Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Venezuela sofre apagão, e regime de Maduro fala em sabotagem

Todos os estados reportaram falta de energia; ditadura volta a politizar o tema, sem apresentar evidências das acusações

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Caracas | AFP e Reuters

Um apagão na madrugada desta sexta-feira (30) deixou sem luz partes de todos os estados da Venezuela, além do distrito onde fica a capital, Caracas, segundo a imprensa local. Como de costume, o regime de Nicolás Maduro atribui o problema a uma suposta sabotagem, acusação que seus opositores frequentemente negam.

"Aconteceu na Venezuela uma sabotagem elétrica que afetou quase todo o território nacional", afirmou o ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, ao canal estatal VTV, sem apresentar evidências da acusação. "Os 24 estados estão reportando falta total ou parcial de fornecimento de energia elétrica."

Mulher usa a luz de seu celular para receber pagamento em sua loja, em Caracas, durante queda de energia na Venezuela - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Maduro, por sua vez, pediu calma em seu canal no Telegram —recentemente, ele desinstalou o WhatsApp de seu celular durante um programa de televisão como parte de sua campanha contra algumas redes sociais. "Como sempre, estou ao lado do povo e à frente da situação, enfrentando esse ataque criminoso contra o sistema elétrico nacional. Já disse e repito: calma e sensatez, nervos de aço!", afirmou.

Por volta das 13h locais (14h no Brasil), a energia havia retornado a algumas partes de Maracaibo, no oeste da Venezuela, Valencia, no centro do país, e Puerto Ordaz, a leste, além da capital, Caracas, de acordo com testemunhas da agência de notícias Reuters.

A despeito do apagão, o Ministério Público manteve a audiência, na manhã desta sexta, para a qual havia sido convocado Edmundo González, principal adversário de Maduro nas eleições do final de julho. Pela terceira vez, o opositor não compareceu para prestar depoimento e, assim, pode ser alvo de um mandado de prisão —promotores argumentam que existe "risco de fuga e de obstrução".

Em declarações à televisão estatal, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, sugeriu que opositores do regime foram os responsáveis pela queda de energia. "Os que atacam o sistema elétrico, os que planejam essas atividades contra o nosso povo, tenham certeza de que os organismos do Estado vão chegar até vocês, tenham certeza de que haverá justiça", afirmou.

O ministro dos Transportes, Ramón Velásquez, afirmou que os serviços no metrô da cidade foram interrompidos e substituídos por mais de 250 ônibus. Mesmo assim, parte dos trabalhadores foi impactada pelo incidente. Em Caracas, por exemplo, trabalhadores se reuniram do lado de fora de prédios de escritórios na Plaza Venezuela.

A imagem mostra um sinal amarelo com a inscrição 'SURTIDOR FORA DE SERVICIO' em destaque. Ao fundo, há um posto de gasolina com uma estrutura moderna e vários veículos estacionados. O ambiente é urbano, com edifícios e árvores visíveis ao redor.
Placa de interrupção de serviço em posto de gasolina em Caracas, durante apagão - Juan Barreto/AFP

O apagão também afetou algumas operações da empresa estatal de petróleo PDVSA, incluindo o maior terminal de petróleo do país, José, onde o carregamento e o descarregamento de navios foram interrompidos pela falta de energia, de acordo com fontes e um documento de transporte visto pela Reuters. Aproximadamente 70% das exportações de petróleo da Venezuela são realizadas por meio desse terminal, que não possui seu próprio sistema de energia.

A refinaria El Palito e a sede da empresa, em Caracas, também foram impactadas, disseram autoridades próximas às operações. Já o maior complexo de refino da PDVSA, o Paraguaná, não parou de funcionar porque tem sua própria usina de energia em operação.

O estado brasileiro de Roraima, cuja rede elétrica já foi abastecida pela Venezuela, não foi afetada, uma vez que a retomada da parceria interrompida em 2019, no início do governo de Jair Bolsonaro (PL), está empacada desde seu anúncio, no final do ano passado. O estado é o único do Brasil que não está no SIN (Sistema Interligado Nacional).

Apagões se tornaram frequentes na Venezuela na última década. O pior deles ocorreu em março de 2019, deixando o país às escuras por vários dias. Mais recentemente, regiões do oeste do país como Táchira e Zulia, estado importante para o setor petrolífero, têm sofrido cortes diários de energia.

Embora a ditadura normalmente atribua essas falhas a supostas conspirações orquestradas pelos Estados Unidos e pela oposição para derrubá-la, líderes da oposição e analistas independentes costumam atribuir os apagões à falta de investimento do regime.

A queda de energia ocorre pouco mais de um mês depois das eleições nas quais Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato presidencial consecutivo de seis anos, até 2031. A oposição, liderada pela engenheira inabilitada politicamente María Corina Machado, assegura que González venceu as eleições, assim como o regime.

O ex-diplomata é acusado de fraude de documentos, associação criminosa, conspiração, delitos informáticos e instigação à desobediência das leis. Os crimes se relacionam à publicação e manutenção de um site que reúne atas da votação e que vem sendo usado pela oposição para reivindicar sua vitória.

Segundo esse site, González venceu a eleição com mais de 7,3 milhões de votos (67%), contra 3,3 milhões de Maduro (30%). Uma série de órgãos internacionais independentes afirmou que as atas divulgadas ali são verdadeiras, e alguns países chegaram a reconhecer o opositor como legítimo presidente eleito da Venezuela em razão desses boletins. A ditadura, por sua vez, não publicou os detalhes do escrutínio mesa a mesa, conforme exigido por lei.

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