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Bibi em apuros

Primeiro-ministro de Israel será denunciado por corrupção e fraude, o que traz tumulto ao jogo político no país

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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu - Jack Guez/AFP
 

O anúncio feito pela Procuradoria-Geral de Israel de que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu será denunciado por corrupção e fraude traz considerável tumulto ao jogo político no país.

As acusações contra Bibi, como Netanyahu é conhecido, não constituem novidade. Há dois anos ele protagoniza três investigações distintas —duas tentam apurar se ele favoreceu empresas de comunicação em troca de cobertura favorável; a outra, se aceitou propina de empresários na forma de presentes caros (R$ 988 mil).

O que dá significado especial à disposição do procurador-geral, Avichai Mandelblit, de levar os processos adiante é a proximidade das eleições, marcadas para 9 de abril. O premiê, que nega as acusações e já afirmou que não renunciará, disputa seu quarto mandato consecutivo. Se eleito, deve atingir um recorde de permanência no posto.

Em condições normais, Netanyahu seria franco favorito, já que a economia vai bem e o país ainda obteve conquistas importantes no território diplomático, como o fim do acordo nuclear entre EUA e Irã e a decisão de Donald Trump de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Eleições em Israel, entretanto, raramente são normais.

A notícia da provável denúncia —o primeiro-ministro tem direito a uma audiência antes que ela se materialize— dá fôlego à candidatura do general Benny Gantz, que se aliou ao ex-ministro das Finanças Yair Lapid para formar uma coligação centrista, a Azul e Branco. Em algumas pesquisas eleitorais, Gantz já aparece à frente.

Acuado, Netanyahu respondeu a essas movimentações caminhando ainda mais para a direita. Mas ele pode ter exagerado.

Entre os partidos que convidou para sua coalizão está o Otzma Yehudit (poder judaico) —uma legenda com fortes tons racistas, cuja plataforma inclui anexar todos os territórios ocupados e expulsar os árabes que ali vivem.

Os líderes do Otzma são seguidores do rabino ultranacionalista Meir Kahane (1932-90), fundador do Kach, tão radical que foi proscrito de Israel nos anos 80 e passou a ser considerado uma organização terrorista pelos EUA em 1997.

Ao trazer a agremiação das franjas do radicalismo bizarro para o centro da arena política, Netanyahu deixa em situação desconfortável grande parte da diáspora judaica que o apoiava, bem como a parcela do eleitorado israelense que rejeita radicalismos.

Este é um grupo que vem encolhendo, mas que não deve ser desprezado numa eleição disputada.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​

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