Exército de Israel reduz tropas no sul da Faixa de Gaza após pressão internacional

Tel Aviv diz ter cumprido missão na região; movimento acontece em meio a protestos contra possível invasão de Rafah

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São Paulo

O Exército de Israel afirmou neste domingo (7), dia em que guerra na Faixa de Gaza completou seis meses, que reduziu a presença de suas tropas no sul do território palestino. Segundo a agência de notícias Reuters, um porta-voz militar afirmou que apenas uma brigada permanece na região.

"Hoje, domingo, 7 de abril, a 98ª Divisão de Comando das Forças de Defesa de Israel concluiu sua missão em Khan Yunis. A divisão deixou a Faixa de Gaza para se recuperar e se preparar para operações futuras", afirmou o Exército em comunicado enviado à agência de notícias AFP.

Palestinos que se refugiaram em Rafah deixam a cidade para regressar a Khan Yunis depois de Israel retirar parte das tropas do sul da Faixa de Gaza - Mohammed Abed/AFP

A retirada acontece no momento em que Israel sofre pressão da comunidade internacional para não invadir Rafah, próxima da fronteira com o Egito. A cidade é o último refúgio em Gaza para cerca de 1,5 milhão de palestinos —mais da metade da população total desse território devastado por bombardeios.

O jornal local Haaretz afirma, atribuindo a informação a um oficial do Exército que não quis se identificar, que a medida seria fruto do esgotamento das operações de inteligência na região, não de uma exigência do presidente americano, Joe Biden, ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.

Segundo esse membro do Exército, a retirada permite que parte dos abrigados em Rafah retornem para suas casas em Khan Yunis —o que já começou a acontecer. Após o anúncio, dezenas de refugiados foram vistos fazendo o caminho de volta a pé, em carros ou em carroças.

Eles encontrarão, porém, uma das cidades mais atingidas pelos ataques israelenses. Médicos disseram ter encontrado pelo menos 12 corpos palestinos na área, segundo a Reuters.

Seis meses de guerra deixaram Gaza em ruínas, e a maioria dos seus 2,4 milhões de habitantes está à beira da fome, segundo a ONU.

Em todo o território palestino, mais de 88 mil edificações —cifra equivalente a cerca de 35% das construções da Faixa de Gaza— foram destruídas ou danificadas desde o início do conflito, em outubro. Em março, a UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos) estimou que os bombardeios já haviam deixado mais de 23 milhões de toneladas de destroços em Gaza. "Serão necessários anos para se livrar dos escombros", afirmou a entidade na ocasião.

Não ficou claro se a retirada atrasaria a invasão de Rafah, no sul de Gaza, que Netanyahu diz ser necessária para eliminar o Hamas, a despeito do alto custo humanitário que implicaria, segundo diversas organizações internacionais.

Questionado sobre o recuo, o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Herzi Halevi, disse a jornalistas que Israel está adaptando seus métodos a uma guerra longa. Já o ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou por meio de um comunicado de seu gabinete que as tropas estão se retirando para se prepararem para suas próximas missões, que incluem a operação em Rafah.

Nos últimos meses, a possível incursão à cidade se tornou um ponto de tensão entre Israel e alguns de seus principais aliados, incluindo os EUA. Na última quinta-feira (4), Biden falou publicamente pela primeira vez em condicionar o apoio a Tel Aviv a uma mudança de postura do aliado na Faixa de Gaza

Em um telefonema, o americano afirmou a Bibi, como o premiê israelense é chamado, que o país precisaria adotar passos "específicos, concretos e mensuráveis" para lidar com danos a civis, sofrimento humanitário e segurança de trabalhadores humanitários em Gaza. A advertência aconteceu após um ataque de Israel a um comboio sinalizado da ONG World Central Kitchen (WCK) matar sete trabalhadores humanitários no começo da semana.

"A ocupação retirou as forças de Khan Yunis, os americanos estão pressionando depois que alguns estrangeiros foram mortos e o Egito está realizando uma grande rodada de negociação. Desta vez estamos esperançosos", disse Imad Joudat, 55, à Reuters por um aplicativo de mensagens. Ele vive com sua família de oito membros em uma tenda em Rafah.

Bibi costuma manter sua posição em relação aos planos de invasão. No domingo passado (31), após enfrentar uma noite de protestos contra seu governo dentro de Israel, o premiê fez um discurso no qual reafirmou que pretende adentrar a cidade. "Leva tempo, mas será feito. Não há vitória sem isso", afirmou ele na ocasião.

Neste domingo, Bibi garantiu que seu país está "a um passo da vitória" e insistiu que não haverá um cessar-fogo até que o Hamas liberte todos os reféns. "Isso simplesmente não acontecerá", declarou ele perante seu gabinete. "Ceder às exigências do Hamas vai permitir que eles repitam os crimes de 7 de outubro outra vez, como prometeram fazer."

Tanto Israel quanto o grupo terrorista confirmaram que estavam enviando delegações ao Egito para uma nova rodada de negociações. Enquanto o Hamas quer que qualquer acordo ponha fim à guerra, Tel Aviv diz que, após qualquer trégua, derrubaria a facção.

Mudanças ocorreram também no norte da fronteira de Israel neste domingo. O Exército disse que concluiu uma "nova fase" de preparação para o caso de uma guerra com o Líbano, onde os confrontos com o Hezbollah, grupo islâmico aliado do Hamas, estão se intensificando.

Desde o início da guerra em Gaza, as hostilidades já mataram pelo menos 359 pessoas no Líbano, incluindo 70 civis, de acordo com um relatório da AFP. No norte de Israel, dez soldados e oito civis foram mortos, de acordo com o Exército do país.

Outro ponto de tensão na região é a relação entre Israel e Irã. Neste domingo, Yahya Rahim Safavi, um assessor do líder supremo do Irã, disse que nenhuma das embaixadas do país inimigo estava segura, segundo a agência de notícias oficial Tasnim.

A ameaça acontece após um ataque à embaixada iraniana em Damasco no dia 1º de abril atribuído a Tel Aviv por Teerã. Em resposta, Gallant, ministro da Defesa de Israel, disse que seu país está pronto para lidar com qualquer cenário que possa se desenvolver com Teerã.

Com AFP e Reuters

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