Blinken vai visitar Israel em meio a auge de tensão entre Biden e Netanyahu

Secretário de Estado americano inclui parada em giro pelo Oriente Médio e tenta conter desgaste ampliado por iminente invasão terrestre em Rafah

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São Paulo

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, visitará Israel na próxima sexta-feira (22), em meio a um dos piores momentos da relação entre Joe Biden e Binyamin Netanyahu desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em outubro do ano passado.

Blinken chegou nesta quarta (20) à Arábia Saudita, onde começou sua sexta viagem pelo Oriente Médio desde o conflito em Gaza. O Departamento de Estado só informou da parada em Jerusalém com ele já em Riad, sem dar detalhes.

O porta-voz da pasta, Matthew Miller, afirmou que um dos objetivos de Blinken é discutir com as autoridades israelenses modos de derrotar o Hamas, "inclusive em Rafah, de um modo que proteja a população civil, não impeça a entrega de assistência humanitária e amplie a segurança de Israel como um todo".

Última cidade de Gaza que ainda não foi alvo de uma operação terrestre maciça das forças israelenses, Rafah se tornou uma questão central para o desgaste entre a Casa Branca e o governo de Netanyahu. Biden chegou a dizer em entrevista que a abordagem do premiê em relação à guerra "mais prejudicava do que ajudava" Israel e que Rafah representava "uma linha vermelha", um limite intransponível à ação de Tel Aviv.

População e socorristas inspecionam escombros e destroços de um edifício que desabou após ataque aéreo de Israel em campo de refugiados de Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Said Khatib/AFP

Questionado no dia seguinte sobre os planos de invasão de Rafah, Netanyahu deu o recado. "Temos de fato uma ‘linha vermelha’. Sabe qual é ela? Que o 7 de Outubro não aconteça de novo, jamais." Desde então, o premiê tem dito reiteradamente que manterá o plano de entrar com tropas na cidade palestina que faz fronteira com o Egito, apesar dos temores internacionais de um aumento da crise humanitária.

Na terça-feira (19), Bibi, como é conhecido, declarou a parlamentares israelenses que deixou "extremamente claro" ao presidente americano a determinação de invadir Rafah.

Superlotada, a cidade abriga hoje cerca de 1,5 milhão dos 2,2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, e os relatos de desabastecimento e fome devido à restrita ajuda humanitária diante do bloqueio imposto por Israel se avolumam.


A tensão pública entre as duas gestões tem poucos precedentes na história, já que os EUA são um aliado do país do Oriente Médio desde a sua fundação, em 1948. Na semana passada, Chuck Schumer, líder do Partido Democrata no Senado e o mais alto funcionário judeu eleito dos EUA, pediu que os israelenses substituíssem Netanyahu. Biden chamou a fala de um "bom discurso".

Mesmo antes da guerra, porém, a relação entre os dois países já estava estremecida. O presidente americano criticava abertamente a reforma judicial proposta pela coalizão de Bibi, que teve de recuar parcialmente diante dos protestos nas ruas e da repercussão negativa.

Para o instituto sueco V-Dem, Israel não é mais uma democracia liberal, como foi classificado nos últimos 50 anos, e passou a ser uma democracia eleitoral. A conclusão foi divulgada pela organização nesta quarta (20) como parte de um relatório publicado anualmente e considerado uma das referências globais em classificação de regimes políticos.

"Isso deve-se principalmente a quedas substanciais nos indicadores que medem a transparência e a previsibilidade da lei e aos ataques do governo ao Poder Judiciário", afirma o relatório. "Entre outras coisas, a Assembleia de Israel aprovou um projeto de lei em 2023 retirando da Suprema Corte o poder para invalidar leis, minando assim os controles sobre o Poder Executivo."

Antes da chegada a Israel sob tensão, Blinken ainda se reuniria em Riad com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e nesta quinta (21) seguiria para o Cairo, onde deve conversar com líderes regionais sobre os esforços para garantir um cessar-fogo nos combates.

Com mais de cinco meses de guerra, a UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos) estima que os bombardeios já deixaram mais de 23 milhões de toneladas de ruínas. "Serão necessários anos para se livrar dos escombros", estimou a entidade.

A casa de Um Nael al Kahlout e seu marido, Saed Ismail, está entre as que foram destruídas. Eles levaram 30 anos para construir o prédio de cinco andares em Jabalia, no norte de Gaza. O casal se deslocou para Rafah, no sul, mas retornou após a retirada das tropas israelenses das proximidades de sua residência. Ao voltar, Um Nael diz ter ficado chocada ao ver sua casa no chão. "Um dos andares era um estúdio equipado com câmeras, material e computadores. Tudo está sob os escombros", diz ela.

"Montamos um abrigo sobre as ruínas. São nossas lembranças, nossa casa, trabalhamos duro para construí-la. Ficamos aqui porque não há para onde ir. Não há abrigo", afirma.

A principal urgência do casal é encontrar comida. "Vamos a associações de caridade e ficamos na fila na esperança de receber malva", diz Saed, citando uma erva com a qual faz sopa. "É sempre malva, não comemos mais nada."

Com Reuters e AFP

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