Direita perde chance de conquistar poder na Espanha e reabre caminho para socialistas

Feijóo é derrotado na segunda votação no Parlamento ao falhar em conquistar maioria simples; Sánchez tentará reeleição

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Madri

Como esperado, Alberto Núñez Feijóo, líder do PP (Partido Popular), não conseguiu alcançar nesta sexta-feira (29) a maioria necessária para se tornar o próximo primeiro-ministro da Espanha. A segunda votação de sua investidura ao cargo no Congresso dos Deputados acabou com nova derrota, com uma leve diferença do placar de quarta-feira (27): 172 a favor, 177 contra e 1 voto nulo, sem registro de abstenções.

Na quarta, quando foram 172 a favor e 178 contra, era necessário que Feijóo atingisse maioria absoluta, —metade dos 350 deputados mais um, ou seja, 176 votos. Nesta sexta, bastava uma maioria simples, o que poderia ter ocorrido caso houvesse mudanças de posição ou abstenções de quem havia votado contra anteriormente. Mas nem isso aconteceu.

O voto nulo veio do deputado Eduardo Pujol, do Junts, devido a uma confusão na hora de pronunciar sua escolha. Ao ser chamado pela mesa, ele inicialmente disse "sim", como se respondesse ao seu nome, e em seguida falou "não". O placar eletrônico, no entanto, já havia registrado o "sim", e o regulamento não permitia uma retificação. Acordou-se, então, após quinze minutos de discussão, pelo voto nulo.

O líder conservador Alberto Feijóo fala no Congresso nesta sexta (29), em Madri - Susana Vera/Reuters

Termina assim o sonho da direita de chegar ao poder no país que é dirigido pelos socialistas desde 2018 —ao menos por ora. Apesar de ter sido o partido mais votado nas últimas eleições gerais, em 23 de julho, o PP não conseguiu transformar sua liderança em maioria na Câmara.

Agora, o rei Filipe 6º fará uma rodada de conversas com os partidos políticos e deverá indicar o atual premiê Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), para que faça sua tentativa de reeleição.

O rei já foi informado oficialmente do fracasso de Feijóo pela presidente do Congresso, Francina Armengol, e a ronda de consultas aos partidos pode começar já na próxima segunda-feira (2). A investidura de Sánchez deve acontecer ainda em outubro. Caso nenhum líder seja eleito pelos deputados nos próximos dois meses, novas eleições nacionais serão marcadas, possivelmente em janeiro.

A votação desta sexta começou às 13h41 (8h41 em Brasília), uma vez que o rito espanhol prevê que ela deve acontecer 48 horas depois da primeira tentativa.

Às 12h15, Feijóo subiu à tribuna para um discurso de 10 minutos, no qual voltou a criticar a anistia aos separatistas catalães. E, mais uma vez, desafiou Sánchez a subir à tribuna, já que o socialista preferiu enviar aliados para a mesa do que se expor ao que considerou "uma perda de tempo".

"Anistia sim ou não? Eu disse não. E você? Fale claramente, não se esconda, diga o que a Espanha terá de suportar para que você continue a ser o chefe de Governo", disse Feijóo, dirigindo-se a Sánchez.

Como na terça e na quarta-feira, os nove grupos parlamentares do Congresso fizeram discursos de apoio ou crítica, desta vez de apenas cinco minutos cada um, antes da votação final.

O premiê Pedro Sánchez ao lado de duas de suas ministras no Congresso, nesta sexta (29), em Madri - Javier Soriano/AFP

O desafio de Sánchez, agora, é maior. Em primeiro lugar, vai negociar detalhes da anistia de membros do Junts, que foram presos e sofrem processos administrativos após autoproclamarem a independência da Catalunha em 2017.

Mas os separatistas avançaram nos últimos dias. O Junts se uniu à ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) para uma nova exigência: que a comunidade autônoma possa fazer um referendo perguntando ao povo catalão se ele aprova ou não a independência. É um ponto bem mais complexo para Sánchez, visto que ele não pode se comprometer com demanda, uma vez que a Constituição espanhola veta tal possibilidade.

Com 121 deputados eleitos em 23 de julho, Sánchez e o PSOE contam com os 31 da coligação Sumar e o apoio de outros quatro partidos menores, totalizando 171 votos. É um a menos do que conseguiu o PP em sua investidura. Para conseguir se reeleger para mais quatro anos, portanto, o primeiro-ministro vai precisar dos sete votos do Junts, o único partido que não apoia nem o PSOE nem o PP.

Nada disso estava programado na agenda política espanhola. As eleições gerais deveriam acontecer apenas em novembro, mas tudo mudou após o 28 de maio, quando eleições regionais nos municípios e nas comunidades autônomas surpreenderam a esquerda.

Naquela data, foram eleitos representantes para 8.135 prefeituras em todo o país, além de deputados estaduais de 12 das 17 províncias espanholas. O PP ganhou a maioria das praças e o PSOE viu sua esfera de influência encolher significativamente.

Então, na manhã seguinte ao escrutínio regional, o premiê Pedro Sánchez antecipou em quase quatro meses as eleições gerais, escolhendo a data de 23 de julho, em meio ao verão europeu, algo inusitado na Espanha e inédito nos últimos anos.

Nem todos compreenderam esse passo na época, mas Sánchez é conhecido por ser um político que não tem medo de arriscar e bancou a decisão. "Assumo a responsabilidade desses resultados [das eleições regionais] e acredito ser necessário dar uma resposta. Muitos políticos com gestão impecável já perderam o cargo assim. O melhor é que os espanhóis tomem a palavra para definir os rumos políticos do país."

A ideia, que se provou correta, era não ficar quatro meses sangrando em uma posição frágil e conter o desgaste recomeçando o jogo do zero. Assim, conseguiu evitar mais crescimento da direita e diminuir a possibilidade de que o PP e o Vox, de ultradireita, conseguissem uma maioria capaz de eleger o próximo premiê.

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