Descrição de chapéu França

Manifestantes na Nova Caledônia mantêm protestos antes da chegada de Macron

Presidente da França pretende conversar com 'todas as partes', mas tomada de decisões importantes parece improvável

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sydney e Paris | Reuters

Manifestantes do arquipélago da Nova Caledônia, território ultramarino francês no Pacífico, ergueram novas barricadas durante a noite de terça-feira (21). Os tumultos acalmaram-se, mas ainda não terminaram, segundo as autoridades. Imagens de drone da agência de notícias Reuters mostraram fumaça saindo de prédios atingidos na capital, Noumea, bem como bloqueios de estradas em chamas.

"As forças policiais saem por aí removendo essas barricadas, mas logo em seguida os jovens as colocam novamente, então é quase um jogo de gato e rato", disse à Reuters Jimmy Naouna, da Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista (FLNKS), ligada à etnia indígena Kanak, que representa cerca de 40% da população local.

Ele também contou que o grupo pediu aos manifestantes que removessem os bloqueios de estradas que restringem a movimentação e o fornecimento de alimentos na capital do arquipélago.

Pessoas regulam o tráfego em um bloqueio de estrada independentista em Noumea - Theo Rouby - 22.mai.24/AFP

As manifestações na Nova Caledônia começaram na semana passada depois de a Assembleia Nacional da França aprovar uma emenda constitucional que alteraria a legislação eleitoral do arquipélago. A medida, que ainda passará por uma sessão conjunta no Parlamento, derruba o congelamento do eleitorado estipulado por um acordo de 1998 assinado entre Paris e os movimentos armados independentistas para encerrar os conflitos à época.

Por esse pacto, o direito de voto nas eleições locais não mudaria para refletir mudanças populacionais, excluindo quem chegou ao arquipélago depois de 1998 —um grupo que representa atualmente 20% da população. O fim do congelamento significaria, segundo estimativas, que 25 mil pessoas passarão a ter direito a voto, sendo a maior parte delas vindas da França continental.

Isso poderia alterar radicalmente a composição do governo local, que é liderado por partidos Kanak pró-independência.

Após embarcar na terça-feira, o presidente da França, Emmanuel Macron, chegou à Nova Caledônia na manhã desta quinta-feira (23), no horário local (noite de quarta, no horário de Brasília). Os assessores dizem que Macron não tem um plano pré-concebido e que conversará com todas as partes sobre a reconstrução após os tumultos, que mataram ao menos seis pessoas, mas parece ser improvável que se apresse em tomar qualquer decisão importante.

Os apelos para que o projeto de lei seja descartado ou para que sua ratificação fosse ao menos adiada não vêm apenas do campo pró-independência. A prefeita de Noumea, Sonia Lagarde, membro do partido Renascimento, o mesmo de Macron, descreveu a capital como sitiada e disse à France 2 TV que esperava que o presidente anunciasse o adiamento da sessão conjunta que pode selar o destino do projeto.

Os vizinhos da Nova Caledônia no Pacífico pediram insistentemente a Macron que ouvisse os líderes do arquipélago e acalmasse uma situação que, segundo eles, os preocupa. A Nova Zelândia e a Austrália começaram a retirar os turistas da ilha.

"Acho que o gesto do presidente Macron de viajar para lá é importante, e nós apenas pedimos que ambos os lados apoiem os Acordos de Noumea", disse à ABC Television, Pat Conroy, ministro australiano do Desenvolvimento Internacional e do Pacífico.

Quinta maior reserva de níquel do mundo, a Nova Caledônia viu as operações de mineração pararem com os protestos, o que contribuiu para uma alta nos preços de referência do níquel na Bolsa de Metais de Londres (LME), atingindo níveis máximos registrados em nove meses, antes que os preços voltassem a cair.

Apesar do papel de destaque no cenário global da mineração de níquel, o setor enfrenta atualmente uma crise, de modo que um em cada cinco habitantes vive abaixo do limiar da pobreza. A redução da produção da Nova Caledônia poderia reduzir o excedente global.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.