Diplomatas do México deixam Equador após invasão da embaixada

Polícia entrou em prédio em Quito para prender ex-vice-presidente Jorge Glas, que buscava asilo

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São Paulo

Diplomatas do México no Equador retornaram a seu país de origem neste domingo (7) após a embaixada em que atuavam, em Quito, ser invadida por policiais na última sexta-feira (5).

"Nossos funcionários diplomáticos deixam tudo no Equador e voltam para casa com a cabeça erguida e o nome do México elevado", afirmou a secretaria das Relações Exteriores mexicana, Alicia Bárcena, na rede social X.

Vista aérea da embaixada do México em Quito, no Equador - Rodrigo Buendía/AFP

De acordo com a pasta que comanda, países aliados apoiaram o trajeto dos funcionários até o aeroporto da capital "para garantir a integridade" da delegação. "Agradecemos aos embaixadores da Alemanha, do Panamá, de Cuba e de Honduras, ao presidente da Câmara Equador-México e ao restante do pessoal diplomático por sua solidariedade com o povo do México", afirmou a secretaria pelo X.

O grupo, que segundo autoridades mexicanas é integrado por 18 pessoas, viajou em um voo comercial depois de descartar a possibilidade de usar um avião militar devido à tensão. O único voo direto de Quito para a Cidade do México estava programado para aterrissar às 12h45 locais deste domingo (15h45 em Brasília), segundo informações do terminal aéreo.

Na última sexta, uma invasão sem precedentes a uma embaixada na região foi o estopim da crise entre os dois países, que já se intensificava nos dias anteriores. Agentes encapuzados a bordo de carros blindados entraram na sede da missão diplomática mexicana para retirar à força o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que se refugiava no local para evitar o cumprimento de um mandado de prisão.

A operação fez o México anunciar o rompimento das relações com o Equador, que recebeu uma onda de repúdio de outros países da região. Nações lideradas por políticos de esquerda e direita, como Brasil, Argentina, Venezuela, Cuba, Bolívia, Uruguai, Honduras, Chile e Panamá condenaram a ação, e a Nicarágua também anunciou a ruptura das relações diplomáticas com Quito.

Neste domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "alarmado" pela invasão e reafirmou a importância de manter a inviolabilidade de locais diplomáticos. Segundo ele, esses espaços deveriam ser respeitados "em todos os casos, em conformidade com o direito internacional".

"O secretário-geral afirmou que violações desse tipo colocam em risco a manutenção das relações internacionais, que são fundamentais para o avanço da cooperação entre os Estados", disse o porta-voz Stéphane Dujarric em comunicado.

A Convenção de Viena, assinada pelo Equador em 1961, determina que os países signatários devem tomar todas as medidas para proteger a missão diplomática de outras nações em seu território e que seus prédios e propriedades são imunes a buscas e apreensões.

"As instalações da missão serão invioláveis. Os agentes do Estado receptor não poderão entrar nelas, exceto com o consentimento do chefe da missão", diz o texto em seu artigo 22.

O Departamento de Estado americano também se pronunciou por meio do porta-voz Matthew Miller. O funcionário afirmou por meio de um comunicado divulgado no sábado (6) que os Estados Unidos condenam qualquer violação da convenção que protege missões diplomáticas e incentivam os dois países "a resolverem suas diferenças de acordo com as normas internacionais."

A Espanha também condenou a invasão. "A entrada à força na embaixada do México em Quito constitui uma violação da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961", indicou o Ministério das Relações Exteriores espanhol em um comunicado. "Fazemos um apelo ao respeito pelo direito internacional e à conciliação entre México e Equador."

O escândalo internacional não foi suficiente para o presidente Daniel Noboa, um empresário e ex-deputado de centro-direita, recuar. Neste domingo, enquanto participava de uma cerimônia indígena em Otavalo, cidade no norte do país, o político afirmou estar na Presidência por uma escolha da população equatoriana.

"Com esse mesmo princípio, nunca permitirei que um pequeno grupo de pessoas se imponha como maioria. A agenda do Equador é imposta pela maioria e não por um pequeno grupo de pessoas", afirmou Noboa. "O comando e o poder são dados pelo povo equatoriano, sou um veículo disso."

Vídeos que circularam na imprensa local mostram o momento em que o funcionário da embaixada mexicana Roberto Canseco é jogado no chão por policiais ao tentar alcançar um dos carros do comboio que invadiu o prédio na sexta. Ele estava encarregado da diplomacia do país no Equador após a embaixadora mexicana, Raquel Serur, ser expulsa na véspera, quando a crise entre as duas nações já escalava.

A tensão começou na quarta-feira (3), quando o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que o assassinato do candidato Fernando Villavicencio, na campanha presidencial equatoriana de 2023, abriu caminhos para a vitória do atual presidente.

A administração de Noboa reagiu e expulsou a embaixadora mexicana do país. Um dia depois, o México concedeu asilo a Glas, seguindo o costume de abrigar correístas como o ex-chanceler Ricardo Patiño e os deputados Soledad Buendía, Carlos Viteri e Gabriela Rivadeneira.

O ex-vice tentava fugir das autoridades equatorianas, refugiando-se na embaixada do México no Equador desde o dia 17 de dezembro —pesam contra o político uma acusação de peculato e duas condenações por corrupção, crimes pelos quais ele já cumpriu cinco anos de prisão antes de obter liberdade condicional a partir de um habeas corpus, em 2022.

Após a detenção, ele foi levado para a prisão de segurança máxima La Roca, em Guayaquil. Sua defesa, que costuma argumentar que os processos são casos de perseguição judicial, já apresentou um habeas corpus pedindo sua libertação.

Com AFP e Reuters

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