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Marta Olkowska

Polônia, Brasil e a cultura judaica

Em centenário da independência, país europeu busca resgatar sua história

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Bandeiras polonesas tremulam em cerimônia de comemoração dos cem anos de independência do país, em Varsóvia - Jaap Arriens - 11.nov.18/Xinhua
Marta Olkowska

O mês de novembro é significativo para a República da Polônia. Foi neste período, em 1918, que um reino ancestral, originado no século 10, cuja primeira Constituição foi promulgada em 1791, constituindo-se em um dos mais poderosos impérios do centro europeu, recuperava a sua independência, depois de viver mais de 120 anos sob domínio estrangeiro. 

É significativo também para o Brasil, pois os poloneses firmavam-se como uma das pioneiras correntes migratórias que chegavam ao país, desde as últimas décadas do século 19. 

Estimulados pelo imperador dom Pedro 2º, os poloneses foram chegando e se estabelecendo nas províncias do sul, principalmente. A proclamação da República, em 1889, trouxe mais gente. As relações se estreitaram de tal forma que, em 1907, na Conferência Internacional de Haia, o grande jurista e tribuno brasileiro Rui Barbosa defendeu, com garra e argumentos irretocáveis, a imediata liberdade do povo polonês. Desta vez a “Águia de Haia” não ganhou a causa, mas lançou as bases de uma amizade histórica. 

Onze anos mais tarde, com a rendição alemã na Primeira Guerra Mundial, a Polônia conheceu a independência. As relações entre os dois países se mantiveram, mesmo durante a dominação soviética. Em relação à Segunda Guerra Mundial, de todos os países envolvidos, a Polônia foi o que mais perdeu em vidas proporcionalmente à população total: mais de seis milhões de habitantes morreram, metade deles judeus, o que fez do país, individualmente, a maior vítima do Holocausto. 

O Brasil foi um dos países democráticos que, ao ser um dos primeiros a reconhecer a independência da Polônia, a ajudaram a se transformar numa democracia liberal que adota o sistema parlamentarista de governo e a ser uma nação onde o desenvolvimento econômico e social é constante.

 Ao comemorar cem anos de independência, o país assiste entusiasmado ao renascimento do interesse pela cultura judaica.

 Nos últimos anos, festivais de cultura judaica enriquecem os eventos culturais da Polônia, tais como o “Festival da Cultura Judaica”, na Cracóvia, e “A Varsóvia de Singer”. Lublin, cidade cuja história está inquestionavelmente ligada à vida da comunidade judaica que por quase 500 anos moldou suas tradições, promove, anualmente, “O Carnaval dos Magos”, baseado na obra do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, Isaac Bashevis Singer. Inaugurado em 2013, o Museu da História dos Judeus Poloneses , o Polin, restaura a memória da civilização criada pelos judeus poloneses ao longo de um milênio, desde a Idade Média até a atualidade.

 Tenho em minha memória imagens vibrantes das várias edições da “Varsóvia de Singer”, realizadas em agosto, em pleno verão polonês, com pessoas dançando nas ruas e saboreando comida kosher. No entanto, este momento nostálgico é interrompido pela triste lembrança de que, após a Segunda Guerra Mundial, inoculou-se a crença de que a Polônia é apenas um grande cemitério judaico, cuja única razão para conhecê-la é visitar Auschwitz – uma insensatez para com um país que por séculos acolheu milhões de judeus, que lá buscavam segurança.

Outra insinuação absurda é a de que os poloneses são antissemitas. A Polônia tem sido na Europa, e ao longo dos séculos, um porto seguro para os judeus perseguidos em outros países. Passeando pelas ruas de Varsóvia, Cracóvia ou Lódz, é fácil constatar que “não há história dos judeus sem a história da Polônia, assim como não há história da Polônia sem a história dos judeus poloneses”.

Marta Olkowska

Encarregada de Negócios da República da Polônia no Brasil

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