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Em evento com Dilma, Xi diz que Sul Global precisa ter mais voz em diálogos de paz

Líder chinês cobra ação conjunta e anuncia centro de pesquisa e programa para 'jovens líderes' de países em desenvolvimento

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Pequim

O líder Xi Jinping defendeu nesta sexta-feira (28) em Pequim, na China, uma maior participação do chamado Sul Global nos esforços conjuntos internacionais por paz.

Foi durante a comemoração dos 70 anos dos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, que guiam a política externa chinesa, falando a dezenas de convidados, entre elas a ex-presidente Dilma Rousseff, que comanda o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD, também chamado de Banco do Brics).

Xi Jinping com convidados em conferência sobre os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, em Pequim, em 28 de junho de 2024 - Huang Jingwen/Xinhua

"De todas as forças no mundo, o Sul Global se destaca com um ímpeto forte, desempenhando um papel vital em promover o progresso humano", disse o dirigente. "Juntos, devemos ser força estabilizadora para a paz. Devemos promover a solução pacífica de divergências e disputas entre países, participar de forma construtiva da solução política das questões candentes internacionais e regionais."

Sul Global é um termo impreciso que busca agrupar países da América Latina, África e parte da Ásia, em meio aos movimentos de polarização no mundo.

"Devemos participar ativamente da reforma do sistema de governança global, trabalhar para ampliar os interesses comuns de todas as partes, tornar a arquitetura de governança global mais equilibrada e efetiva", declarou Xi.

O líder chinês anunciou oito medidas "para melhor apoiar a cooperação do Sul Global", entre elas "estabelecer um centro de pesquisa, oferecer mil vagas de bolsa de excelência dos Cinco Princípios e cem mil oportunidades de formação em cinco anos", além de "iniciar um programa de jovens líderes".

"A China gostaria de negociar com mais países do Sul Global sobre os arranjos de livre comércio", afirmou. "De agora até 2030, a expetativa é que o volume total de importação da China dos países em desenvolvimento ultrapassará US$ 8 trilhões".

Além de Dilma, estavam no Grande Salão do Povo, na praça da Paz Celestial, convidados como Dominique de Villepin, ex-primeiro-ministro da França; Nong Duc Manh, ex-secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã; Graham Allison, professor da Universidade Harvard, e Yang Jiechi, ex-chanceler e ex-diretor da Comissão de Assuntos Estrangeiros do PC Chinês.

Na sequência, o evento se transferiu para a chamada Casa de Hóspedes Diaoyutai, um parque fechado também no centro de Pequim.

Em discurso, o chanceler Wang Yi disse que "a grande causa da construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade é inseparável do apoio e da participação de todas as forças progressistas do mundo, e o Sul Global precisa estar na vanguarda".

Não foi mencionada a proposta para a Guerra da Ucrânia que Wang e o assessor especial de Lula, Celso Amorim, anunciaram há um mês, na mesma Diaoyutai, com passagens que remetem aos Cinco Princípios —a começar do respeito pela integridade territorial, central no caso ucraniano.

Xi, em seu pronunciamento, havia citado a "busca de soluções" pela China para a "crise da Ucrânia, o conflito palestino-israelense, a península coreana, Irã, Mianmar e Afeganistão".

Também convidado, Da Wei, professor de relações internacionais da Universidade Tsinghua, comentou em mídia social que, "para comemorar esses princípios, precisamos primeiro abordar questões relativas à guerra na Ucrânia".

A imagem mostra uma grande conferência com muitas pessoas sentadas em um auditório. No palco, há um orador em um pódio, e atrás dele, um grande painel azul com texto em chinês e inglês. O texto em inglês diz: 'Conference Marking the 70th Anniversary of the Chinese People's Political Consultative Conference'. O auditório é decorado com um tapete vermelho e há várias fileiras de cadeiras ocupadas por participantes.
Xi Jinping discursa em evento dos 70 anos dos Cinci Princípios de Coexistência Pacífica, em Pequim - Li Tao/Li Tao/Xinhua

Dilma, Villepin e Manh também discursaram na Diaoyutai, local simbólico por ter sediado, entre outras, as negociações de 1971 entre o então primeiro-ministro Zhou Enlai e o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger, que abriram caminho para a aproximação entre os dois países.

Na presidência do NBD, sediado em Xangai, a ex-presidente brasileira disse que "o mundo está enfrentando desafios sem precedentes, e a importância dos Cinco Princípios ganhou mais destaque", assim como a proposta de Xi de "construir uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade".

Segundo Dilma, "a cooperação Sul-Sul é um modelo de respeito, igualdade e benefício mútuo", que "ajuda a promover um equilíbrio multipolar no mundo".

Evandro Menezes de Carvalho, professor de direito da FGV, também no evento, disse ao jornal Global Times que "os países do Sul Global enfrentam historicamente intervenções externas" e os princípios seriam "essenciais para promover o multilateralismo em que cada Estado, qualquer que seja seu tamanho ou força, é respeitado e incluído no processo de decisão".

Os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica foram apresentados por Zhou Enlai em 1954, num encontro com uma delegação indiana, e teriam sido a base para o chamado Movimento Não Alinhado. Foram acrescentados à Constituição chinesa. São eles: respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, não agressão mútua, não interferência nos assuntos internos uns dos outros, igualdade e benefício mútuo e coexistência pacífica.

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