Bolívia convoca embaixador da Argentina após Milei chamar tentativa de golpe de farsa

Buenos Aires disse em nota que relato de ação em La Paz era 'pouco crível'; governo de Luis Arce nega acusações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em reprimenda à acusação de que a tentativa de golpe de Estado na Bolívia foi forjada, o governo de Luis Arce convocou nesta segunda-feira (1º) o embaixador da Argentina para prestar esclarecimentos. Na linguagem diplomática, a medida representa grande insatisfação.

A convocação ocorreu após o governo de Javier Milei divulgar comunicado no qual repudiou o que chamou de "falsa denúncia de golpe de Estado", sem apresentar quaisquer provas.

"O relato [da tentativa de golpe] era pouco crível, e os argumentos não se encaixavam com o contexto sociopolítico [da Bolívia]", disse a nota argentina divulgada no domingo (30). O texto ainda reiterou que o partido governista boliviano, o MAS (Movimento ao Socialismo), controla os poderes Judiciário e Executivo e as Forças Armadas.

A imagem mostra Javier Milei, homem de cabelos castanhos e ondulados, vestindo um terno escuro e uma camisa azul clara. Ele está apontando para o seu olho direito com o dedo indicador da mão esquerda. O fundo é vermelho com alguns detalhes em amarelo e azul.
O presidente da Argentina, Javier Milei, discursa em Madri, na Espanha - Violeta Santos Moura - 21.jun.24/Reuters

Em entrevista coletiva, a ministra interina das Relações Exteriores da Bolívia, Maria Nela Prada, disse que o governo de seu país "rejeita energicamente" as insinuações de que a tentativa de golpe foi uma farsa.

Além de convocar o embaixador argentino em La Paz, o governo boliviano chamou o seu representante no país vizinho para consultas. As iniciativas são atos de desagravo. Anteriormente, o gabinete de Arce havia dito que as declarações divulgadas pela equipe de Milei eram "hostis e imprudentes".

No comunicado, o argentino não cravou, no entanto, acusações de que o que chama de farsa tenha sido tramada por Arce. Essa narrativa ganha força em La Paz, e mesmo o ex-presidente Evo Morales agora tem afirmado que tudo não passou de um autogolpe em busca de popularidade, o que o atual presidente nega.

Há mais dúvidas do que certezas sobre a tentativa de golpe militar da última quarta (26) liderada pelo agora ex-chefe do Exército Juan José Zúñiga. Entre outras possibilidades, o governo ventila que tenha se tratado de uma ação patrocinada por interesses externos.

Arce tem dito, porém, que a tese de autogolpe é falsa e sem sentido. "[O governo boliviano convida as autoridades argentinas] a agir dentro dos princípios de respeito à soberania e de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados", acrescentou o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia.

Na última quarta-feira (26), os bolivianos foram surpreendidos com uma tentativa de golpe televisionada. Naquele dia, militares rebeldes sitiaram a praça Murillo, na capital, durante várias horas, nas quais avançaram contra a porta do palácio presidencial com um blindado do Exército e entraram no prédio. Zúñiga, o líder da ação, acabou preso.

O ultraliberal Javier Milei, que mantém relações tensas com os governos de esquerda da América do Sul, distanciou-se do apoio internacional que Arce tem recebido. Já o Itamaraty disse que "as afirmações mal informadas e tendenciosas" sobre a "inexistência de um golpe de Estado fracassado" representam "um negacionismo excessivo e inaceitável".

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.