Seja em São Paulo ou em Lima, a malária é uma doença invisível para quem vive nos grandes centros urbanos da América Latina. Embora ameace 130 milhões de pessoas em 18 dos 33 países da região, é comum que quem não esteja em áreas endêmicas desconheça o tamanho do impacto que a doença tem nas pessoas. Soa contraditório, mas para que possamos pôr um fim à malária, primeiro precisamos torná-la visível.
Hoje, Dia Mundial da Malária, temos uma grande oportunidade de mostrar o progresso alcançado e os desafios que ainda enfrentamos. Os casos da doença caíram 18% no mundo entre 2010 e 2017, com 20 milhões de infecções a menos. Na América Latina, vimos uma redução média de 60% em casos e mortes entre 2000 e 2015. Após um aumento recente, os primeiros meses de 2019 mostram que Brasil e Peru registraram uma diminuição de 60% em comparação a janeiro e fevereiro de 2018.
É importante celebrar quando há progresso no combate a uma doença que raramente aparece nas manchetes. Mas a malária continua a ameaçar a região, afetando principalmente as populações mais vulneráveis, as mais difíceis de alcançar com medidas preventivas, diagnóstico e tratamento adequado.
Com nove países, a Amazônia é onde se concentra a maioria dos casos. No Brasil, 99% deles estão nos estados amazônicos. A região de Loreto, na Amazônia peruana, é responsável por 98% dos casos deste país. Em 2017, as duas nações, junto com a Colômbia, contabilizaram cerca de 40% de todos os casos na região. A Venezuela, por conta da crise política, econômica e na saúde, responde sozinha por 53% de todos os registros latino-americanos.
Nossa experiência demonstra que o protocolo disponível para tratar a forma mais comum da doença na região, a malária Plasmodium Vivax (parasita protozoário), é um enorme desafio para populações em regiões remotas e comunidades indígenas. Não é raro encontrarmos pacientes no norte do Brasil que tiveram malária mais de dez vezes. Isso porque, após três dias de tratamento e se sentindo um pouco melhor, alguns pacientes param de tomar a medicação, impedindo a cura definitiva e contribuindo para a resistência a medicamentos.
Esses desafios reforçam a necessidade de melhores ferramentas, testes rápidos e medicamentos que façam a adesão avançar. Atualmente está sendo discutido um novo medicamento de dose única que encurtará o tratamento de sete dias de primaquina para apenas um. A tafenoquina, primeira droga para tratar a malária Plasmodium Vivax nos últimos 60 anos, já foi aprovada pelas agências reguladoras nos EUA e na Austrália e submetida à Anvisa.
A eliminação da malária na América Latina é possível, mas somente se adotarmos uma abordagem coordenada, transnacional e multifacetada. Este é o momento de reforçar essa luta, e os desafios que compartilhamos sublinham a importância da liderança e da cooperação entre países para mudar o status quo em seus territórios e para além das fronteiras. Só assim conseguiremos pôr um fim à malária de uma vez por todas.
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