial da inteligência alemã que conheceu Issa há mais de uma década, descreveu-o como uma pessoa "decidida e tranquila", sem carisma. "Ele não era muito eloquente, mas sabia o que dizer e ia direto ao ponto", disse Conrad em uma entrevista.

Conrad disse que se encontrou com Issa, al-Jabari e Mahmoud al-Zahar, outra autoridade do Hamas, cerca de dez vezes entre 2009 e 2011 na cidade de Gaza. Os homens se encontraram como parte de um esforço para intermediar uma troca de prisioneiros entre Israel e o Hamas.

"Ele era o mestre dos dados sobre os prisioneiros", disse Conrad sobre Issa. "Ele tinha todos os nomes para serem negociados." Conrad, no entanto, disse que era evidente na época que Issa era um subordinado de al-Jabari. "Ele era uma espécie de chefe de gabinete", disse ele.

Foi somente após o assassinato de al-Jabari que a proeminência de Issa aumentou, mas ele ainda fazia questão de não ser visto. Poucas imagens de Issa são de domínio público.

O que se sabe sobre sua infância?

Issa nasceu na área de Bureij, no centro de Gaza, em 1965, mas sua família é originária do que hoje é a área de Ashkelon, em Israel.

Membro do Hamas há décadas, ele esteve envolvido com o grupo que perseguia palestinos que supostamente haviam colaborado com Israel, informou al-Awawdeh.

Issa passou algum tempo em prisões operadas tanto por Israel quanto pela Autoridade Palestina.

Hagari disse que Issa ajudou a planejar o ataque de 7 de outubro liderado pelo Hamas, mas acredita-se que Issa também tenha planejado operações com o objetivo de se infiltrar nos assentamentos israelenses durante a segunda intifada nos anos 2000, afirmou Milshtein.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.