O mundo das redes sociais está em discussão acalorada há algum tempo, o que vem levantando a cortina e desvendando os bastidores de uma realidade ainda mais assustadora do que se supunha.
Pessoas são contratadas, por exemplo, para escrever notícias falsas que são espalhadas pelas redes, o que pode até mesmo interferir no resultado de uma eleição.
Aberrações desse tipo apenas escancaram a pouca credibilidade e transparência desse universo.
Toda essa discussão acabaria, é claro, por gerar reações. A multinacional Unilever ameaçou cortar anúncios em plataformas digitais, como Facebook e Google, se não houver mais transparência e combate às “fake news”. Colocou em dúvida muitas das “grandes verdades” e “eficiências” propaladas por essas plataformas.
Outra decisão bombástica: a Folha deixou de publicar seu conteúdo no Facebook. Uma atitude arriscada, parecerá a muitos. Reconheçamos: pode ser mesmo um risco, a curto prazo, para a Folha.
No entanto, é uma atitude exemplar para o mercado e, sobretudo, para a sociedade. Fato que pode marcar a história do jornalismo brasileiro.
Vejamos: se você leu este texto até aqui, é porque valoriza a informação. E deve concordar que informação de verdade é algo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade moderna e democrática.
Informação de verdade é produzida por jornalismo de qualidade, o que demanda centenas, quando não milhares, de profissionais, além de equipamentos e tempo de investigação. Uma operação que envolve, enfim, custos expressivos.
Esse investimento é mantido, em boa parte, por anunciantes e agências que, por meio da credibilidade de veículos como a Folha, aproximam suas marcas dos consumidores na forma de anúncios publicitários.
Em outras palavras: a publicidade sempre foi uma grande patrocinadora do jornalismo e da liberdade de imprensa.
Sociedade sem imprensa livre é sociedade doente, com destino incerto. Todas as ditaduras, de direita ou esquerda, sempre mostram algo em comum: detestam a liberdade de imprensa. Exemplos atuais? Venezuela e Coreia do Norte.
Em função dessa importância, o jornalismo não pode ser nivelado por baixo e colocado lado a lado com fábricas de “fake news”, como acontece nas redes sociais.
Plataformas digitais não se deixam enquadrar pelas regras de autorregulamentação do mercado publicitário e do jornalismo, alegando que não são veículos de comunicação.
Dessa forma, tentam se eximir da responsabilidade pelo conteúdo criado por terceiros. No entanto, essas plataformas vendem anúncios em meio a conteúdo. Deveriam, portanto, ser enquadradas como veículos de comunicação.
As plataformas digitais querem apenas o bônus que o mercado oferece, sem arcar com os mesmos ônus de outros veículos.
As relações entre as três partes (veículos, agências e anunciantes) são regidas por várias regras claras que garantem a transparência nas informações prestadas —sejam informações comerciais ou de conteúdo.
Ética é fundamental na relação com os consumidores, e a economia digital não deveria ignorar isso.
Ética não é algo que se possa trocar por um punhado de likes nas redes sociais. Parece que a Folha também pensa assim.
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