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Mohammed Al-Hayki: O lado humanitário de 1 ano de bloqueio contra o Qatar

Qatarianos foram expulsos de países após boicote

Imagem do emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, estampa torre ao lado de outros prédios em Doha
Imagem do emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, estampa torre ao lado de outros prédios em Doha - Kamran Jebreili - 5.mai.18/Associated Press

Há pouco mais de um ano, líderes dos países islâmicos e do Conselho de Cooperação do Golfo, além do presidente americano, Donald Trump, reuniram-se na capital da Arábia Saudita para discutir o combate ao terrorismo. Três dias depois do que parecia ser uma cúpula fraterna e unificadora, os Emirados Árabes Unidos orquestraram um ataque cibernético contra a Agência de Notícias do Qatar, espalhando declarações fictícias atribuídas ao emir do Qatar —as quais foram desmentidas oficialmente.

Dez dias depois, Arábia Saudita, Bahrein, Emirados e Egito acusavam falsamente o Qatar de financiar o terrorismo, declarando um bloqueio político e econômico que completa um ano nesta terça (5).

Os países do bloqueio usaram o fator surpresa para desestabilizar e forçar o Qatar a cumprir uma lista de exigências absurdas que violam a soberania do país, como o fechamento da rede de TV Al Jazeera, o rompimento das relações diplomáticas com Irã, o fechamento de uma base militar turca e o pagamento de indenizações arbitrárias.

Dez dias foram dados para o cumprimento dessas exigências, mas o Qatar não se submeteu às imposições e convocou os países envolvidos a sentar à mesa e negociar civilizadamente. O pedido foi ignorado.

Após essa decisão iníqua, o Qatar impôs uma derrota acachapante às nações do bloqueio ao superar os impactos dessa ação criada para desestabilizar a economia qatariana. Rapidamente, o país encontrou meios para substituir os bens de consumo antes fornecidos pelos vizinhos.

O moderno porto de Hamad, inaugurado em setembro de 2017, desempenhou um papel fundamental ao abrir novas rotas para importação do material necessário para as obras de realização da Copa do Mundo de 2022, a qual os países do bloqueio planejaram sabotar.

A campanha midiática criada para demonizar o Qatar não encontrou nem mercado nem público consumidor, tendo como destino um fracasso humilhante. Com atitudes irresponsáveis, os países do bloqueio criaram uma fenda profunda no sistema do Conselho de Cooperação do Golfo, cujas consequências serão sentidas por várias gerações e cujos prejuízos afetam o tecido social.

Mesmo com os efeitos do bloqueio neutralizados, uma tragédia humanitária permanece: cidadãos qatarianos deportados e proibidos de entrar nos países bloqueadores, os quais ainda obrigaram seus cidadãos a deixar o Qatar sob ameaça de punição.

Estudantes qatarianos tiveram que abandonar os estudos em universidades desses países, e os enfermos foram expulsos dos hospitais. Famílias, filhos, esposas e maridos foram separados e proibidos de se comunicarem. Empresários qatarianos deportados tiveram suas empresas fechadas e perderam centenas de milhões de dólares.

Em uma iniciativa sem precedentes, a Arábia Saudita utilizou a peregrinação para Meca como instrumento de ameaça e chantagem, proibindo qatarianos de praticar seus cultos religiosos e visitar lugares sagrados. Tais ações são ilegais e uma perigosa violação das leis humanitárias internacionais, como reconheceram as organizações internacionais, incluindo o Comitê de Direitos Humanos da ONU.

Todos os convites ao diálogo feitos pelo Estado do Qatar foram recusados pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes, que insistem em obstruir os esforços de mediação conduzidos pelo emir do Kuait, o xeque Sabah al-Sabah. Esses dois países agressores trabalham para prolongar a crise, que pode afundar a região numa instabilidade de consequências irreversíveis.

Mohammed Al-Hayki

Embaixador do Qatar no Brasil desde 2012 e ex-diretor do Departamento de América e Europa do Ministério de Relações Exteriores do Qatar

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