Descrição de chapéu
O que a Folha pensa violência

Violência vexatória

Abuso de força policial mancha país em pesquisa de violação de direitos humanos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

0
Agentes da Polícia Militar durante operação no bairro Alto das Pombas, em Salvador (BA) - Rafaela Araújo - 6.set.23/Folhapress

Provocam mais vergonha que surpresa as menções ao Brasil no documento "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo", divulgado nesta semana pela Anistia Internacional. A organização independente reúne dados conhecidos nessa seara, mas, como os põe em perspectiva comparada, consegue atribuir-lhes novo significado.

Desigualdade, racismo, violência de gênero, insegurança alimentar, baixa frequência escolar, perseguição a ativistas, privações impostas a povos indígenas e violações graves cometidas por agentes de segurança estão entre as mazelas que deixam o Brasil em destaque nesse relatório da infâmia global.

Em relação ao último ponto, Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, define como descontrolado o uso da força policial, sobretudo devido à falta de punições para abusos cometidos contra a população.

A organização chama a atenção para a situação de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia, estados que somaram pelo menos 394 mortes em operações policiais realizadas de julho a setembro de 2023. Não há como minimizar o escândalo representado por essa cifra num país distante de qualquer guerra.

Os óbitos, contudo, são apenas parte da história. Prisões arbitrárias, tortura e entrada ilegal em domicílios constituem outros elementos desse quadro, que ainda se completa com efeitos colaterais como a suspensão de aulas e consultas médicas devido a tiroteios.

Líderes políticos de diferentes origens ideológicas têm preferido se omitir diante desses abusos, como se as violações de direitos fossem resposta aceitável contra a criminalidade exasperante.

São difíceis os progressos da racionalidade ante o apelo populista da abordagem linha-dura. Foi o que se viu com Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo que resistiu a dar continuidade ao bem-sucedido programa de câmeras corporais no estado e acabou por se comprometer com o Supremo Tribunal Federal a seguir com a instalação dos aparelhos.

Não se trata de panaceia, mas é imperativo adotar medidas que tirem o país da posição vexatória em que se encontra.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.