Descrição de chapéu Eleições no México

Peso mexicano perde força após projeção de vitória de Sheinbaum

Investidores temem mudanças constitucionais com possível maioria de dois terços de partidos aliados no Congresso

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Christine Murray Michael Stott
Cidade do México e Londres | Financial Times

A projeção de uma vitória esmagadora de Claudia Sheinbaum, que se tornou a primeira mulher eleita presidente no México, deixou apreensivos os investidores do país, que venderam pesos nesta segunda-feira (3) com medo de mudanças constitucionais radicais.

Sheinbaum, ex-prefeita de esquerda da Cidade do México e aliada próxima do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, triunfou com 58,6% dos votos, 30 pontos a mais do que seu concorrente mais próximo, de acordo com uma contagem parcial divulgada na segunda.

Claudia Sheinbaum, vencedora das eleições no México, de acordo com projeções, fala a apoiadores em hotel na Cidade do México - Li Mengxin/Xinhua

Segundo o INE (Instituto Nacional Eleitoral), a empresária Xóchitl Gálvez, da principal aliança de oposição de centro-direita, ficou muito atrás, com 28,4%, após a contagem de 75% dos votos. Um terceiro candidato, Jorge Álvarez Máynez, obteve 10,6% até agora.

À medida que os investidores digeriam a vitória maior do que o esperado do partido governante, o peso mexicano caiu 2,8%, para 17,55 em relação ao dólar —seu nível mais baixo desde novembro. O temor é que o partido tenha mais margem de manobra para mudanças constitucionais que poderiam incluir a eliminação de reguladores independentes.

"O resultado abre um cenário de maior risco político e incerteza para o clima de negócios", disse a consultoria Integralia. "As ameaças ao sistema de pesos e contrapesos no México são maiores."

A campanha de Sheinbaum prometeu continuar a cruzada pela justiça social que marcou o mandato de AMLO, como o atual líder é chamado, mas também afirmou que atrairia investimentos estrangeiros e respeitaria um tratado de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá.

Seu partido, o Morena, fundado há uma década por Obrador, está prestes a vencer ambas as Casas do Congresso e, com dois partidos aliados, parece estar perto de conquistar a maioria de dois terços necessária para garantir mudanças constitucionais, mostraram os resultados parciais.

Após uma campanha que prometia continuidade, Sheinbaum prometeu "respeitar a liberdade de negócios" e facilitar "investimentos privados nacionais e estrangeiros". "Meu governo será honesto, sem influências ou corrupção. Será um governo com austeridade republicana", disse ela, acrescentando que seus concorrentes ligaram para parabenizar pela vitória.

Os resultados iniciais também mostraram que o Morena havia superado a oposição na eleição para prefeito da Cidade do México e conquistaria sete dos oito governos estaduais em disputa no país de quase 130 milhões de habitantes.

"Não há boas notícias para a oposição", disse Carlos Bravo Regidor, analista político.

Após o discurso de Sheinbaum, seus apoiadores se dirigiram para a Praça Central do Zócalo, na capital, para comemorar. Alguns usavam imitações de faixas presidenciais em que se lia o slogan: "Nós, mulheres, chegamos juntas".

Julieta Velázquez, advogada de 33 anos, disse estar "imensamente feliz" ao ouvir os resultados. "Acredito nela como mulher e é definitivamente a mudança de que o México precisa."

Apesar de boas notícias, como a de que o México superou a China como o maior exportador de mercadorias para os EUA no ano passado, Sheinbaum vai enfrentar o pior déficit orçamentário desde a década de 1980. O rombo é resultado dos programas de bem-estar expandidos de AMLO e de grandes projetos de infraestrutura, como uma nova refinaria de petróleo. Em seu discurso, Sheinbaum prometeu um governo fiscalmente responsável que respeitaria a autonomia do Banco Central.

A presidente eleita também terá que lidar com uma onda de violência criminal, com quase 220 mil pessoas mortas ou desaparecidas durante o mandato de seu antecessor, garantir o Estado de Direito e investir em infraestrutura para superar graves escassezes de água e eletricidade.

Em um lembrete vívido da violência que o México enfrenta, uma seção eleitoral no estado do México, nos arredores da capital, foi incendiada no dia do pleito e tiros foram disparados em outras duas. Cerca de 175 locais de votação não puderam operar por ameaças, e pelo menos 36 candidatos foram mortos durante a campanha, em meio ao aumento do controle dos criminosos sobre a política do país.

Sheinbaum, 61, prometeu seguir de perto as políticas de López Obrador, um populista carismático que conquistou os pobres dobrando o salário mínimo e impulsionando programas sociais. Mas ele também propôs mudanças constitucionais que críticos disseram enfraquecer a democracia e foi repreendido pelas autoridades por interferir na eleição.

Assim como AMLO, a nova presidente apoia a expansão do Exército para atividades normalmente realizadas por civis, com generais comandando a Guarda Nacional, aeroportos, portos e serviço aduaneiro.

Ela aprova também outras propostas controversas, como eleições populares para juízes da Suprema Corte e diretores do instituto eleitoral, dizendo que tais votações expandiriam a democracia. Essas propostas levantaram alarmes entre grupos de direitos civis e agora estão mais propensas a serem promulgadas, dada a futura configuração do Congresso.

Ex-ativista estudantil de ascendência judaica, Sheinbaum trabalhou como cientista do clima e foi uma ativista partidária de longa data antes de seguir Obrador para a política na capital.

O nome de seu padrinho político não apareceu na cédula presidencial pela primeira vez em quase duas décadas —a Constituição do México proíbe a reeleição. Agora, o presidente diz que vai se aposentar e ir para sua fazenda no sul do país, plano que gera desconfiança em muitos mexicanos que acreditam que ele continuará ativo na política nacional.

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