Descrição de chapéu

Orçar na escassez

Próximo presidente contará com verbas minguantes para obras de infraestrutura

Receita calculada para o próximo ano é inferior à despesa não financeira em R$ 139 bilhões
Receita calculada para o próximo ano é inferior à despesa não financeira em R$ 139 bilhões - Fernando Frazão - 24.jul.12/Folhapress

Quatro anos atrás, o governo Dilma Rousseff (PT) enviava ao Congresso um projeto de Orçamento para 2015 compatível com o irrealismo da campanha à reeleição.

Estimava-se crescimento econômico de 3%, enquanto as projeções de analistas independentes rondavam apenas 1,2%. Pelo texto, a receita cresceria ainda mais, cerca de 7% acima da inflação, e permitiria generoso aumento de verbas para a educação e a saúde. Haveria, por fim, sobra de recursos para o abatimento da dívida pública.

A tradicional estratégia de produzir peças orçamentárias ficcionais para acomodar todo tipo de demanda política, administrativa e social —um costume suprapartidário no país— conheceu seus limites de maneira trágica.

Desnecessário recordar a extensão do engodo então perpetrado e suas consequências. Mas tal contexto ajuda a compreender a melhora forçada no planejamento e na gestão das contas do Tesouro Nacional, bem como as frustrações dela decorrentes.

No projeto que calcula a arrecadação e autoriza as despesas de 2019, recém-apresentado, não se acham boas notícias. O próximo presidente contará com verbas minguantes para obras de infraestrutura e outros investimentos; em alta, só pagamentos de salários do funcionalismo e aposentadorias.

A crítica eleitoreira atribui esse estado de coisas ao limite estabelecido em 2016 para o gasto federal, como se a remoção do instrumento tivesse o condão de produzir dinheiro — a receita calculada para o próximo ano é inferior à despesa não financeira em R$ 139 bilhões.  

Neste momento, o teto tem a utilidade crucial de fornecer ao mercado credor um horizonte para o reequilíbrio gradual das contas. Sem ele, o ambiente financeiro provavelmente estaria ainda mais conturbado pela incerteza.

Congresso e Executivo não mais dispõem do expediente de inflar as previsões de arrecadação para se verem livres da tarefa de estabelecer, entre infinitos pleitos, o que é prioritário e o que é possível.

Seria otimismo demais imaginar que o realismo orçamentário está consolidado. Entretanto o panorama de severa escassez tem ao menos o efeito pedagógico de forçar escolhas por muito tempo adiadas.

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