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Vaivém na Petrobras mostra falta de planos

Crise dos dividendos, que durou um mês e meio, mostrou que governo Lula tem ímpeto intervencionista e poucas convicções

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia - Pedro Ladeira/Folhapress

Desde o início de março e ao longo de um mês e meio, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) envolveu a si próprio e a Petrobras em tumulto gratuito, sem motivo relevante para o país —mas custoso.

A política menor, a falta de diretrizes claras, a indisciplina de altos assessores presidenciais e a ameaça de intervenções estatais indevidas baixaram o crédito da estatal e o da administração pública.

No dia 7 do mês passado, por ordem do presidente e de ministros, o Conselho de Administração da petroleira decidiu que não distribuiria aos acionistas o lucro remanescente de 2023.

Decisões dessa espécie devem levar em consideração o melhor interesse econômico das companhias, além de estatutos e leis. O que houve, no entanto, foi o intervencionismo tosco do Planalto, aparentemente devido à crença de que a estatal precisaria de recursos para investimentos mais ambiciosos.

Finalmente, na última quinta-feira (25), o conselho deliberou pela distribuição de 50% dos dividendos —o que beneficiará, em particular, o Tesouro Nacional.

Desde o início de 2023, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disputam o poder sobre a empresa. Ademais, Lula deseja que a petroleira colabore com um vago plano de política industrial, com mais aportes nas áreas de preferência do presidente da República.

As peripécias dos dividendos foram episódios mais agudos desses conflitos. Intrigas, ataques públicos e sabotagens evidenciaram a desordem político-administrativa.

O efeito imediato da baderna foi a desvalorização da companhia. As consequências mais difusas foram o descrédito extra do governo e o aumento da percepção do risco de intervenção na economia.

Dias antes do início da crise, Lula dissera que "empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo".

A intervenção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contribuiu para a contenção de danos. Haddad, além do mais, tinha interesse em nomear um conselheiro e no pagamento de dividendos, receita para o combalido Tesouro Nacional. Prates não foi demitido. Ameaças permanecem.

Silveira faz questão de dizer que Prates mudou de orientação e obedeceria mais agora aos desejos presidenciais. O ministro, que se oferece como a voz de Lula, perdeu algum poder no conselho, porém.

Resta saber o que pretende o presidente da República, ainda inconformado com a ideia de racionalidade econômica na Petrobras, direção que beneficia o país e, por consequência, o próprio governo. Os planos seguem obscuros.

editoriais@grupofolha.com.br

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