Exército de Israel anuncia pausa diária em ataques em Gaza; Netanyahu critica

Divulgada após apoio de G7 a cessar-fogo, decisão é novo capítulo de rusga entre governo e militares na condução da guerra

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São Paulo

O Exército de Israel anunciou neste domingo (16) que fará pausas diárias, das 8h às 19h do horário local, nas ofensivas militares em uma das principais estradas da Faixa de Gaza, de modo a permitir a entrada de ajuda humanitária no território palestino. Os combates na cidade de Rafah, no entanto, não serão interrompidos.

Imagem mostra uma fila de caminhões com ajuda humanitária parados em uma estrada
Caminhões de ajuda humanitária aguardam na fila para serem inspecionados na passagem de Kerem Shalom - Cogat via X/via Reuters

A área de trégua vai de Kerem Shalom, um posto fronteiriço no sul de Israel, à estrada de Salah Al-Din, em Gaza, e de lá até o norte, segundo os militares. A decisão foi tomada após discussões com a ONU e outras instituições, de acordo com o comunicado, e se mantém até segunda ordem.

A medida foi considerada inaceitável pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, segundo um funcionário do governo. O radical ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, foi outro que desaprovou a decisão, dizendo que ela provavelmente partiu de um "idiota" que deveria perder o emprego.

Desentendimentos entre o governo e o Exército sobre a condução do conflito com o Hamas têm se tornado cada vez mais frequentes. No início do mês, um dos membros do gabinete de guerra e adversário político do premiê, Benny Gantz, renunciou ao governo acusando Netanyahu de não ter uma estratégia eficaz em Gaza.

O governo sugeriu que Bibi —como o primeiro-ministro é conhecido— descobriu o plano militar por meio da imprensa. Analistas ouvidos pelo jornal The New York Times afirmam, no entanto, que é improvável que ele não estivesse ciente do projeto, até porque a sua divulgação parece ter obedecido a uma estratégia pensada, com mensagens adaptadas para diferentes públicos.

O anúncio da pausa ocorre após os países do G7, grupo que reúne as sete maiores economias mundiais, apoiarem na declaração final da cúpula um acordo de cessar-fogo para o conflito apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no mês passado.

De um lado, assim, a trégua diária parece ser uma resposta às demandas da comunidade internacional em relação à gravidade da crise humanitária em Gaza.

Ao mesmo tempo, ao negar conhecimento sobre a decisão, Netanyahu estaria buscando manter o apoio de seus aliados na coalizão de ultradireita no poder, que é contra qualquer mínima concessão aos palestinos.

Segundo os militares, a pausa no corredor humanitário entrou em vigor no sábado (15), mas o premiê diz que não soube dos planos até a manhã deste domingo.

"Ele tem uma máscara para cada ocasião", disse Amos Harel, analista de assuntos militares, ao jornal Haaretz. "Aos americanos, precisa mostrar que está fazendo mais para conseguir ajuda. Para o público israelense, pode dizer 'eu não sabia'."

Na quinta (13), Biden afirmou havia dito era o Hamas, e não Israel, o principal obstáculo para a implementação do seu projeto de paz, que prevê um cessar-fogo imediato, a libertação dos reféns e a negociação de um acordo de paz que leve à solução de dois Estados.

Os líderes da facção terrorista desmentiram a alegação de Biden, e afirmaram que as mudanças que eles haviam solicitado no documento não eram significativas.

"O Hamas e os grupos [palestinos] estão prontos para um acordo abrangente que envolva um cessar-fogo, retirada da faixa, reconstrução do que foi destruído e um tratado amplo de troca", disse Ismail Haniyeh, líder da ala política do grupo, baseada no Qatar, referindo-se à troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

A declaração foi feita em um discurso televisionado neste domingo por ocasião do feriado Eid al-Adha, que celebra a disposição de Abraão —o mesmo do Antigo Testamento da Bíblia, que é considerado um dos principais profetas do islã—, de sacrificar seu filho Ismael para obedecer a vontade de Deus.

Após oito meses da guerra Israel-Hamas, a região palestina vive uma grave crise humanitária —75% de seus 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito, e a fome é generalizada. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas, a ofensiva israelense deixou pelo menos 37.227 mortos até o momento, dos quais 24.686 tinham sido identificados pelo Ocha (Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários) até 30 de abril.

A ONU celebrou o anúncio do Exército israelense, mas cobrou que o movimento de ajuda "seja previsível e acelerado" e que as estradas estejam operacionais. O organismo multilateral também pede autorização para a entrada de combustível e para o fornecimento de equipamentos de comunicação e outros materiais necessários.

"Esperamos que isso leve a novas medidas concretas por parte de Israel para resolver os problemas que impedem uma resposta humanitária significativa em Gaza", disse Jens Laerke, porta-voz do Ocha, à agência de notícias AFP.

"As operações humanitárias em Gaza devem ser totalmente facilitadas e todos os obstáculos devem ser eliminados. Precisamos conseguir entregar a ajuda de forma segura por toda Gaza", ressaltou.

Apesar da pausa, o governo israelense também anunciou a prorrogação do pagamento de hotéis e pensões para moradores retirados de cidades do sul do país até o dia 15 agosto, sinalizando que a ofensiva em Gaza deve continuar pelo menos até a data.

Com AFP, Reuters e The New York Times

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