EUA vetam adesão da Palestina como membro pleno da ONU

Resolução que reconhece Estado palestino como parte das Nações Unidas teve ainda abstenção de Reino Unido e Suíça

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Nova York | Reuters

Os Estados Unidos exerceram seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e barraram resolução para reconhecimento de um Estado palestino como membro pleno da organização, nesta quinta-feira (18).

A decisão de Washington, maior aliada de Israel apesar de rusgas recentes, já era esperada. Reino Unido e Suíça se abstiveram, enquanto os outros 12 membros do conselho votaram a favor do texto.

"Os Estados Unidos continuam apoiando firmemente a solução de dois Estados. Essa votação não reflete a oposição à condição de Estado palestino, mas sim o reconhecimento de que isso só ocorrerá por meio de negociações diretas entre as partes", disse o embaixador adjunto dos EUA nas Nações Unidas, Robert Wood.

O vice-embaixador dos EUA nas Nações Unidas, Robert Wood, vota contra a adesão da Palestina à ONU durante reunião do Conselho de Segurança - Eduardo Munoz/Reuters

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou a decisão americana. Em comunicado, a Presidência palestina disse que o veto dos EUA foi "injusto, antiético e sem justificativa".

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores de Israel elogiou a postura de Washington. "A vergonhosa proposta foi rejeitada. O terrorismo não será recompensado", disse o chanceler Israel Katz.

O projeto de resolução apresentado pela Argélia recomendava "à Assembleia-Geral que admita o Estado da Palestina como membro das Nações Unidas".

A admissão de um Estado na ONU deve receber primeiro uma recomendação positiva do Conselho de Segurança —pelo menos 9 votos de 15 a favor, e depois ser aprovada pela Assembleia-Geral por maioria de dois terços. Isso, por óbvio, se não houver veto de algum dos integrantes permanentes do Conselho de Segurança: EUA, Rússia, China, Reino Unido e França.

"As recentes escaladas tornam ainda mais importante apoiar esforços de boa-fé para encontrar uma paz duradoura entre Israel e um Estado palestino plenamente independente, viável e soberano", disse o Secretário-Geral da organização, António Guterres, ao Conselho. "A falta de progresso em direção a uma solução de dois Estados só aumentará a volatilidade e o risco para centenas de milhões de pessoas na região, que continuarão a viver sob a constante ameaça de violência", afirmou ele.

O presidente da Autoridade Palestina iniciou o procedimento para ingresso na organização em setembro de 2011.

Em novembro do ano seguinte, os palestinos obtiveram o status menor de "Estado observador não membro". No início deste mês, a delegação palestina relançou sua solicitação para se tornar integrante de pleno direito da ONU.

O Brasil se mostrava a favor da iniciativa apresentada pela Argélia. Em março, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o ex-primeiro-ministro palestino Mohammed Shtayyeh na Cisjordânia e discutiu estratégias conjuntas para tal objetivo.

Desde o início da guerra no Oriente Médio em 7 de outubro, líderes mundiais vêm se posicionando a favor da retomada de negociações de paz para a criação de um Estado palestino ao lado do Estado de Israel.

A chamada solução de dois Estados, porém, é rejeitada pela maioria dos habitantes da região em ambos os lados. Ao menos é o que indica uma pesquisa realizada pela Universidade de Tel Aviv em parceria com o Centro Palestino para Estudo de Política e Pesquisa (PSR), com sede em Ramallah, na Cisjordânia —realizada antes do atual conflito na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas.

Cerca de um terço dos palestinos que viviam nos territórios ocupados (33%) e dos judeus israelenses (34%) apoiavam a solução de dois Estados em dezembro de 2022, momento em que a pesquisa foi feita.

A proposta tinha apoio majoritário na década passada, mas perdeu popularidade com o passar dos anos. Em 2016, apoiavam a solução de dois Estados 51% dos palestinos e 53% dos judeus israelenses.

A ideia de dividir a região em um Estado de Israel e outro Estado palestino existe desde 1947, um ano antes da fundação de Israel. A Assembleia-Geral da ONU aprovou na ocasião a partilha da Palestina, então sob mandato britânico.

A proposta ganhou novo fôlego em 1993, quando os Acordos de Oslo criaram a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que funcionaria como governo transitório que deveria ser sucedido por um Estado palestino na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, territórios sob ocupação militar de Israel desde 1967.

O plano, mais uma vez, não se concretizou. Tel Aviv expandiu a presença de colonos nos territórios ocupados e, desde então, há registros de aumento na violência contra palestinos nos locais, o que inclui restrições de movimento, encarceramento em massa e assassinatos.

Hoje, a ANP tem atuação limitada em cerca de 40% da Cisjordânia e passa hoje por grave crise de legitimidade. Seu presidente, Mahmoud Abbas, foi eleito em 2005 para um mandato de quatro anos que se estende até hoje.

Já a Faixa de Gaza é governada pelo grupo terrorista Hamas sob bloqueio israelense desde 2007. Após os ataques terroristas de 7 de outubro em território israelense, Tel Aviv invadiu a Faixa com o objetivo de eliminar a facção.

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