A líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, juntou-se a milhares de manifestantes no bairro de Las Mercedes, em Caracas, no início da tarde deste sábado (3), para protestar contra a reeleição do ditador Nicolás Maduro. "Nunca estivemos tão fortes", disse a opositora, recebida aos gritos de "liberdade, liberdade". Ela estava acompanhada de políticos da oposição, mas não de Edmundo González, o candidato apoiado por ela e que, pela contagem dos antichavistas, venceu o pleito.
A oposição contesta a vitória de Maduro na eleição de domingo (28), anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O órgão, porém, não divulgou nenhuma das atas com detalhamentos sobre resultados, como fez em pleitos anteriores.
O Carter Center, mais importante observador eleitoral independente no pleito da Venezuela —além de um dos únicos—, afirmou na quarta (31) que o processo eleitoral no país não podia ser considerado democrático. A entidade americana havia sido convidada pelo CNE para observar a votação, e há um mês enviou 17 especialistas a Caracas. Países como Estados Unidos, Costa Rica, Equador, Peru e Uruguai afirmam que houve fraude e não reconhecem a vitória do chavista. A Argentina chegou também a declarar que considerava González o presidente eleito, mas depois recuou e afirmou que aguardaria pela divulgação das atas.
A aparição de María Corina e o discurso duro são um sinal de desafio da oposição à crescente repressão do regime. Em artigo ao The Wall Street Journal publicado na quinta (1º), ela afirmou que temia por sua vida e que poderia ser capturada a qualquer momento. No texto, María Corina disse que estava "em resguardo", evitando exposição.
Neste contexto, portanto, a presença dela no ato pode ser vista como um recado a Maduro. O ditador a acusa, assim como a González, de tentar um golpe de Estado, e a Procuradoria-Geral, controlada pelo chavismo, afirmou que eles poderiam estar sujeitos a prisão. María Corina tinha sido vista pela última vez em público na terça-feira (30).
"Nunca o regime (Maduro) esteve tão enfraquecido", disse a opositora. "Perderam toda a legitimidade. Não vamos sair das ruas".
A manifestante Jezzy Ramos, 36, chef de cozinha, disse à agência AFP: "Maduro é ilegítimo. Não somos terroristas, lutamos por nosso país, pela liberdade. Peço a Maduro que escute a voz de nossos irmãos, por todos que morreram."
"Estou defendendo a democracia e o voto porque nós elegemos um presidente. Isso é óbvio, as atas estão públicas na internet [atas não confirmadas publicadas pela oposição]. O governo não admite que perdeu, é um autogolpe", declarou a manifestante Sonell Molina, 55.
Na sexta (2), o CNE confirmou a reeleição de Nicolás Maduro para a Presidência do país, afirmando que, após a apuração de 97% dos votos, o ditador manteve a liderança na disputa, tendo recebido o apoio de 52% dos eleitores, contra 43% de González. O CNE, no entanto, não divulgou nenhuma das atas que haviam sido prometidas por Maduro.
Segundo a contagem mais recente da Foro Penal, ONG que fornece assistência jurídica gratuita a presos políticos, 891 pessoas foram detidas desde segunda-feira (29), das quais 89 adolescentes, e 11 foram mortas. A entidade acusa o regime de Maduro de prisões massivas e indiscriminadas.
O regime divulgou já ter prendido 1.200 pessoas. Maduro também convocou seus apoiadores a irem às ruas neste sábado (3). Uma caravana de dezenas de motociclistas pró-ditador percorria as ruas do município de Sucre, no estado de Miranda, perto de Caracas. Manifestações em apoio ao governo e à oposição também foram registradas em várias outras cidades.
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