Descrição de chapéu

Saída à italiana

Indicação de novo primeiro-ministro traz alívio por evitar a realização de novas eleições

Giuseppe Conte, após aceitar indicação do presidente para ser o novo premiê da Itália - Alberto Lingria/Xinhua

A queda de um primeiro-ministro e divergências para formar um governo não constituem propriamente novidade na Itália, habituada à volatilidade política e à rotatividade dos ocupantes do cargo.

A solução encontrada para o impasse da vez, embora longe de garantir estabilidade, ao menos desfaz temores de que viesse a emergir um governo abertamente disposto a retirar o país da União Europeia.

O imbróglio começou quando o presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou a indicação de Paolo Savona como ministro da Economia, justamente por seu euroceticismo —ele já classificara como "erro histórico" o país ter adotado a moeda única do bloco e falara da necessidade de um "plano B".

O gesto do chefe de Estado deixou patente a desconfiança com a coalizão formada após as eleições de março, na qual nenhum partido obteve maioria parlamentar.

Mais votados no pleito, a Liga, de direita nacionalista, e o Movimento 5 Estrelas, autoproclamado antissistema, se uniram e decidiram bancar como premiê o professor de direito Giuseppe Conte, um neófito na vida pública.

Este, porém, no intervalo de apenas quatro dias, renunciou à tarefa de montar seu ministério, em razão do veto a Savona.

Pois foram necessários outros quatro dias, somente, para Conte voltar a ser indicado para governar a Itália. Nesta quinta-feira (31), o presidente avalizou o gabinete, agora com outro nome para a economia: Giovanni Tria, cujas críticas ao europeísmo não despertam tanta preocupação nos mercados.

O acerto traz certo alívio por evitar a realização de novas eleições, em que as legendas com plataforma anti-UE poderiam ter um desempenho ainda mais expressivo.

Entretanto há razões para se recomendar cautela, dada a extravagância da aliança entre Liga e 5 Estrelas, na qual coabitam propostas como cortes de bilhões de euros em impostos e aumento de gastos com programas sociais.

Tudo isso, ressalte-se, num país cuja dívida pública chegou a 132% do Produto Interno Bruto em 2017, percentual que só ficou abaixo da convalescente Grécia (179%) entre as 28 nações do bloco europeu.

Compreende-se a insatisfação popular com a UE, em especial por causa da ajuda insuficiente ao governo italiano para lidar com o recente fluxo migratório oriundo do Oriente Médio e do Norte da África.

No tocante à economia, porém, cabe dizer que boa parte dos problemas italianos não nasceu por diretrizes de Bruxelas. Reconhecer esse fato e conduzir uma gestão que não se renda à faceta populista de seus fiadores estão entre os desafios do premiê Conte.

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