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Reginaldo Medeiros

Os 20 anos do mercado livre de energia

Setor tem números crescentes, mas avançaria muito com uma eventual aprovação da portabilidade da conta de luz

Usina Hidrelétrica São Simão, em Goiás
Usina Hidrelétrica São Simão, em Goiás - Divulgação - 9.ago.17/Cemig

O mercado livre de energia elétrica completa 20 anos de idade nesta segunda-feira (13), tendo muito a comemorar e com um horizonte ainda mais promissor. Afinal, no futuro, além de fontes de geração cada vez mais limpas, distribuídas e seguras, cada cidadão terá também mais liberdade, na forma do direito à portabilidade da conta de luz.

Hoje, esse direito é concedido apenas a uma minoria das empresas brasileiras.  Não obstante, 77% do PIB industrial do Brasil, cerca de 5.500 grandes consumidores, já obtêm sua energia do mercado livre, com destaque para o papel das comercializadoras que criam produtos diferenciados e adaptados ao perfil do cliente eletrointensivo. 

Deve-se ressaltar que o número de consumidores que se beneficia do livre comércio da energia elétrica poderá ser acrescido de mais 6.500 nos próximos anos, mesmo mantendo-se a restritiva legislação atual, com o aumento da oferta de energia.

Quando se compara com o universo de consumidores brasileiros, esse contingente é muito pequeno. Contudo, trata-se de um segmento com números fabulosos e crescentes. O mercado livre faturou R$ 100 bilhões de reais no ano passado, sendo que só a categoria comercializadores, representados em sua maioria pela Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), obteve uma receita de R$ 62 bilhões em 2017.

Não se trata de geração de receita somente para essas empresas. De fato, nesses 20 anos de existência, os comercializadores conseguiram reduzir o preço da energia elétrica em 23% para o setor produtivo nacional. Isso significa aproximadamente R$ 83 bilhões abatidos no Custo Brasil.

Tais resultados, embora muito expressivos, ficam modestos quando se vislumbram as oportunidades com a abertura crescente do mercado livre de energia. No momento, por exemplo, em que todos os 80 milhões de consumidores se livrarem dos grilhões das distribuidoras e do governo para a compra da sua energia, e tiverem a portabilidade da conta de luz, estima-se uma redução anual de R$ 12 bilhões nas tarifas pagas pelos brasileiros.

A portabilidade da conta de luz trará o consumidor para o centro das decisões do setor elétrico. Tirará o poder intervencionista do governo, representado pelos seus “eletrocratas”, que tantos custos desnecessários têm criados para os consumidores.

Desde 2015, a Abraceel apoia firmemente o PL 1.917, conhecido pela portabilidade da conta de luz, mas que, na verdade, trata de ampla reforma do mercado elétrico, aliás profundamente discutida por dois anos, antes e depois da Consulta Pública 33, do Ministério das Minas e Energia.

A abertura do setor pode gerar 420 mil novos empregos na economia brasileira, em função do menor preço da eletricidade e da competitividade do segmento produtivo. Em outras palavras, a abertura do setor significa mais produtividade para a economia brasileira, um dos maiores gargalos do crescimento do país.

Entre os países com algum grau de liberalização no setor elétrico, o Brasil é onde se exige o maior requisito para se tornar um consumidor livre. A chance para o país reverter essa situação é a aprovação do já citado PL 1.917. Ainda que oportuno, o projeto de lei é bastante conservador. Prevê, por exemplo, somente para 2028 a possibilidade da portabilidade da conta de luz para o consumidor residencial.

O que cabe ressaltar, para além das tecnicalidades e das defesas enviesadas de posições de mercado, é que as evidências apontam que o futuro do setor de energia elétrica caminha no sentido das fontes limpas, descentralizadas e seguras. Todas essas condições não podem ser plenamente atingidas sem a liberdade de escolha do consumidor.  

A portabilidade da conta de luz, portanto, ultrapassa a oportunidade de redução das tarifas e o cumprimento de um direito do cidadão. Trata-se de condição básica para que o Brasil trilhe o caminho do desenvolvimento sustentável.

Reginaldo Medeiros

Presidente da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia)

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