O píer temporário instalado pelos Estados Unidos na costa da Faixa de Gaza recebeu nesta sexta-feira (17) seu primeiro carregamento de ajuda humanitária, afirmou o Exército americano, um dia depois da finalização da estrutura.
A construção, que custou pelo menos US$ 320 milhões (mais de R$ 1,6 bilhão), deve coletar quase 500 toneladas de ajuda nos próximos dias, como parte dos esforços internacionais para driblar as restrições terrestres impostas por Israel.
O primeiro desembarque ocorre em um momento de crescente pressão internacional por mais suprimentos no território palestino, onde, de acordo com a ONU, mais de 1 milhão de pessoas estão no nível mais grave do índice global de classificação da insegurança alimentar, o IPC.
"Esse é um esforço multinacional para entregar mais ajuda aos civis palestinos em Gaza por um corredor marítimo exclusivamente humanitário", afirmou o Comando Central das Forças Armadas dos EUA (Centcom) na rede social X.
O píer flutuante foi pré-montado pelo Exército dos EUA no porto israelense de Ashdod e transportado nesta semana para Gaza, que não possui infraestrutura portuária própria. Nenhum soldado americano desembarcou em solo palestino, disse o Centcom.
Sob cerco total e em consequente crise humanitária desde o início da guerra, há sete meses, Gaza passou a sofrer com mais escassez de alimentos, água potável, medicamentos e combustível desde a semana passada, quando Tel Aviv tomou o controle do lado palestino da passagem de Rafah, que faz fronteira com o Egito.
Dias antes, Israel havia fechado outra passagem, a de Kerem Shalom, também no sul de Gaza, em resposta a um ataque do Hamas no local. Atualmente, duas das quatro passagens do território palestino estão abertas para mantimentos pré-aprovados —a de Kerem Shalom, reaberta posteriormente, e a de Erez Ocidental, inaugurada no último domingo (12). Estão bloqueadas Rafah e Erez.
A ajuda que chega pelo píer também precisa ser autorizada por Israel. Os suprimentos são recolhidos no Chipre, onde Israel faz uma primeira verificação, e depois passam por postos de controle adicionais de Tel Aviv, segundo autoridades americanas.
A ONU afirmou que está concluindo o planejamento para distribuir os produtos entregues pelo píer, mas declarou que as passagens por terra são o "método mais viável e eficiente" para levar ajuda ao território.
"Para evitar os horrores da fome, devemos usar a rota mais rápida e óbvia para alcançar a população de Gaza —e para isso, precisamos de acesso por terra agora", disse Farhan Haq, porta-voz do secretário-geral da ONU.
O Hamas, por sua vez, emitiu um comunicado afirmando que o funcionamento do píer americano não pode ser visto como uma alternativa à altura da abertura total das passagens terrestres, e reiterou que estas deveriam estar sob pleno controle palestino.
A expectativa é que o píer transporte 90 caminhões por dia, mas esse número pode chegar a 150 quando o local estiver totalmente operacional. Antes da guerra, cem caminhões, em média, entravam por dia em Gaza, que já registrava condições precárias e alto índice de desemprego; agora, o território precisaria de 500 caminhões por dia, segundo Samantha Power, diretora da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.
A média diária de caminhões entrando em Gaza durante abril foi de 200, de acordo com a ONU, e caiu para zero durante vários dias da semana passada, segundo o escritório para assuntos humanitários das Nações Unidas (Ocha, na sigla em inglês).
Israel disse que está intensificando os esforços para levar ajuda ao território. Segundo o Exército, 365 caminhões de ajuda entraram pelos pontos de passagem de Kerem Shalom e Erez nesta quinta transportando farinha e combustível.
Apesar da crise humanitária, a entrega sofre resistência da ultradireita de Israel. Na quarta-feira (15), colonos israelenses confundiram um caminhão comercial que viajava na Cisjordânia ocupada com um veículo de ajuda humanitária e atacaram o motorista palestino, segundo o Times of Israel.
De acordo com o jornal, os manifestantes colocaram fogo na estrada e derrubaram o conteúdo do caminhão. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o motorista ensanguentado no chão. As tropas que chegaram para separar os colonos do motorista também foram atacadas, e três soldados ficaram levemente feridos, disse o Exército.
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