Netanyahu diz que pressão internacional não vai impedir Israel de invadir Rafah

Cidade no sul de Gaza é refúgio para mais de 1 milhão de palestinos que fugiram da guerra, segundo a ONU

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jerusalém, Territórios palestinos e Cairo | AFP e Reuters

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou neste domingo (17) que a pressão internacional não impedirá Israel de lançar uma ofensiva contra Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde mais de 1,5 milhão de palestinos se refugiam da guerra, segundo a ONU.

"Nenhuma pressão internacional nos impedirá de alcançar todos os objetivos da guerra", declarou, segundo um comunicado de seu gabinete. "Vamos agir em Rafah. Levará algumas semanas, mas acontecerá", acrescentou, durante uma reunião de seu governo.

Crianças seguram panelas vazias em uma fila para receber alimento em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Said Khatib - 16.mar.2024/AFP

Apesar das palavras duras, o premiê israelense tentou abrandar o discurso horas depois ao afirmar que não lançará uma operação enquanto a população estiver "presa" ali, mas tampouco aceitará uma negociação para o fim da guerra que enfraqueça Israel. "Isso atrasaria a paz", disse ele em uma entrevista coletiva em Jerusalém ao lado do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz.

O alemão, que visitou Israel neste fim de semana, pediu um cessar-fogo duradouro e afirmou que a ajuda humanitária precisa aumentar. "Não podemos ficar parados vendo os palestinos correrem o risco de morrer de fome. O terrorismo não será detido apenas por meios militares", disse ele.

A situação em Rafah é uma das mais delicadas do conflito. Mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza se espremem nessa cidade na fronteira com o Egito que, antes da guerra, era lar de cerca de 280 mil palestinos. Atualmente, esse é o único grande centro urbano de Gaza que Tel Aviv ainda não invadiu com tropas, embora seja alvo frequente de bombardeios.

"Há 600 mil crianças em Rafah aterrorizadas com o que vem a seguir", afirmou o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). "Desde o deslocamento e a ameaça de bombardeios até a fome e a doença, muitos estão sofrendo o inimaginável, e agora estão presos em um espaço superlotado enquanto a morte se aproxima."

Também de acordo com informação do Unicef, mais de 13 mil crianças foram mortas em Gaza na ofensiva de Israel. Muitas delas sofriam de desnutrição grave e "nem tinham energia para chorar", segundo a organização.

"Milhares mais ficaram feridas ou não conseguimos sequer determinar onde estão. Podem estar presas sob os escombros... Não vimos essa taxa de mortalidade entre crianças em quase nenhum outro conflito no mundo", afirmou Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef à emissora CBS News.

Neste sábado, o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, pediu que Israel não ataque a cidade, argumentando que as pessoas que está em Rafah não tem um lugar seguro para ir. "Em nome da humanidade, pedimos a Israel que não invada e, em vez disso, trabalhe pela paz", afirmou.

A expectativa da invasão tem provocado reações até em seus aliados mais próximos. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou em entrevista à emissora MSNBC que a abordagem do premiê israelense em relação à guerra "mais prejudicava do que ajudava" e que Rafah representava "uma linha vermelha".

O conflito começou no dia 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou o sul de Israel, matou 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrou cerca de 250 pessoas, das quais cerca de cem foram libertadas durante um cessar-fogo de uma semana em novembro.

O revide de Tel Aviv, que organizações internacionais consideram desproporcional, inutilizou hospitais em quase todo o território palestino e limitou a chegada de ajuda humanitária, deixando a população à beira da fome.

Para Bibi, como o premiê israelense é chamado, a preocupação com a população civil de Rafah indica que a comunidade internacional se esqueceu dos ataques terroristas do Hamas.

"Aos nossos amigos na comunidade internacional, eu digo: sua memória é tão curta? Vocês esqueceram dos ataques de 7 de outubro tão rapidamente assim, o pior massacre cometido contra judeus desde o Holocausto?", afirmou Netanyahu neste domingo, no início da reunião de seu gabinete e antes do encontro com Scholz. "Vocês já estão prontos para negar a Israel o direito de se defender contra os monstros do Hamas?"

O premiê também afirmou que retiraria civis de zonas de combate, embora as estratégias de Israel para poupar a população palestina tenham sido ineficazes até agora.

Planos anteriores de retirada de civis anunciados por Israel nas porções norte e central de Gaza incluíam a distribuição de panfletos de aviões que indicavam caminhos supostamente seguros para a fuga. Mesmo nessas vias assinaladas por Tel Aviv, porém, houve relatos de ataques aéreos que mataram deslocados.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, a guerra já matou até agora 31.645 pessoas e feriu outras 73.676 no território palestino.

O registro subiu pela última vez após bombardeios matarem 61 palestinos na madrugada deste domingo. Entre as vítimas estão 12 membros de uma mesma família, a Thabet, em Deir Al-Balah, no centro do território. Os bombardeios atingiram também a Cidade de Gaza, no norte, e Khan Yunis e Rafah, no sul, segundo testemunhas.

As esperanças por uma pausa nos combates estão na nova proposta de cessar-fogo apresentada pelo Hamas. O grupo terrorista exigia inicialmente uma trégua definitiva e a liberdade de 100 prisioneiros palestinos a cada refém devolvido. Agora, porém, a facção propõe um cessar-fogo de seis semanas e a libertação de 42 reféns israelenses em troca da libertação de 20 a 50 palestinos por refém.

O Hamas também exige a "retirada do Exército de todas as cidades e áreas povoadas", o "retorno sem restrições dos deslocados" pela guerra e a entrada diária de pelo menos 500 caminhões de ajuda humanitária em Gaza, indicou um de seus líderes. Neste sábado, um navio da ONG espanhola Open Arms descarregou 200 toneladas de alimentos que foram transportados da ilha de Chipre.

À agência de notícias Reuters, uma fonte familiarizada com as negociações de trégua que acontecem no Qatar disse que o chefe da agência de inteligência de Israel se juntaria à delegação em Doha neste domingo (17).

Os esforços para acordos enfrentam resistência interna em Israel. O ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich, por exemplo, é contra o envio do grupo ao Qatar. "Netanyahu deve ordenar ao Exército a entrada imediata em Rafah e intensificar a pressão militar até que o Hamas seja destruído", afirmou o político de extrema direita.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.